Conheça mais um país da nossa série Biotecnologia pelo Mundo: Holanda.
A Holanda ocupa uma área de 41.543 km² e possui 17 milhões de habitantes, sendo o equivalente ao estado do Rio de Janeiro. Como a maior parte do país está situada abaixo do nível do mar, os holandeses têm em seu DNA a habilidade para criar tecnologias principalmente relacionadas à água, agricultura e energia. O país ocupa o quarto lugar no mundo em inovação segundo a classificação da Global Innovation Index 2019.
Além disso, possuí:
- Localização estratégica privilegiada na Europa;
- Bom clima para negócios internacionais;
- Ótima infraestrutura;
- Incentivos fiscais;
- Força de trabalho multicultural;
- Ambiente criativo e inovador;
- Ecossistema de startups mais conectado da Europa;
- Excepcional qualidade de vida.
SETOR DE DESTAQUE
O setor de destaque em biotecnologia da Holanda é com certeza o de Ciências da Vida e Saúde; são mais de 409 empresas de biotecnologia só nesta área. As empresas holandesas ocupam posições fortes nas áreas de imagem molecular, informática médica, biofarmacêutica, vacinas humanas e veterinárias, medicina regenerativa e biomateriais, tecnologia médica e infraestrutura de saúde.
O segundo setor em destaque é o da agroindústria e alimentos, mas vamos dedicar este artigo ao setor de Ciências da Vida e Saúde.
SETOR | |
AGROBIO | 7% |
BIOINFORMÁTICA E BIOELETRÔNICOS | 4,8% |
CONTRATO DE PESQUISA E FABRICAÇÃO | 12,6% |
COSMÉTICOS | 1,3% |
DIAGNÓSTICOS | 16,1% |
SISTEMAS DE ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS | 2,9% |
MEIO AMBIENTE | 1,3% |
ALIMENTOS E NUTRACÊUTICOS | 5,2% |
GENÔMICA E PROTEÔMICA | 7,1% |
BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL | 1,7% |
OUTROS SERVIÇOS | 23,1% |
TERAPÊUTICOS | 13,6% |
VETERINÁRIA | 3,4% |
TOTAL | 100% |
Porcentagem de empresas de biotecnologia holandesas por setor. Fonte: Invest in Holland.
UMA FORÇA EM CIÊNCIAS DA VIDA & SAÚDE
Os holandeses são pioneiros em novas soluções médicas, graças aos seus institutos de saúde e pesquisa de classe mundial. Eles participaram da invenção do primeiro microscópio, do primeiro aparelho para diálise renal e do desenvolvimento da tecnologia de organóides, miniaturas de órgãos, em laboratório para uso em pesquisa.
A Holanda possui o ambiente de Ciências da Vida e Saúde mais atraente e inovador da Europa. Em 2016, o país investiu € 730 milhões em pesquisa e inovação no setor de Saúde, gerando um valor econômico de € 3300 milhões por meio da geração de empregos, investimento de capital estrangeiro e exportações. Hoje, conta com 2900 empresas em Ciências da Vida e Saúde, sendo 420 empresas de biofarmacêuticas, 117 de “MedTech” e 40 Farmacêuticas.
Parcerias público-privadas com foco na ciência, formadas pela indústria, organizações de pacientes e governo, também são um componente-chave da liderança em biotecnologia do país. Atualmente, existem 50 dessas parcerias trabalhando para as mais recentes inovações em oncologia (Onco De), medicina regenerativa (Regmed XB) e muito mais.
A Holanda se destaca como o quarto melhor grupo biofarmacêutico da Europa, segundo o ranking anual europeu da Genetic Engineering & Biotechnology News (GEN). Este ranking classifica os grupos biofarmacêuticos com base em vários fatores, incluindo financiamento público de pesquisa,capital de risco, patentes, número de empresas e números de empregos.
