Biotecnologia e design thinking: uma combinação perfeita para a inovação em saúde

Quando pensamos em desenvolvimento de produtos, é natural darmos uma atenção especial à tecnologia e ao processo de produção, e repetirmos os experimentos e as nossas pesquisas várias e várias vezes até encontrarmos a fórmula mágica que vai dar o resultado esperado para os nossos artigos, certo? Sem dúvida esse é um dos modelos mais utilizados por nós, biotecnologistas, e por muitos outros pesquisadores e desenvolvedores de produtos do dia a dia. Mas será que estamos investindo nossos recursos e energia no que realmente faz a diferença?

Além disso, é normal esquecermos de uma peça-chave no processo de criação, um fator tão essencial quanto a própria razão da nossa solução ou produto final: o público-alvo, ou a persona, (expressão em latim usada para se referir a um modelo do usuário ideal da nossa criação). A persona nada mais é do que aquela pessoa ou grupo de pessoas que vai se beneficiar da solução, que vai comprá-la no supermercado e que vai recomendar para os amigos. Por essa falta de foco no usuário final, é comum que o produto precise passar por várias adaptações até chegar a esse cliente, podendo, em alguns casos, nem chegar ao consumidor, jogando anos de trabalho e dedicação na gaveta.

O desenvolvimento de produtos exige muito tempo de dedicação e recursos e, muitas vezes, a solução não chega ao consumidor.

Mas isso não é algo que ocorre somente no meio acadêmico e científico. Desde a primeira revolução industrial, muitos negócios e projetos das mais diversas áreas como Design e Engenharia passaram séculos investindo em formas de reduzir custos e aumentar a produção em massa e esqueceram a razão pela qual tudo era criado. Com as novas tecnologias, a grande concorrência e as inúmeras possibilidades que as pessoas obtiveram através da internet, muitos empreendedores, designers e inventores precisaram abandonar essa antiga visão e passaram a utilizar uma metodologia que permite não só olhar para as engrenagens de um projeto, mas também para quem realmente precisa dessa solução.

O design thinking é essa abordagem capaz de humanizar e aperfeiçoar o resultado final da pesquisa ou do produto biotecnológico, assim como de várias outras tecnologias e ciências. Com ela, é possível desenhar um mundo de possibilidades, baseado em uma análise profunda do contexto e das necessidades reais do público-alvo.

As etapas do design thinking podem, em geral, ser resumidas pelos seguintes passos:

1- Identificar onde encontrar oportunidades de inovação

Descobrir onde encontrar caminhos para inovar na pesquisa em saúde envolve conhecer a si mesmo e ao ambiente externo. Conhecer seus pontos fortes, suas habilidades como pesquisador e as ferramentas e recursos disponíveis para o trabalho, além de uma pesquisa prévia do que já existe no mercado e um olhar multidisciplinar te conduzirão às respostas para o primeiro ponto do design thinking.

Fonte: Freepik

2- Validação de hipóteses de problema e solução

Nessa fase o design thinking começa a ganhar corpo. Aqui, iremos começar a desenvolver o produto ou serviço, partindo não de pressuposições ou análises estatísticas frias (algo comum no mercado), mas a partir das necessidades e percepção de valor do público-alvo. Será que aquela ideia legal de projeto que nós temos é mesmo o que o usuário precisa? Entender esse ponto é importante para não investirmos nosso tempo e dinheiro para construir soluções para problemas que não são essenciais para o usuário.

3-  Brainstorming

Após validar as suas hipóteses de problemas e soluções com o seu consumidor final, é necessário definir o problema a ser resolvido e partir para a ideação. Talvez uma das etapas mais legais na abordagem do design thinking, o brainstorming significa uma tempestade de ideias. Nessa etapa o ideal é se reunir com a sua equipe de trabalho e deixar o processo criativo fluir. Uma boa dica para se ter bons insights e ideias criativas é buscar experiências diversificadas e não apenas especializadas na sua área de preferência. Confira outras dicas para aguçar a criatividade com Murilo Gun clicando aqui.

