Confira os assuntos relacionados a biotecnologia abordados no Web Summit 2019 em Lisboa, desde palestras na área até start-ups.

No ano de 2011 ocorreu a terceira edição do Web Summit, na cidade de Dublin,  Irlanda. Nessa edição participava o cofundador da Uber, Travis Kalanick. Ele passou o dia fazendo pitchs para conseguir investimento para a empresa, sem grandes sucesso. Em uma das noites do evento, num momento de Happy Hour no pub mais famoso de Dublin – o Temple Bar – Travis, entre uma cerveja e outra, conheceu o investidor americano Scott Stanford.

Ao irem embora, depois de  algumas cervejas e muita conversa, Travis comentou como seria melhor se pudessem pedir um táxi rapidamente pelo celular, após perceber quanto tempo demoraram para conseguir o meio de transporte… Scott concordou, adicionando  que seria uma ideia que geraria valor para muitas pessoas. Pouco tempo depois  a empresa de Scott, a Sherpa Ventures, investiu 37 milhões de dólares na UBER. A empresa só cresceu depois disso.

Fonte: https://gph.is/g/aejj2kq

É nítido por essa história que o Web Summit é mais que uma conferência de tecnologia – é um evento para conhecer pessoas de diferentes áreas, fazer contatos e principalmente conhecer novas tecnologias. Claro que a biotecnologia não poderia ficar de fora deste grande evento! Confira neste artigo como ela esteve presente no Web Summit 2019, realizado na cidade de Lisboa, em Portugal, nos dias 4 a 7 de novembro.

Visão do palco central do Web Summit 2019. Fonte: flickr.

Conferências

O Web summit é dividido em diversas mini conferências – no total vinte e duas – que vão desde moda até ciência. As conferências que mais abordaram assuntos relacionados à biotecnologia foram a DeepTech, que trazia assuntos como novas tecnologias baseadas em pesquisas científicas, e a HealthConf, que falou sobre saúde e biotecnologia.

Como são quatro dias de eventos simultâneos, este artigo será mais focadonas palestras da Health Conf. Ao final confira também algumas start-ups com tecnologias inovadoras.

Health Conf

 A conferência teve início na manhã do dia 7 de novembro, com a palestra de abertura de Ariel Garten, Diretora Executiva da empresa Muse™ the Brain Sensing Headband. Sua palestra tratou de um sensor (eletroencefalograma ECG), desenvolvido pela empresa, acoplado à uma fita em torno da cabeça que pretende auxiliar na concentração e relaxamento.


Exemplo da pulseira Muse em ação e o aplicativo usado para auxiliar na meditação. Fonte: Muse.

A segunda palestra do dia foi sobre o tema “É possível um mundo sem doenças para todo o mundo?. Os convidados desta palestra foram Trevor Martin, Diretor executivo da Mammoth Biosciences (a primeira empresa do mundo a criar uma plataforma utilizando CRISPR para detecção de doenças), e o Dr. Amir Barsoum, criador da Veezeta.com, empresa que auxilia pacientes do Oriente Médio e da África a conseguirem serviços de saúde de qualidade.

A discussão girou em torno de como as novas tecnologias estão ajudando a detectar mais rápido e a tratar doenças de maneira mais eficiente. Ao final da palestra, o público foi desafiado a refletir  se seria possível, em 10 anos, conseguirmos tratar todas as doenças do mundo. A plateia ficou dividida – porém os palestrantes afirmaram estarem otimistas de que isso irá acontecer.

O palco da Health Conf. Fonte: arquivo do autor.

A terceira palestra do dia teve como tema o espaço. Foram convidados o professor de biologia evolutiva Scott Solomon, a psicóloga clínica Marianne Brandon, e o professor de psicologia Ian Robertson.

O debate girou em torno de como a humanidade irá se adaptar à vida no espaço,  como o corpo humano pode se adaptar em diferentes condições e de que maneira isso pode levar a novas habilidades. Quando foram questionados se epidemias poderiam acontecer no espaço, os cientistas afirmaram  que essa possibilidade existe em qualquer ambiente isolado.

Palestrantes debatendo a vida no espaço. Fonte: arquivo do autor.

A quarta palestra do dia foi a apresentação  de um produto inovador desenvolvido pelo PhD Nevada Sanchez, cofundador da Butterfly Network. Durante seu doutorado no MIT, o pesquisador desenvolveu um ultrassom portátil, que se conecta em qualquer celular para ver a imagem em tempo real. Sim, você escutou isso mesmo! Aqueles aparelhos enormes, que vemos somente em hospitais e clínicas, com a tecnologia criada por Nevada podem ser levados facilmente para qualquer local do mundo (confira no vídeo abaixo). 

Após ver esse equipamento em ação, entendi que cada vez mais a tecnologia está minimizando aparelhos e tornando-os portáteis – mais uma tendência para se ficar de olho.

Ultrassom portátil e a  imagem gerada no celular. Fonte: Butterfly network.

No último debate do dia tivemos um tema que está em alta no momento: os wearables.  São dispositivos que utilizamos “como vestimenta”, como, por exemplo, relógios inteligentes, sensores e outras tecnologias. Os convidados foram Wai Lee, gerente de desenvolvimento de produtos da Garmim, empresa que desenvolve relógios inteligentes com diferentes aplicações esportivas, e Kate Rosenbluth, criadora do Cala Health, um relógio que auxilia no tratamento de tremores (confira no vídeo).

O bate-papo girou em torno de como os wearables estão mudando a forma como o ser humano interage com a tecnologia, principalmente quando se consegue quantificar de uma maneira simples o batimento cardíaco, as calorias queimadas e os passos andados. Outro ponto levantado foi o fato de que  os consumidores querem utilizar wearables que sejam bonitos, mas não chamem tanta atenção.

