A ciência aberta é um termo bem amplo e que está associado às diversas formas diferentes e inovadoras de como fazer ciência, baseadas nas novas tecnologias. Quando se fala em novas tecnologias, podemos exemplificar com o uso amplo e disseminado da internet e dos novos equipamentos com “tudo na palma da sua mão”, como os smartphones e tablets.
Então qual seria a principal definição de ciência aberta? De acordo com o projeto FOSTER (Facilitate Open Science Training for European Research), a ciência aberta pode ser definida como “A prática da ciência de tal forma que outros podem colaborar e contribuir, na qual os dados de pesquisa, as notas de laboratório e outros processos de pesquisa estão disponíveis livremente, em condições que permitem a reutilização, redistribuição e reprodução da pesquisa e dos dados e métodos subjacentes”. Apesar dessa definição bem ampla, a imagem a seguir sintetiza todos os temas abordados pela ciência aberta.
O conceito de ciência aberta pode soar estranho à primeira vista, principalmente no modelo científico brasileiro atual, baseado em métricas que, essencialmente, valorizam a produtividade de um pesquisador ao invés da qualidade (recomendo fortemente a leitura desse artigo).
Apesar disso, a ciência aberta possui diversas vantagens, dentre elas, podemos destacar:
- A preservação e valorização da produção científica;
- O acesso aberto às publicações científicas;
- Tornar o processo científico mais eficiente;
Além de promover a transparência científica tanto dos resultados quanto do processo científico, estimulando a aproximação entre sociedade e ciência, democratizando a mesma. Apesar da ciência aberta englobar uma gama enorme de assuntos a serem discutidos, este texto será direcionado principalmente ao acesso aberto!
O acesso aberto
O acesso aberto é uma das principais práticas que compõe a ciência aberta. É sintetizado como o acesso aberto à literatura científica. Essa última pode ser brevemente resumida nos livros e artigos científicos, ou seja nos trabalhos acadêmicos ou científicos que apresentam e discutem resultados de pesquisas, metodologias e técnicas que foram realizadas de acordo com o método científico.
Mas de que forma ocorre o acesso aberto? Compreende-se que o mesmo é a disponibilização da literatura científica (e também acadêmica) na internet, sem qualquer barreira a esse acesso, seja ela custos, registros em sites e etc. Além disso, defende que esse acesso deve possuir poucas limitações à reutilização do conteúdo disponibilizado. Uma das únicas limitações/exigências que deve existir é a obrigatoriedade de se credibilizar o autor na forma de referência.
A ciência aberta é relativamente nova, as primeiras iniciativas foram tomadas em meados de 2003, com a grande popularização ocorrendo apenas por volta de 2014. Mas o acesso aberto já era defendido antes disso, uma vez que teve a primeira definição em 2001, em Budapeste, e que deu origem à Declaração da Iniciativa de Budapeste pelo Acesso Aberto (Budapest Open Access Initiative, BOAI).
O acesso aberto pode ser garantido por duas vias distintas: pela via dourada, que se refere à publicação em revistas de acesso aberto; ou pela via verde, que se refere ao depósito das publicações em repositórios institucionais ou temáticos de acesso aberto. Para que a publicação seja feita através da via dourada, existe um modelo de comercialização utilizado pelos periódicos de via dourada, que é chamada de APC (Article Processing Charge), cujo custo varia entre 1.500 a 5000 dólares. Essa é a taxa de publicação, que deve ser paga pelos autores, para cobrir o processo de publicação. Já através da via verde, o pesquisador pode depositar seus trabalhos e publicações em repositórios de acesso aberto sem custo algum, mas deve levar em consideração as políticas de acesso da editora, como, por exemplo, os prazos para os embargos ao acesso aberto.
Mas agora que já sabemos um pouco sobre ciência aberta e acesso aberto, onde cabe a Biotecnologia nesse contexto?
Biotecnologia e o acesso aberto
A Biotecnologia é parte integrante das ciências biológicas e para seu desenvolvimento e construção, como em todas as ciências, é necessária a busca de dados em literatura científica. A revisão de literatura permite que se aprenda e compreenda melhor os assuntos de interesse, bem como permite a escolha de um melhor protocolo de trabalho para a obtenção dos dados futuros. São as publicações feitas previamente que permitem que os cientistas tenham o embasamento teórico necessário para entender e resolver problemas atuais.
Entretanto, não é fácil ter acesso às publicações importantes. Ou você paga pelo material ou tem a sorte de estar em uma instituição que participe da Comunidade Acadêmica Federada (CAFe), ferramenta mantida pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) que permite o acesso à diversos periódicos (ou pode utilizar sites de compartilhamento de arquivos que violam diversos direitos autorais e das editoras, como o Sci-Hub). Mas apesar da grande maioria de pesquisadores brasileiros possuírem acesso a qualquer artigo por essas vias, a comunidade não-científica não possui.
Aqui no Brasil, podemos destacar algumas iniciativas de acesso aberto. A iniciativa mais conhecida é SciELO, uma biblioteca digital de livre acesso da qual participam diversos países da América do Sul e Central e, Portugal. A criação da SciELO foi resultado de um projeto de pesquisa da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) em parceria com a Bireme (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde). Outra iniciativa bem legal, mantida pela Fiocruz, é a Porto Livre, que fornece acesso aberto a livros didáticos. Além disso, também é bem importante destacar o acesso aberto em informações sobre a COVID-19, que vem facilitando o desenvolvimento das pesquisas, e é garantida pela UNESCO (leia mais aqui).
A divulgação científica faz parte do caminho de aproximação entre sociedade e ciência. E a defesa e o uso do acesso aberto contribui para esse objetivo, uma vez que toda a pessoa que possui interesse em ler um artigo científico ou alguma publicação acadêmica terá a oportunidade de obtê-lo sem qualquer barreira.
Como vimos ao longo do texto, o acesso aberto – uma das práticas da Ciência Aberta – possui extrema importância, tanto para a comunidade científica quanto para a não-científica, contribuindo assim para a democratização da ciência. Se você possui interesse em aprender mais sobre esses temas, recomendo os cursos do Campus Virtual da Fiocruz sobre ciência aberta (disponíveis aqui). São gratuitos, muito didáticos e bem rápidos de concluir! E continue acompanhando o Profissão Biotec para mais textos interessantes!