A necessidade de obter equipamentos de laboratório de qualidade e baixo custo a nível técnico-superior, bem como a realização de experimentos para a busca de respostas sobre curiosidades cotidianas, por pessoas com todos os graus de formação, fazem parte da Biologia DIY. Sabemos que sem hardwares muitas vezes não fazemos ciência, bem como estes são de grande valia na análise de coletas, em experimentos e estudos em geral.
Biologia DIY (Do-It-Yourself)
Do português, “Faça você mesmo”, a biologia DIY é um movimento internacional, ainda em crescimento no Brasil, que visa a utilização de soluções tecnológicas de baixo custo para tornar a ciência e a biotecnologia mais democrática e acessível. Muitas vezes a Biologia DIY é referida como biohacking, o que não deve ser confundido com a ideia de “super-humanos” e implantes de melhoramento. Não pense também que a expressão “hacker” tenha conotação negativa nesse caso, ou que se aplique apenas a informática.
Originalmente, a chamada “cultura hacker” defende a livre circulação e acesso a tecnologia e ciência, e em seu sentido original este termo significa encontrar problemas em sistemas ou processos, a fim de corrigi-los e realizar modificações para obter novas funcionalidades ou melhorá-los.
As garagens ou porões das casas de pessoas dos mais diferentes níveis de graduação, variando desde doutores à iniciantes na área científica, podem ser os palcos para construção de laboratórios não convencionais, sendo os chamados biohacking labs, hackerspaces ou hacklabs. Este movimento está em alta no cenário das startups de biotecnologia, onde os biohackers podem ser movidos pela inovação e empreendedorismo.
“Alguns caras em uma garagem mudaram a tecnologia da computação. Será que em algum dia alguém em um porão transformará a biologia radicalmente também?”
Jack Feuer, Pesquisador da Universidade da Califórnia em Los Angeles, em um artigo.
Distribuição global de laboratórios
Atualmente, segundo uma organização de suporte a Biologia DIY, existem 42 laboratórios de biohacking nos Estados Unidos, 8 no Canadá, 40 na Europa, 8 na Ásia, 5 na Oceania e 6 na América Latina. Entre os laboratórios mais expressivos, destacam-se os estadunidenses BioCurious e Genspace, o neerlandês Bioartlab, o suíço Hackteria, e, por fim, o alemão Biogarage. Há ainda os laboratórios brasileiros Garoa Hacker Clube, SynTechBio e Synbio Brasil.
Códigos de Segurança
Além da busca por ciência, técnicas, equipamentos e laboratórios mais acessíveis, há um código de segurança entre biohackers. Pois não seria de se duvidar que muitos poderiam ter medo ou receio do que a utilização dessas técnicas poderiam se tornar e obter, devido ao potencial do biohacking, principalmente por se trabalhar com materiais biológicos. Estes códigos, contudo, ainda precisam ser unificados e levados a uma escala global.
Utilização da impressão 3D e o movimento Open Source
Na construção propriamente de equipamentos de laboratório, um importante item de um biohacker é, sem dúvidas, a impressora 3D. Com ela, é possível imprimir moldes e estruturas dos equipamentos, diminuindo muito o tempo de fabricação dos mesmo.
Para isso, ainda existem diversas comunidades na internet que criam e compartilham experimentos feitos com impressoras 3D, que podem ser amplamente utilizados em projetos de caráter Open Source, ou seja, de código aberto. Esses projetos consistem na demonstração do modo como o equipamento é montado, como são suas peças, protocolos e os códigos do software para que todos possam ter acesso e reproduzi-los.
Democratização da Ciência
Podemos notar o tamanho do potencial que esse movimento tem na democratização da ciência em todo o mundo. Torná-la mais acessível é de extrema valia em um país que necessita de um desenvolvimento na educação e na ciência, seja para os menores níveis escolares, alcançando estudantes de nível fundamental e médio, como para ensino, pesquisa e extensão em Universidades, ou até mesmo em startups e empresas juniores.
Segundo Joshua Pearce, pesquisador da Universidade Tecnológica de Michigan, com estas técnicas é possível “diminuir o custo de 10 a 100 vezes no preço de equipamentos para pesquisa científica”, além de que, a nível de ensino, é possível “construir um laboratório de 15 mil dólares por 500 dólares”. Ainda, segundo ele, “Este é o começo da verdadeira revolução na ciência”.
O nicho de aplicação do biohacking é volumoso, podendo até mesmo prevenir o sucateamento das Universidades e instituições de ensino. Quem sabe no futuro não poderemos ver crianças e jovens utilizando microscópios, espectroscópios, entre outros equipamentos, além de extraírem DNA de frutas ou mesmo o próprio DNA nas aulas de ciência. Sabemos que hoje a ciência na escola é restrita e existe principalmente nas instituições particulares, privando muitos jovens de terem um maior contato com a ciência.
Com inúmeras pessoas acreditando nas mais variadas falácias como que “vacinas não funcionam”, que “a Terra é plana”, que determinada receita ou dieta vai causar um “emagrecimento do dia para noite”, entre outras como “investir na ciência é jogar fora dinheiro público”, sabemos que precisamos democratizar a ciência, levando-a para toda e qualquer pessoa, independente de classe, região ou escolaridade. E, bem mais que isso, propiciar que as pesquisas nacionais não parem com a falta de verbas ou pequenos investimentos nesse momento crítico que estamos passando.
Além de investimentos em pesquisa e democratização da ciência, precisamos de uma ampla e confiável divulgação científica, assim como fazemos aqui, no Profissão Biotec. Acompanhe nossas publicações para saber mais sobre ciência e biotecnologia!