A Biotecnologia é uma ciência interdisciplinar que está em alta na sociedade moderna, se faz presente em nosso cotidiano e sempre está sendo comentada na mídia. O seu rápido progresso, dia após dia, nos bombardeia com novidades que atingem diversos setores importantes, além de dar oportunidade para que tenhamos um pensamento crítico a respeito de suas aplicações.
A equipe do Profissão Biotec se preocupa em divulgar a biotecnologia para todas as camadas da população, como estudantes do ensino básico, graduandos, diferentes profissionais e entusiastas da ciência. Considerando que, principalmente no ensino médio, os alunos se deparam com diversos conhecimentos que os direcionam para escolher a futura profissão, é interessante saber qual é o cenário do ensino e divulgação da biotecnologia nas escolas.
Neste texto, vamos trazer um panorama sobre a importância do ensino da biotecnologia nas escolas, a percepção dos alunos, a formação de professores e outras questões que podem ser refletidas.
O ensino de Biotecnologia
Com a reformulação do ensino médio, a área das Ciências da Natureza e suas tecnologias (biologia, física e química) traz uma abordagem interdisciplinar que justifica a inclusão de conteúdos da Biotecnologia na sala de aula. Na última década, por exemplo, diversos vestibulares e o ENEM vem adotando questões que envolvem conhecimentos na área.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) indicam que é imprescindível proporcionar aos alunos conhecimentos biológicos e tecnológicos que promovam a compreensão e participação destes em debates contemporâneos. No ensino básico (escolas públicas), a adição da biotecnologia nos livros didáticos é recente, em especial durante o ensino médio, e o tema aparenta ser abordado de forma parcial pelos professores.
A biotecnologia ainda é vista com pouco destaque e sua importância passa muitas vezes despercebida. Alguns levantamentos, realizados em escolas públicas, apontam que a percepção dos alunos do ensino fundamental e médio sobre a biotecnologia é bastante deficiente. Apesar do tema estar inserido como parte dos componentes curriculares de ciências e biologia, os alunos não detêm um entendimento básico a respeito da importância da biotecnologia.
No Brasil, um estudo em 14 escolas públicas do estado da Paraíba demonstrou que mais de 70% dos alunos do ensino médio relataram não terem estudado biotecnologia e não sabiam responder corretamente o conceito do tema. Ainda, cerca de 60% dos alunos não tinham conhecimento das aplicações da biotecnologia. Por mais que o estudo esteja concentrado em um só estado, os resultados trazem as seguintes questões: será que o ensino da biotecnologia é feito em segundo plano e superficialmente no ensino básico brasileiro? Os professores têm conhecimento suficiente para apresentá-la aos alunos? Quais seriam os desafios e alternativas para melhorar o ensino da biotecnologia nas escolas?
Formação de professores e projetos escolares
Um dos desafios dos professores que lecionam no ensino básico é ter conhecimento a respeito da biotecnologia e recursos para que esta seja apresentada de forma adequada e esclarecedora aos alunos. Além disso, o ensino do tema permite que o professor junto aos alunos tenha a capacidade de desenvolver um pensamento crítico a respeito de questões éticas que envolvem o uso da ciência pela sociedade.
No entanto, muitos professores do ensino básico, que atuam nas áreas de ciências e biologia, não tiveram em sua formação a abordagem deste tema e podem estar desatualizados a respeito das tecnologias modernas que são utilizadas na biotecnologia como engenharia genética, clonagem, transgênicos, terapia gênica, edição de genomas, sequenciamento de DNA, entre outros. Uma forma de cobrir essas deficiências é a elaboração de projetos de formação continuada para atualizar professores sobre a temática. A Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro – Fundação CECIERJ, por exemplo, apresenta essa possibilidade.
Outro problema, muito relatado pelos professores, é a ausência de carga horária suficiente para abordar o tema biotecnologia e suas diversas aplicações. Nesse caso, uma alternativa é a oferta de disciplinas eletivas ou que fazem parte do itinerário formativo da grade curricular da escola, onde há a possibilidade de aprofundar melhor na temática em questão. No estado de São Paulo, por exemplo, já é comum a oferta de disciplinas como “manipulação de genes” ou “ciência, tecnologia e ética” como parte do itinerário formativo, as quais têm tudo a ver com a biotecnologia.