Relógio que ajuda na diminuição do tremor. Fonte: Cala Health.

Start-ups em destaque

Um dos principais momentos do Web Summit são as start-ups, que vão apresentar os seus produtos e serviços durante o evento. As start-ups são classificadas pelo Web Summit em três categorias:

  • Alpha: empresa no estágio de pré-investimento ou que tem menos de US$ 1 milhão em financiamento;
  • Beta: empresa lançada com sucesso, e geralmente é uma alusão ao Web Summit;
  • Growth: empresa que está experimentando um crescimento considerável e se expandindo globalmente. Geralmente já levantou mais de US$ 3 milhões.

Irei separar as start-ups que tive contato durante o evento em duas categorias, biotecnologia ambiental e biotecnologia médica.

Bem, vamos a elas!

Biotecnologia Ambiental

Biosolvit

Start-up brasileira sediada no Rio de Janeiro, tem como objetivo desenvolver produtos ecológicos para limpeza tanto de águas como de vasos de plantas feitos de cascas de palmeiras.

O seu produto mais famoso é o absorvedor orgânico BioBlue.

Shimejito

Fundada pelo brasileiro Adriel Rodrigues Oliveira e atualmente sediada na cidade do Fundão em Portugal, a start-up desenvolve o conceito de agricultura 4.0 e fazendas urbanas. Produz cogumelos de uma maneira descentralizada, utilizando como substrato resíduos industriais que vão  desde a borra de café até a palha. Ao cultivar o cogumelo, também produz biofertilizantes para o agronegócio.

Fluxograma de produção da Shimejito. Fonte: Shimejito.

Biotecnologia Médica 

Aida Diagnostics


Logo da empresa Aida Diagnostics

O AIDA Diagnostics é um software baseado em algoritmos de aprendizado de máquina que otimizam as transfusões de sangue em hospitais. Tem como objetivo diminuir a quantidade de sangue desperdiçada no processo de gestão de sangue total com o uso de inteligência artificial, otimizando o uso, o armazenamento e a logística de reagentes sanguíneos, gerando economia para as instituições de saúde.

Atlas Biomed

A Atlas Biomed é uma empresa de medicina personalizada, que aplica as mais recentes tecnologias genéticas para ajudar as pessoas a melhorarem a sua saúde. Com dois testes disponíveis, o teste genético e de microbioma, a Atlas oferece uma plataforma online para acessar os resultados dos dois testes (figura abaixo).

Na esquerda a caixa do teste de DNA e a direita o teste de microbioma. Fonte: Atlas Biomed.

B-culture

Dispositivo para imitar a osteoartrite para testes. Fonte: B-culture

A B-CULTURE é uma empresa líder em tecnologia e serviços avançados para testes de drogas em 4D, oferecendo soluções personalizadas para as indústrias farmacêutica e cosmética.

Conta com a tecnologia de modelo osteoartrítica, que utiliza amostras humanas que integram cartilagem e osso subcondral para modelar as duas regiões fenotípicas da doença, criando dois ambientes numa única câmara dupla, pronta para testar medicamentos.

Coimbra Genomics 

Empresa Portuguesa que desenvolveu uma plataforma inteligente para ajudar médicos e pacientes a escolherem o melhor teste de DNA. Com a plataforma ELSIE, o médico pode auxiliar o paciente a escolher o teste mais adequado e também mantém em segurança os dados do paciente.

Draper

Os laboratórios Draper foram, durante 80 anos, utilizados como empresa pública que realizava pesquisa e desenvolvimento para o exército americano. Atualmente desenvolvem tecnologias que vão desde a tecnologia espacial até a tecnologia médica.

A tecnologia médica que mais chama atenção na Draper é o desenvolvimento do equipamento que separa os componentes celulares do sangue e deixa pronto para a terapia celular e genética.

Explicação do aparelho desenvolvido pela Drapper

HeartKinetics

Esta empresa desenvolveu um sistema de monitoramento cardíaco que ajuda no tratamento diário. Projetada para dar suporte a tratamentos cardiológicos, a tecnologia da HeartKinetics permite que os seus pacientes com insuficiência cardíaca monitorem facilmente o seu coração.  Isso permite um acompanhamento regular e melhora a sua qualidade de vida diária.

Tecnologia da HeartKinetics.

MicroViable therapeutics

Logo da empresa Micro Viable therapeutics.

Empresa espanhola que, além de fazer análise de microbioma, tem como diferencial fazer o armazenamento do  mesmo. Isso pode ser útil nos casos em que uma pessoa tenha um problema intestinal e precise de reposição.

Kresk

Start-up portuguesa que utiliza a inteligência artificial para acompanhar com precisão o volume de estruturas cerebrais e tumores, incluindo volume cerebral total, hipocampo e ventrículos. Mede automaticamente os volumes tumorais: regiões ativas, necróticas e edema.

Imagem do mapeamento do cérebro humano. Fonte: Kresk.

O que levar para casa?

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Bem, foram quatro dias de muito aprendizado e conexões com pessoas de todas as partes do mundo interessadas em tecnologia e conhecimento. A área de biotecnologia teve grande destaque e se mostra como uma tendência de crescimento para o próximo Web Summit.

Você pode participar do evento de duas maneiras: comprando o ingresso (cerca de 600 € ou R$ 2.782,00) ou se inscrevendo como voluntário. Neste link você pode se inscrever para trabalhar 18 horas no evento e ganhar o ingresso.

E aí, quem se anima para participar do Web Summit 2020? 

Texto revisao por Letícia Cruz e Ísis Venturi


Sobre Nós

O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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