Ao longo dos anos assistimos a inúmeros avanços biotecnológicos que foram importantes na redução dos custos de produção em diferentes segmentos. Na área da saúde, vários estudos buscam reduzir custos de tratamentos, como os oncológicos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um medicamento de custo-benefício adequado é aquele que aumenta a vida do paciente em um ano e custa até um PIB (produto interno bruto) per capita (no Brasil, isso seria menos de 30 mil reais).
As pesquisas biotecnológicas que visam reduzir esses custos são altamente relevantes, pois é previsto que até 2030, em todo o mundo, 21 milhões de pessoas sejam diagnosticadas com câncer e os gastos com esses tratamentos devem chegar a 458 bilhões de dólares!
Tecnologia made in Brazil
Pensando nessa redução de custos, a Recepta Biopharma, uma empresa brasileira de biotecnologia (da qual fazem parte cientistas ligados ao Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer e empresários, e que recebe financiamento da Finep, do BNDES, do CNPq e Fapesp, além de parcerias com universidades como USP e Unifesp e instituições estrangeiras) vem buscando desenvolver moléculas alternativas que possam substituir as que já são utilizadas por grandes indústrias farmacêuticas no tratamento do câncer.
Nos últimos anos, a empresa tem investido no desenvolvimento dos anticorpos monoclonais, que possuem estrutura semelhante aos anticorpos produzidos naturalmente pelo organismo, mas que são capazes de combater moléculas invasoras específicas.
Como age essa imunoterapia?
Os estudos da empresa de biotecnologia brasileira buscam desenvolver moléculas anti-CTLA-4 e anti-PD1 (receptores de membrana presentes em células do sistema imunológico, chamadas de linfócitos T). Segundo pesquisas recentes, ao prejudicar a ação das moléculas CTLA-4 e PD1, há maior chance de remissão do tumor e melhora da resposta imunológica do paciente.
Esse tratamento é mesmo eficiente?
Atualmente, as moléculas anti-CTLA-4 e anti-PD1 desenvolvidas pela Recepta Biopharma já estão sendo testadas nos EUA em pacientes com câncer de colo do útero. Até o momento, das 8 pacientes testadas, 2 apresentaram melhora e 2 não apresentaram progressão da doença, o que significa 50% de benefício clínico. Estes resultados foram considerados animadores, pois os tratamentos não cirúrgicos disponíveis atualmente para câncer de colo do útero têm menos de 15% de eficiência. A próxima etapa do estudo é realizar testes em pacientes brasileiras. A empresa de biotecnologia brasileira também pretende iniciar pesquisas para tratamento de outros tipos de câncer, como linfoma e melanoma.
Segundo Gilberto Lopes, professor da Universidade de Miami e editor-chefe do Journal of Global Oncology, essas pesquisas são um ponto positivo para biotecnologia brasileira: “Vejo com muito bons olhos uma companhia de biotecnologia brasileira desenvolvendo uma combinação de inibidores de pontos de controle imunológico contra o câncer cervical uterino. É uma doença prevalente no território nacional e em especial nas comunidades carente e ao redor do mundo.”
Biotecnologia reduzindo os custos da saúde pública!
Segundo a Recepta Biopharma, os altos custos do tratamento do câncer (média de 400 mil reais por ano/paciente – considerando um paciente de 80 kg) dificultam o acesso da população a essas terapias. A utilização desses anticorpos monoclonais, segundo a empresa, reduziria em até 80% os custos desse tratamento.
Em breve, a biotecnologia poderá contribuir para baratear o tratamento do câncer, reduzindo os gastos públicos em saúde e ampliando o acesso da população a um tratamento eficaz. Considerando que no Brasil 75% dos pacientes diagnosticados com câncer dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), essa redução de custos pode ter um grande impacto positivo para a saúde pública brasileira. Ponto para a biotecnologia!!