Chilena, empreendedora e feminista: conheça Emilia Díaz, CEO da Kaitek Labs

Emilia Díaz é uma jovem empreendedora chilena que tem uma história muito interessante de coragem e determinação: parou sua graduação em Engenharia Civil no quinto ano, para dedicar-se ao seu projeto, o Kaitek Labs.

Além disso, ela também foi uma peça fundamental na criação e organização do Primeiro Encontro de Jovens Líderes em Biotecnologia da América Latina, o Allbiotech 2017. O Profissão Biotec esteve lá e já relatou tudo que aconteceu neste post aqui.

Emilia é um exemplo de dedicação ao desenvolvimento da biotecnologia no país e na América Latina, e tivemos a oportunidade de conhecê-la melhor. Confira a entrevista!

Emilia Díaz palestrando no Allbiotech 2017

Como surgiu a ideia de criar a sua startup, a Kaitek Labs?

Eu estava estudando engenharia e fiz um curso de biologia sintética, onde falavam em bactérias como se fossem máquinas. Já que a minha máquina favorita era um computador, queria usar bactérias dessa maneira, para que ela analisassem as coisas, processassem a informação e a entregassem por meio de uma interface de usuário. Com essa proposta, surgiu a ideia de criar um sensor de toxicidade para a maré vermelha, um fenômeno natural que faz com que os mariscos tornem-se tóxicos para o consumo humano. Trata-se de uma bactéria que, ao entrar em contato com esta toxina, verifica se a quantidade é maior ou menor que o aceitável para consumo humano, e muda de cor se estiver no nível tóxico. É uma medida semi-quantitativa.

Quais soluções você está trabalhando agora?

Até pouco tempo, estávamos trabalhando com o desenvolvimento de um sensor para a maré vermelha, mas agora estamos mudando nosso foco. O mais legal é que esta tecnologia – usar microrganismos para acessar a toxicidade – pode ser estendida para qualquer tipo de alimento que tenha contaminante biológicos difíceis de identificar pela estrutura química.

Quais foram as maiores dificuldades que você e sua equipe encontraram neste caminho?

Foram muitas, ainda estamos desenvolvendo o nosso empreendimento. Uma das coisas mais complicadas foi que nós inventamos uma tecnologia nova, fizemos algo que ainda não havia sido feito e não sabíamos como fazer. Tivemos que ir aprendendo com os erros, o que tornou o desenvolvimento um pouco lento. Mas, no final, obtivemos algo que era nosso.

Também foi muito difícil que as pessoas acreditassem em nós, já que éramos uma equipe muito jovem. Eu estava liderando esse empreendimento e, como college dropout  [ela não finalizou a graduação em engenharia], jovem, chilena e mulher, há um problema de credibilidade. Além disso, pelo desenvolvimento do produto ter demorado, já que é algo bastante complicado, foi difícil manter essa confiança.

Você sentiu algum preconceito por ser mulher, durante a sua jornada empreendedora?

Muito. Hoje em dia ocorre menos, porque as pessoas já sabem que eu sou muito feminista, então se dizem algo, eu respondo. A minha história clássica é de uma vez, num coworking que eu trabalhava há bastante tempo, que apareceram dois jovens espanhóis novos. Eu fui me apresentar a eles e comentei que liderava uma empresa de biotecnologia, com um investimento do governo, e etc. Um deles disse: “Ah, acho que você pode nos ajudar, estamos organizando um grande evento que vai ocorrer em breve. Você poderia cozinhar para nós?”. Eu sempre conto esta história para mostrar o nível de estupidez. Depois eles disseram “Ah, era uma brincadeira” (muito sem graça, por sinal).

Outras coisas também já aconteceram, como entrar em uma reunião juntamente com um homem que nem fazia parte do projeto e toda a mesa olhar apenas para ele. A situação foi tão chata que ele teve que dizer que era apenas acompanhante e que eu que era a empreendedora.

E preconceito por ser da América Latina?

Também. Quando estive na Singularity University, na Califórnia (EUA), desenvolvi um projeto com uma mulher paquistanesa espetacular. Queríamos criar um fundo de investimento para mulheres que desenvolvessem tecnologias em países como os nossos e, quando apresentamos aos mentores de lá, o primeiro que disseram foi: “Mas quem faz biotecnologia no Chile? Alta tecnologia no Paquistão?

Você tem algumas experiências internacionais. Quais foram e como você acredita que tenham contribuído para o seu desenvolvimento pessoal e da sua empresa?

Tive oportunidade de viajar bastante, mas as experiências mais importantes foram as vezes que vivi em outros países. Passei um período no Vale do Silício (Califórnia, EUA), onde descobri que não me encaixo com o jeito de desenvolver as coisas por lá. Não gostava de ver pessoas super inteligentes, com capacidade de desenvolver cura para doenças, desenvolvendo, por exemplo, aplicativos para que cachorros de raça possam se encontrar e ter filhotes de raça, ou outras bobagens desse tipo.

Depois, tive a oportunidade de viver na Irlanda, no contexto de uma aceleradora de biotecnologia. Normalmente aqui [no Chile], quando eu falava em desenvolver algum projeto, as pessoas duvidavam que daria certo. Lá, por outro lado, as pessoas diziam: “Então tenta!”. O ambiente era muito mais aberto para inovação.

Recentemente estive vivendo na Coreia do Sul, também por intermédio de uma aceleradora de negócios. O mais importante é ver como é diferente a visão que eles têm do negócio, da tecnologia e até mesmo da vida. Lá, é impensável ser empreendedor, porque normalmente as pessoas querer estar numa empresa grande e de renome.

Você foi Diretora do Allbiotech 2017, quando já estava na Coreia do Sul. Como foi sua atuação a distância?

Começamos o Allbiotech mais ou menos em setembro de 2016, com encontros físicos, até eu viajar. Depois, o trabalho foi on-line e, por sorte, a equipe formada era incrível, principalmente a Daniela Valenzuela e o José Luis Callejas.

Você tem alguma mensagem para os cientistas que sonham em empreender na América Latina?

O jeito mais rápido de fazer um caminho muito difícil ser um pouco menos difícil é ajudando todos que são próximos de você. Ajude sem esperar nada em troca.

Se você quer saber mais sobre empreendedorismo, assista a este vídeo do Canal do YouTube do Profissão Biotec!

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O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

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