A GEN atribuiu a alta posição do país a vários fatores. Isso inclui a mudança da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para Amsterdã, bem como o alto número de empregos na indústria biofarmacêutica (65400), subsídios (2772) e patentes (178 concedidas e 497 pedidos em 2017).
CIDADES HOLANDESAS DESTAQUE EM CIÊNCIAS DA VIDA E SAÚDE
1 Amsterdã
Dentre as 409 empresas de Biotecnologia em ciências da vida e saúde, 144 delas estão situadas em Amsterdã. Algumas “Spin Offs” de universidades se destacam, como Agendia, T-cell factory, Scenic Biotech, AIMM Therapeutics, UbiQ e Big Data Hub. Além disso, Amsterdã possui:
- Forte infraestrutura científica;
- Duas universidades, dois UMCs (“University Medical Centers”) e vários institutos internacionais líderes de pesquisa como o NKI-AvL;
- Quatro “parques científicos”, sendo eles:o Kenniskwartier, o AMC Medical Business Park, o Antonie van Leeuwenhoek e o Amsterdam Science Park;
- A maior população estudantil e de pesquisa da Holanda;
- Alta qualidade de pesquisa científica básica e médica aplicada;
- Referência em oncologia, neurociência e fotônica.
2. Leiden
Leiden é conhecida pelo Leiden Bio Science Park. O parque é formado por 214 organizações, 153 organizações em ciências da vida e Saúde e 103 empresas biomédicas.
A cidade possui o maior número de “startups” em biociências da Holanda e 11 institutos de pesquisa. As ciências da vida e saúde são um importante foco de pesquisa nos institutos de pesquisa da Faculdade de Ciências da Universidade de Leiden e do LUMC, tais como o Centro de Pesquisa em Drogas Humanas (CHDR) e o Centro Acadêmico de Pesquisa de Drogas de Leiden (LACDR).
3. Utrecht
Utrecht também é destaque na área, onde se localizam 54 empresas em biotecnologia. Duas importantes organizações se destacam na região: Utrecht Life Sciences e Immuno Valley.
A Utrecht Life Sciences (ULS) é uma rede de inovação que facilita parcerias estratégicas em educação, pesquisa e empreendedorismo entre a academia, instituições públicas e organizações privadas. O objetivo da rede é impulsionar inovações na área de saúde humana e veterinária, fornecendo infraestrutura compartilhadas de ponta, explorando e educando pessoas talentosas, criando acesso a conhecimentos pouco difundidos e bancos de dados e aumentando o acesso a subsídios e fundos externos. O ULS foi eleito pelo site Labiotech uma das 20 melhores incubadoras de startups de biotecnologia da Europa.
O Immuno Valley é uma rede nacional de 30 empresas e instituições de conhecimento trabalhando juntas no campo da saúde humana e animal. Tem como objetivo o desenvolvimento conjunto de técnicas para diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças infecciosas.
ALGUMAS EMPRESAS DE BIOTECNOLOGIA EM CIÊNCIAS DA VIDA E SAÚDE POR REGIÃO
1. Amsterdã
A UniQure é o maior peixe da lagoa de Amsterdã, com um valor de mercado de € 194,5 milhões. Seu produto mais famoso é o Glybera, que se tornou a primeira terapia gênica aprovada em todo o mundo em 2012. Glybera é uma terapia genética pontual que visa restaurar a atividade da enzima LPL em pacientes com grave deficiência familiar de lipoproteína lipase.
A empresa permaneceu ativa na pesquisa e desenvolvimento de terapias baseadas em genes humanos. Desde então, desenvolveu uma linha de terapias gênicas baseadas em vírus adeno-associado (AAV), tanto internamente quanto por meio de múltiplas colaborações. Atualmente, possui três candidatos em desenvolvimento clínico, todos ainda em fases iniciais.
