Além de ser uma das frutas mais consumidas pelos brasileiros, a banana já foi inspiração para adjetivos e séries de TV. Quem nunca disse para alguém “- Seu banana!’? E quem nunca ouviu a expressão (que remete à corrupção) “República das bananas”?
Brincadeiras à parte, os problemas que acometem a cultura da banana são crescentes. Pragas e doenças são motivo de ameaças constantes à produção dessa fruta.
Pragas
As pragas e doenças podem ser disseminadas de uma região para outra por meio do vento e pássaros, ou por vias criadas pelo homem.
As doenças fúngicas são os principais problemas fitopatológicos da bananeira. Em geral, fungos de diversas espécies podem infectar essa planta seu ciclo vegetativo ou produtivo em diferentes estruturas (raiz, pseudocaule, folha e fruto).
O mal-do-panamá é uma doença fúngica- restrita a determinada região geográfica – em todas as regiões produtoras de banana do mundo.
A doença surgiu na região indo-malaia, local de origem da banana do gênero Musa, afetou variedades suscetíveis, que mais tarde foram introduzidas na América, a partir da África. Acredita-se que o primeiro relato da doença tenha ocorrido por volta de 1874, no sudeste de Queensland, Austrália atacando a bananeiras da cultivar Maçã. Os primeiros prejuízos importantes foram relatados no Panamá em 1904, sendo esta a provável razão do nome mal-do-Panamá.
A raça 4, especificamente, é preocupante para a bananicultura de exportação do tipo Cavendish. Esta raça apresenta distribuição restrita, sendo encontrada em plantações das Ilhas Canárias, África do Sul, Austrália e Taiwan. Contudo apesar de anos de esforços preventivos, raça tropical 4 do mal do Panamá que devastou bananais no Oriente chegou às Américas.
A Raça Tropical 4 do mal-do-panamá é uma doença transmitida às bananeiras por um fungo do gênero Fusarium. Embora as bananas produzidas em solo contaminado não façam mal à saúde, as plantas contaminadas acabam interrompendo a frutificação, desta forma há uma queda na produção impactando o mercado interno e externo, preço da fruta.
Presença do TR4 na América
Em agosto de 2019, as autoridades colombianas do setor agropecuário confirmaram, por meio de de exames laboratoriais, a presença da chamada Raça Tropical 4 do mal-do-panamá em bananais na região costeira do Caribe. Foi decretado estado de emergência nacional simultaneamente ao anúncio. O fungo é letal e pode levar à extinção da cultura da banana no mundo, o que seria um desastre global.
Como, até hoje, nenhuma medida de controle biológico ou fungicida conhecido se revelou eficaz contra a TR4, a solução do problema pode estar na biotecnologia e no melhoramento genético.
Pesquisadores do mundo inteiro se dedicam a resolver debr este problema, mas até agora suas tentativas não atingiram os resultados esperados. O fungo resiste a diversos agentes químicos e engana os pesquisadores, adaptando-se às variações genéticas das plantas desenvolvidas em laboratório. Um dos caminhos que pesquisadores deverão seguir será tentar decifrar o genoma da banana para assim criar bananeiras mais resistentes.
O papel da Biotecnologia no melhoramento da Banana
Cerca de 10% dos genes ativos da bananeira foram identificados por pesquisadores brasileiros e franceses, no primeiro passo para decifrar o DNA da planta. O trabalho foi alcançado por meio da parceria entre a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a Universidade Católica de Brasília e o Cirad (Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento).
Por meio do estudo do transcriptoma da planta, já foram identificados 5.000 dos seus genes. A análise do transcriptoma avalia os genes realmente ativos, que chegam à forma de mRNA. Além disso já foram identificados 113 promotores – trechos de DNA que regulam quando e como os genes são ativados.
Com a informação genômicaos pesquisadores esperam ser capazes de introduzir os genes responsáveis pela resistência a doenças ou valor nutritivo extraídos de variedades mais rústicas, diretamente no DNA das variedades de bananas comerciais. Utilizando, assim, a chamada “intragenia”, ou seja, a adição de um gene da mesma espécie de um indivíduo a outro por meio de técnicas de engenharia genética. As variedades com essas modificações pontuais no DNA não seriam consideradas produtos transgênicos, pois não expressariam genes provenientes de outra espécie.
Conquistas no setor
A variedade banana Cavendish deve sua origem e seu nome a William Cavendish, um inglês que cultivava a planta em estufas. Foi descoberto em uma fazenda em Taiwan um clone da variedade Cavendish gigante que apresenta resistência ao fungo TR4. Essa variedade recebe o nome popular de formosana embora algumas plantas sejam infectadas pela doença a resposta ao tratamento é melhor, desta forma há esperança para alcançar a solução para o controle da doença.
Para a resistência ao TR4 ser eficiente, é recomendado que essa variedade seja cultivada em solos com uma boa drenagem e abastecimento de água. Essa variedade poderia ser a solução para acabar com a ameaça do mal-do-Panamá que vem trazendo preocupação para a bananicultura.
E embora algumas das plantas estejam com a doença, elas parecem mais fortes e mais capazes de lutar contra ela
A crise na bananicultura chegou… O que vamos fazer? Lamentar ou somar esforços científicos à procura de uma solução?
Referências:
ARAÚJO, Lucas Conceição; NASTARO, Marina; JULIÃO, Letícia (Org.). Encontrada variedade resistente ao TR4: BANANA FORMOSANA PODE SER SOLUÇÃO PARA MAL-DO-PANAMÁ. 2016. Disponível em: <https://www.hfbrasil.org.br/br/banana-pode-entrar-em-extincao.aspx>. Acesso em: 16 nov. 2019.
BORGES, Ana Lúcia et al. Banana Fitossanidade. Brasília: Copyright © 2000 Embrapa/ma, 2000. 121 p. Disponível em: <http://www.frutvasf.univasf.edu.br/images/banana1.pdf>. Acesso em: 16 nov. 2019.
JONATHAN LAMBERT (Reino Unido). Alarm as devastating banana fungus reaches the Americas. 2019. Doi: 10.1038/d41586-019-02489-5. Disponível em: <https://www.nature.com/articles/d41586-019-02489-5>. Acesso em: 16 nov. 2019
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PLANT PROJECT (Brasil). Plant Project (Org.). A luta para salvar as bananas. 2018. Disponível em: <http://plantproject.com.br/novo/2018/08/global-a-luta-para-salvar-as-bananas/>. Acesso em: 16 nov. 2019.
REINALDO JOSÉ LOPES (São Paulo). Folha de São Paulo (Org.). Brasileiros e franceses soletram 10% dos genes ativos da banana. 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2107200506.htm>. Acesso em: 16 nov. 2019.