Fonte: Freepik

4- Teste suas ideias de forma simples

Um Produto Mínimo Viável (MVP, do inglês Minimum Viable Product) é uma bela dica do que se pode fazer nesse item. Para quem não sabe, essa ( é a versão simplificada de um produto, muito utilizada em startups, que pode ser lançada em período de testes, para verificar, sem grandes gastos, se sua ideia realmente atinge as necessidades do seu consumidor final.

É importante lembrar que, no caso de soluções para a área médica como alguns métodos de diagnósticos, o MVP ou protótipo não irá gerar um produto pronto para entrar no mercado, já que é necessário fazer todos os testes exigidos pelas agências regulatórias como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para garantir a liberação e a segurança de uso para os consumidores, mas sim, uma prova de conceito, para avaliar se aquela solução que foi gerada é válida e viável, ou não.  

5- Implementar a solução

Após testes com respostas positivas acerca de seu produto, ele já pode passar por todos os processos necessários para se chegar ao produto final. Além disso é importante entender que o processo de desenvolvimento do produto é contínuo e incremental, ou seja, sua ideia irá ser melhorada permanente através um processo de copartipação entre todos os seus stakeholders (clientes, fornecedores, colegas de laboratório, etc.) além dos próprios resultados gerados ao longo do processo que vai da bancada à indústria.

Alguns exemplos de sucesso da sua aplicação podem ser vistos em diversos projetos de inovação, como no TEDx. De acordo com Friedman (2011) o design thinking tem sido utilizado há anos para criar novas ferramentas ergométricas e para sistemas de contagens de células, de acordo com as necessidades de pesquisadores e com a prática clínica. Outro exemplo de inovação na área farmacêutica é a plataforma My-med, criada pelo médico Rajiv Shah. O objetivo da plataforma é conectar profissionais da área clínica com pacientes que não podem se deslocar longas distâncias ou que precisam de acompanhamento contínuo. Saiba um pouco mais sobre o case da empresa no TEDx.

Como experiência própria na startup que ajudei a fundar, a HY! Biotech, conseguimos utilizar essa valiosa ferramenta para reduzir de forma considerável o custo de produção do nosso primeiro produto para queda de cabelo e calvície, o Magis Capilli e desde então, temos implementado o design thinking como uma forma de compreender as necessidades e dores dos nossos clientes e produzir soluções inteligentes e acessíveis.

Embora ainda sejam poucos os projetos que aliem biotecnologia e design thinking, é evidente a relevância desta ferramenta para construir novos projetos inovadores, principalmente na área da saúde, podendo, por exemplo, ser essencial para a criação de biofármacos com menor risco de efeitos colaterais e maior precisão, e até mesmo para a medicina personalizada.

Com os avanços da Medicina, da Inteligência Artificial e da Biotecnologia, as próximas fronteiras a alcançar  envolvem a humanização e a personalização de serviços e produtos. E aí, alguma dúvida de que essa combinação pode dar certo?

Caso tenha interesse e curiosidade, conheça mais sobre o design thinking por meio  dos links a seguir:

https://blog.logodesignguru.com/15-ted-talks-inspire-design-thinking/?noamp

https://www.ted.com/talks/tony_fadell_the_first_secret_of_design_is_noticing?language=pt-br

Fontes:

https://endeavor.org.br/design-thinking-inovacao/

https://www.youtube.com/watch?v=9Qyy4UmINvM

https://www.napratica.org.br/design-thinking-o-que-como-funciona/

Referências:

FRIEDMAN, Y. Applying design thinking to biotechnology. Journal Of Commercial Biotechnology, [s.l.], v. 17, n. 1, p.1-1, fev. 2011. ThinkBiotech, LLC. http://dx.doi.org/10.1057/jcb.2010.33.

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alina
6 anos atrás

Muito Interessante seu site.Gostei muito e vou acompanhar toda semana as novidades.

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O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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