O empurrãozinho que faltava para o biotecnologista começar a carreira na pesquisa clínica!

Se você chegou aqui após ter lido Uma Introdução ao Setor (onde falamos sobre o que é pesquisa clínica, a estrutura organizacional para a sua realização e como o biotecnologista pode atuar na área), se prepare pois, hoje, vamos começar a jornada das funções que podemos ocupar. Se você ainda não leu essa primeira parte, corre lá para ter uma impressão ainda mais completa sobre como é ser um formado em biotecnologia atuando em pesquisa clínica!

Os CROs e Centros de Pesquisa

Começamos esse texto lembrando que na Parte I já detalhamos o que são as Organizações Representativas de Pesquisa Clínica (CROs) e os Centros de Pesquisa.

Dentro das CROs existem os Monitores (CRAs: Clinical Research Associates) e os CTAs (Clinical Trial Assistants). Para garantir que os protocolos dos estudos sejam cumpridos sob a óptica de Boas Práticas Clínicas, e obter o aval comercial das agências regulatórias, a CRO deve contratar pessoal para fazer o monitoramento dos Centros de Pesquisa, processo que se assemelha a uma auditoria.

Os Monitores garantem a conformidade com o protocolo de ensaio clínico e verificam se a segurança dos pacientes está sendo mantida. A rotina desse profissional é composta por visitas aos Centros de Pesquisa e revisão dos prontuários e documentos dos estudos. Geralmente viajam muito, uma vez que os Centros de Pesquisa estão espalhados por todo Brasil!

Já os Clinical Trial Assistants, ou CTAs, são responsáveis pelo suporte aos monitores e ao time do estudo. Ao contrário dos Monitores que vivem viajando, os CTAs ficam no escritório trabalhando com os documentos do projeto compartilhados com os Patrocinadores, Centros de Pesquisa e agências regulatórias.

Por fim, os Assistentes/Coordenadores de Pesquisa Clínica são empregados dos Centros de Pesquisa, e atuam na operação dos testes clínicos. São responsáveis pela manutenção de toda a papelada revisada pelos Monitores e CTAs, e atuam diretamente com os pacientes. Passam o dia atualizando o prontuário do paciente, revisando os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLEs) e Case Report Forms (CRFs).

Hierarquicamente, os Coordenadores são superiores aos Assistentes, mas cada Centro tem critérios próprios para a descrição de atividades em cada cargo. Essas funções são as mais básicas dentro da área de pesquisa clínica e muitos locais aceitam estagiários como Assistentes. Assim, uma dica é realizar o seu estágio obrigatório no cargo, adquirindo já na graduação a tão solicitada experiência. 

Resumo sobre os principais pré-requisitos e remunerações das vagas de Monitor (CRA), Clinical Trial Assistant (CTA) e Coordenador/Assistente. #ParaTodosVerem: Tabela com a descrição dos pré-requisitos para as vagas de CRA, CTA e Coordenador/Assistente, também mostrando os respectivos salários.

A área clínica

Apesar de algumas empresas já possuírem um departamento de Pesquisa Clínica próprio, a maior parte da etapa clínica é realizada pelo departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Esse departamento é responsável desde os testes em laboratório para o desenvolvimento de novas formulações para os medicamentos, até a submissão do dossiê com os resultados dos testes clínicos às agências regulatórias. 

A verdade é que não existe uma graduação específica em pesquisa clínica, e por isso, muitos acabam buscando especializações na área, essas sim em abundância. Nós biotecnologistas não temos tanta familiaridade com essa palavra “clínica”, mas a boa notícia é: sabemos muito sobre pesquisa e desenvolvimento, o grande guarda-chuva dessa área! 

E lembrando que a maior parte dos cargos está em inglês porque a maior parte das informações em pesquisa clínica é transmitida nessa língua (falamos sério na primeira parte sobre fluência em inglês ser pré-requisito na área). 

Ah, e só para deixar claro, todos os cargos abaixo são empregados dos Patrocinadores!

O Analista de Assuntos Regulatórios lida com o preparo de dossiês para análise das autoridades sanitárias e regulatórias (CEP, Conep e Anvisa) após conclusão da pesquisa (fase 3). Precisa estar sempre atualizado quanto às normas para condução de estudos clínicos e registro de novos medicamentos. É especialista em lidar com a papelada de redigir e adequar documentos às diretrizes de pesquisa clínica nacionais e, muitas vezes, internacionais!

Em algumas empresas existe também o Start-Up Lead, que trabalha com o preparo dos dossiês para início de um projeto de pesquisa, mas geralmente essa função também é exercida pelo Analista de Assuntos Regulatórios. Sua função é garantir iniciações bem-sucedidas de Centros de Pesquisa de acordo com protocolo, orçamento, políticas e regulamentos aplicáveis.

Já o Analista de Farmacovigilância atua na captação das informações de saúde após a comercialização do medicamento (fase 4). Esse profissional ama uma bula! Ele é responsável pelo reconhecimento e comprovação dos efeitos adversos raros e elaboração de relatórios de segurança, a fim de melhorar a seleção e o uso racional dos medicamentos pelos profissionais de saúde.

Por fim, o Gerente de Pesquisa Clínica, também conhecido como Clinical Trial Manager (CTM), lidera os Monitores na condução dos estudos clínicos de acordo com o protocolo, tempo, orçamento e regulamentos aplicáveis. Pode ser um funcionário do Patrocinador ou da própria CRO, e é responsável pelo gerenciamento dos projetos e das pessoas que os executam.