Vale ressaltar, também, que com a nova reforma do ensino médio, as escolas estão abrindo espaço para outros profissionais que não sejam licenciados em biologia, sendo que estes podem atuar em disciplinas de base tecnológica, como as citadas acima.
Métodos de ensino nas escolas
Ensinar biotecnologia exige que o professor traga uma abordagem interdisciplinar para a sala de aula e instigue os alunos a resgatar conceitos vistos previamente em diferentes áreas (genética, química, física, biologia celular e filosofia) para que as conexões sejam estabelecidas. O professor, também, deve estar preparado para estabelecer debates a respeito de aspectos éticos e filosóficos que permeiam o tema.
Se a escola detém laboratórios de ensino de ciências, o professor pode elaborar algumas práticas que aproximem os alunos da Biotecnologia. Um exemplo é realizar com os alunos a extração do DNA de frutas como morango ou banana utilizando materiais fáceis de se obter. O professor, também, pode levar alguns alimentos (de fácil acesso) ou produtos que são produzidos por algum processo biotecnológico. Outra atividade interessante que pode ser adotada é a construção de modelos didáticos com materiais simples, como a molécula de DNA, estrutura de vírus e bactérias.
Conexões com universidades para que a escola possa agendar visitas a laboratórios de pesquisa ou convidar profissionais da biotecnologia para falar a respeito de temas específicos pode ser enriquecedor para o ensino da biotecnologia. Além disso, essa interação permite expandir a questão da divulgação científica para além da universidade e coloca os alunos em contato com o cotidiano de um profissional de biotecnologia, o que pode ser decisivo para que alguns se identifiquem e sigam nessa área.
Outra forma que pode auxiliar no ensino da biotecnologia nas escolas é acessar materiais ou propostas pedagógicas disponíveis on-line. Ainda que escassos, algumas universidades, como a UFMG e Universidade de Caxias do Sul, apresentam e-books que podem orientar e fornecer ideias para os professores.
Profissão Biotec e a linguagem acessível
Não poderíamos deixar de comentar que além de todas as questões levantadas ao longo do texto, a equipe do Profissão Biotec também trabalha para que a biotecnologia seja divulgada da forma mais acessível, de forma que professores e alunos consultem o nosso conteúdo diverso, seja por textos, vídeos no Youtube ou postagens dinâmicas na página do Instagram (@profissaobiotec).
O ensino da biotecnologia pode ser uma ferramenta poderosa para que os alunos consigam integrar todos os conhecimentos dos diversos componentes curriculares presentes na grade escolar. Além disso, o ensino desta temática desperta um empoderamento dos alunos quanto a importância da biotecnologia na sociedade, instigando à formação de um pensamento científico e tecnológico que é essencial para o desenvolvimento humano integral.
Cite este artigo:
ABREU, F. C. P. Biotecnologia nas escolas: uma necessidade. Revista Blog do Profissão Biotec, v.10, 2023. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/biotecnologia-nas-escolas-uma-necessidade/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências
ALVES, Leonardo Carvalho; COSTA, Heron Salazar; LIMA, Renato Abreu. Ensino de Biotecnologia para Estudantes no Ensino Fundamental em uma Escola Pública no Sul do Amazonas. Revista de Ensino, Educação e Ciências Humanas, v. 22, n. 4, p. 451-458, 2021.
DE LIMA, Jairo Ribeiro; SANTOS, Luis Fernando Marques. A Biotecnologia no cotidiano escolar do ensino médio: análise da percepção dos estudantes. Revista de Ensino de Biologia da SBEnBio, p. 260-276, 2022.
FONSECA, V. B.; BOBROWSKI, V. L. Biotecnologia na escola: a inserção do tema nos livros didáticos. Revista de Ensino de Ciências e Matemática, Canoas, v. 17, n. 2, p. 496-509, mai./ago. 2015. Disponível em: http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/acta/article/view/1231 . Acesso em: 16 de fevereiro de 2023.
MALAJOVICH, M. A. O ensino de Biotecnologia. Rio de Janeiro, 2017.
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