A Kiadis Pharma concentra-se em oncologia e hematologia para desenvolver imunoterapias de células T para pacientes com câncer de sangue que precisam de um transplante de células-tronco. Existem vários riscos e limitações envolvidos nesse tipo de procedimento, como doença do enxerto contra hospedeiro (DECH), reincidência do câncer, infecção oportunista e disponibilidade limitada de doadores. A Kiadis está trabalhando para abordá-los com dois candidatos-chave, o ATIR101 e o ATIR201.
ATIR significa ‘Allodepleted T Cells Imunotherapeutics‘ e refere-se ao design do produto para apoiar o sistema imunológico recém-transplantado de um paciente antes que ele se torne totalmente funcional. Essas terapias facilitarão os transplantes de doadores que não são uma combinação perfeita para o paciente. O ATIR101 está atualmente em testes de Fase II para sua aplicação em tipos de câncer que afetam células sanguíneas; O ATIR201 está programado para iniciar os ensaios de Fase I/II no tratamento da talassemia este ano.
Desde que foi fundada, em 1997, a empresa construiu sua plataforma Theralux para levar esses tratamentos para a fase clínica. A Kiadis tornou-se pública em 2015 e, desde então, atingiu um valor de mercado de € 153 milhões.
2. Leiden
A Mimetas é uma empresa de biotecnologia que cria sistemas simples para as mais complexas estruturas biológicas em 3D, com perfusão de vasos, co-culturas e ambientes otimizados. Sua tecnologia chama-se OrganoPlate®, o futuro de modelos de cultura de tecidos em 3D.
ProQR Therapeuticals é uma empresa com a missão de criar novos medicamentos para pacientes necessitados. Eles se concentram em um grupo doenças chamadas doenças raras, com uma necessidade muito alta de novos medicamentos. Das aproximadamente 7000 doenças reconhecidas como raras, menos de 400 têm tratamento. Para tratar essas doenças, eles utilizam terapias com RNA, uma tecnologia que permite lidar com doenças herdadas causadas por um defeito genético.
A Galápagos é uma empresa de biotecnologia em estágio clínico, especializada na descoberta e desenvolvimento de medicamentos a partir de pequenas moléculas com novos modos de ação. A ambição deles é se tornar uma empresa biofarmacêutica líder global, focada na descoberta, desenvolvimento e comercialização de medicamentos inovadores que melhorarão a vida das pessoas.
3. Utrecht
A Merus é uma empresa de imuno-oncologia em estágio clínico que desenvolve uma alternativa terapêutica inovadora usando anticorpos biespecíficos, denominada Biclonics®. O Biclonics®, que é baseado na forma completa do IgG, é fabricado usando processos padrão da indústria e, em estudos pré-clínicos, observou-se que possui características semelhantes aos anticorpos monoclonais convencionais, como a meia-vida longa e a baixa imunogenicidade.
A Genmab é uma empresa internacional de biotecnologia especializada na criação e desenvolvimento de terapias diferenciadas de anticorpos para o tratamento do câncer.
O QUE LEVAR PARA CASA?
- 2900 empresas em ciências da vida e saúde;
- 420 empresas Biofarmacêuticas;
- +65000 empregos no setor biofarmacêutico;
- 12 universidades de pesquisa biomédica;
Depois de conhecer mais sobre a bioeconomia da Holanda, você se anima a ir para lá e descobrir os segredos deste sucesso?
Confira os outros textos da série Biotecnologia pelo Mundo.
Artigo escrito por Elaine Lima de Souza. Texto revisado por Letícia Cruz e Ísis Venturi.
Elaine Lima de Souza é doutora em biociências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e fez pós-doutorado no Erasmus Medical Center, na Holanda. Hoje, ela mora na Holanda e tem focado em inovação e empreendedorismo em biotecnologia. Elaine é fundadora da BioUnie, uma startup que deseja trazer o Brasil para uma experiência nos ecossistemas de inovação da Holanda, com o objetivo de capacitação profissional e conexão, para assim apoiar o avanço da inovação e da bioeconomia no Brasil. Perfil no linkedin.
*O Profissão Biotec não recebe nada em troca por divulgar as marcas apresentadas neste texto.