Fonte: Coral Reef Information System
Mas afinal, o que é Biotecnologia Azul? É a utilização da rica biodiversidade escondida nos oceanos em prol do desenvolvimento de novos produtos, gerando inovação.
O diferencial dos organismos marinhos é o ambiente inóspito que habitam. A adaptação para sobreviver nesse ambiente extremo, com condições diferenciadas de pressão, temperatura, pH, iluminação, salinidade, oxigenação e a própria competição entre espécies em um ambiente pobre em recursos, acarretou a seleção de organismos com um arsenal diversificado de moléculas bioativas altamente potentes.
Além disso, o mar é apontado como a região menos explorada do planeta, embora os oceanos ocupem mais de 70% da superfície da Terra. Essa imensidão azul esconde inúmeras espécies e compostos bioativos, que hoje são acessíveis devido ao avanço de tecnologias de mergulho, de manipulação laboratorial e de biologia molecular. Isso transforma esse cenário promissor em realidade!
Os organismos e moléculas marinhas passaram a agregar no valor econômico e social, ganhando espaço cada vez maior na chamada bioeconomia.
TECNOLOGIAS
A inovação da Biotecnologia Azul está em todas as áreas:
– Agricultura: Utilização de organismos no controle microbiológico de pragas e na nutrição vegetal;
– Alimentação: Enzimas com potencial econômico extraídas de organismos marinhos como celulases, glucoses, lipases, entre outras. As algas marinhas ganharam espaço como nutrição funcional dada a sua composição química;
– Biocombustível: O biodiesel pode ser produzido a partir de óleo obtido de microalgas. Elas podem ser cultivadas no mar, ou em qualquer terreno com a estrutura necessária, ocupando espaço reduzido e apresentando uma produtividade superior em relação às plantas terrestres;
– Ambiental: Organismos marinhos, como bactérias, fungos ou algas, com capacidade de degradar petróleo. Outros exemplos são microrganismos capazes de descontaminar locais com metais pesados, enzimas como lipases para tratamento de efluentes de indústrias alimentícias e diversas outras;
– Cosmético: Enzimas presentes em tinturas, produtos depilatórios, alisantes de cabelo e inúmeras aplicações, podemos destacar a ação das queratinases. Tensoativos que podem compor a formulação de produtos como cremes, pomadas;
– Têxtil: Enzimas que auxiliam nos processos de fiação, tingimento e acabamento dos tecidos, podemos citar proteases, lipases, nitrilases. A grande vantagem é que, ao contrário dos tratamentos químicos e nocivos ao meio ambiente, estas são biodegradáveis;
– Farmacêutico: Podemos destacar algumas tecnologias revolucionárias que já estão ao nosso alcance:
– Analgésico para dores crônicas, o Prialt® – Elan Corporation, desenvolvido através da toxina do molusco marinho Conus magus;
– Primeiro fármaco licenciado para o tratamento contra o HIV-AIDS, o AZT, conhecido como Retrovir® – Burroughs Wellcome Co./GSK, isolada de uma esponja caribenha Cryptotethya crypta;
– Antitumoral, o Yondelis® – PHARMAMAR, foi obtido a partir do invertebrado Ecteinascidia turbinata;
– Anticancerígenos, o Cytosar-U® – Bedford Laboratories, desenvolvido a partir da spongotimidina, um nucleósido isolado a partir de uma esponja do mar das Caraíbas, a Tethya crypta.
Além desses vários outros produtos estão em desenvolvimento, como antibiótico contra bactérias multirresistentes. São infinitas as possibilidades dado o pouco que se conhece sobre a biodiversidade marinha.
NO BRASIL
O país apresenta uma vasta área marinha, com diferentes climas e biomas, aumentando ainda mais a biodiversidade, a chamada Amazônia Azul. Sabendo disso, o Brasil busca pesquisar e prospectar esse ambiente, visando a geração de novos produtos e tecnologias.
Podemos destacar alguns programas:
– O BIOMAR (https://www.mar.mil.br/secirm/portugues/biomar.html#acao) – Ação Biotecnologia Marinha, vinculada ao antigo MCTI – Tem como propósito fomentar o aproveitamento sustentável do potencial biotecnológico marinho.
– O BIOTECMAR (http://biotecmar.com.br/) – Rede Nacional de Pesquisa em Biotecnologia Marinha – Compreende 4 projetos interligados, visando desenvolver projetos inovadores nas áreas de biodiversidade, prospecção, genômica e pós-genômica e transferência para o setor produtivo. São 20 programas de pós-graduação envolvidos com nível de excelência pela CAPES (notas 6 e 7).
Além disso, destacamos a start up Regenera Moléculas do Mar, localizada no Rio Grande do Sul, que já foi anteriormente citada no nosso canal do YouTube na entrevista com o Mário Frota Jr. A Regenera possui a primeira e única licença especial do Ministério do Meio Ambiente para acessar, catalogar e manter uma coleção de amostras representativas da biodiversidade marinha brasileira. A empresa é focada em pesquisa e desenvolvimento a partir do ambiente marinho, obtendo novas tecnologias de forma sustentável.
MERGULHANDO
Fonte: Coral Reef
A Biotecnologia Azul busca valorizar a biodiversidade de maneira consciente, sem devastar ou prejudicar o meio ambiente. Ainda existem muitas novidades e tecnologias para serem descobertas para melhorar a vida em todos os níveis.
O biotecnologista tem papel crucial nesse aspecto, seja no ambiente acadêmico ou profissional: mergulhar e emergir com as inovações para a sociedade!
Fontes:
S o c i e d a d e Po r t u g u e s a d e B i o t e c n o l o g i a – S é r i e 2 – N ú m e r o 5 – Ju n h o d e 2 0 1 4 .
http://arabli.info/article/yondelis-devem-ser-registadas-na-ue-como-uma-droga-para-cancer-de-ovario
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252012000300013&script=sci_arttext