Resumo sobre os principais pré-requisitos e remunerações das vagas de Analista de Pesquisa Clínica, Gerente de Pesquisa Clínica (CTM), Analista de Assuntos Regulatórios/Start Up Lead e Analista de Farmacovigilância. #ParaTodosVerem: Tabela com a descrição dos pré-requisitos para as vagas de Analista de Pesquisa Clínica, CTM, Analista de Assuntos Regulatórios/Start Up Lead e Analista de Farmacovigilância, também mostrando os respectivos salários.

A área médica

Tendo em mente que toda empresa de ciências da vida pode optar pela estrutura organizacional que melhor lhe convém, é comum que escolham ter uma área de Assuntos Médicos, ou Medical Affairs. Esse departamento se concentra nas comunicações entre a empresa e profissionais da saúde (mais conhecidos no ramo como HCP: Healthcare Professional). Até um post no Instagram sobre uma nova pesquisa clínica precisa ser aprovado por esse departamento!

Mas apesar do nome, quem não é médico também pode trabalhar na área. Existe uma diversidade de cargos, e uma hierarquia mais complexa do que apenas júnior, pleno e sênior. Com o exemplo do post no Instagram de um novo teste clínico: a informação a ser transmitida precisa ser 100% acurada, com embasamento científico correto e garantia de uma linguagem acessível sem a perda de conteúdo. 

Para isso, é necessário uma equipe capaz de entender a informação que será divulgada, para justamente garantir que isso ocorra da maneira correta. Ou seja, é necessário pessoas que entendam de ciência e de divulgação científica (voluntários do PB saem na frente, hein!).

Como nem sempre a criatividade é uma soft skill requisitada no ramo, existe um cargo com o mesmo nome do departamento. O Medical Affairs tem como principal papel fornecer conhecimentos científicos e médicos à área comercial. Basicamente, esses profissionais treinam as equipes de marketing e vendas acerca dos aspectos terapêuticos dos produtos comercializados (em fase 4 da Pesquisa Clínica). 

Já o Medical Information Specialist (Technical Support) é focado em fornecer informações técnicas aos profissionais de saúde e pacientes sobre as terapias da empresa. É quase uma central de atendimento bastante especializada, já que a maioria das informações é passada pelo telefone. Esse trabalhador fornece suporte aos HCPs e consumidores em relação ao uso dos produtos, eventos adversos e informações de ensaios clínicos. 

O Medical Writer se baseia em conhecimentos científicos para escrever documentos que serão usados para criar materiais de divulgação e comunicação científica. Desde artigos para revistas científicas até dossiês para agências regulatórias, esse cargo atua na elaboração de manuscritos com as mais recentes informações sobre o tema demandado. Esse também é um dos poucos cargos onde se é possível trabalhar como autônomo, prestando freelance para as empresas.

Por fim, o queridinho dos recém doutores: Medical Science Liaison (MSL). O Gerente Médico Científico é responsável pelo desenvolvimento de estratégias embasadas em conhecimento científico. Paralelo ao Medical Affairs, que foca no ramo comercial, o MSL foca no ramo médico, fazendo a ponte entre os HCPs e as novidades científicas. Passa boa parte do seu dia atualizando os KOL (Key Opinion Leaders, ou Formadores de Opinião) dos mais recentes avanços científicos. 

Resumo sobre os principais pré-requisitos e remunerações das vagas de Medical Affairs, Medical Information Specialist (Technical Support), Medical Writer e Medical Science Liaison (MSL). #ParaTodosVerem: Tabela com a descrição dos pré-requisitos para as vagas de Medical Affairs, Medical Information Specialist, Medical Writer e MSL, também mostrando os respectivos salários.

Pronto para as entrevistas de emprego?

Bom, chegamos ao fim dessa (nem tão) longa jornada de dois textos sobre a relação entre a biotecnologia e a pesquisa clínica. Acreditamos que aumentar a visão sobre as nossas possibilidades de atuação é lutar pelo reconhecimento da nossa profissão! E depois de tantas explicações, esperamos ter te convencido de que há sim espaço para o biotecnologista nos estudos clínicos. 

Agora, é com você: que tal dar uma lida nesse texto do PB sobre entrevistas de emprego e começar a aplicar para vagas na área? Uma dica: ativa o alerta de vagas do LinkedIn usando os termos que citamos aqui. Ah, e não esquece de nos marcar quando fizer o post dizendo que o seu tão esperado SIM finalmente chegou!

Texto revisado por Jennifer Medrades, Bruna Lopes e Roberta Santi Lupo (revisora especial)

Cite este artigo:

CÔRTES, D. A. Biotecnologia e Pesquisa Clínica – Parte II: Cargos na Área. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/biotecnologia-pesquisa-clinica-parte-ii-cargos-na-area/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

IN SCIENCE COMMUNICATIONS. Scientific Service roles. Careers. Disponível em: <https://www.insciencecommunications.com/careers/scientific-services-roles/>. Acesso em: 23 de fev. de 2022.
LOGULLO, Patrícia. O que faz um medical writer? Palavra Impressa, 2020. Disponível em: <https://www.palavraimpressa.com.br/2020/09/17/o-que-faz-um-medical-writer/>. Acesso em: 22 de fev. de 2022.
MEDICAL affairs essentials: what is medical affairs? ACMA, 2021. Disponível em: <https://medicalaffairsspecialist.org/blog/what-is-medical-affairs>. Acesso em: 22 de fev. de 2022.
MSLs vs. medical affairs: What’s the difference? Within3, 2020. Disponível em: <https://within3.com/blog/medical-science-liaison-vs-medical-affairs#:~:text=In%20the%20simplest%20terms%2C%20medical,lion’s%20share%20of%20their%20bandwidth>. Acesso em: 23 de fev. de 2022.
Fonte da imagem destacada: Rawpixel.

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