Bloqueios criativos são comuns, principalmente quando você é um cientista imerso em vários trabalhos de comunicação e divulgação científica. Mas você sabe como isso de fato ocorre no seu cérebro? E que a biotecnologia pode ser uma aliada inspiradora nessas horas? É possível sim estimular as vias neurais ligadas à criatividade, e existem muitas pesquisas dentro da neuropsicologia sobre o assunto.
Mas acima de tudo, o que é criatividade?
Criatividade pode ser definida como a introdução de algo inovador, novo e positivo para a sociedade que vai além do familiar e aceito. Os aspectos sociais positivos da criatividade são favorecidos pela seleção natural, de modo que as pressões sociais e biológicas moldam a evolução de características do cérebro humano, como tamanho e configurações neuroanatômicas e neurofuncionais.
A neuropsicologia é a área de pesquisa que associa o estudo detalhado do sistema nervoso à análise do comportamento humano e dos processos psicológicos. Para cada estudo biológico sobre a ligação do cérebro com a criatividade, há outro sobre como a psicologia influencia as conexões cerebrais na expressão criativa.
Alguns estudos da biologia sugerem que a criatividade é resultado de uma mistura de genética e experiência, sugerindo que todos têm igual potencial de se tornarem mais criativos. Porém, outras pesquisas apoiam a ideia de que a criatividade está intrinsecamente ligada à formação do cérebro, com pessoas criativas tendo conexões menores entre os dois hemisférios do cérebro, mais massa encefálica cinzenta e níveis mais elevados de serotonina.
E a biologia por trás disso?
O cérebro tem diferentes lobos, ou regiões, que lidam com tarefas diferentes. Não existe uma única área do cérebro dedicada ao pensamento criativo, mas sim, um trabalho em conjunto de diferentes regiões. O psiquiatra Grant Brenner, explica que o cérebro tem três redes diferentes: a predefinida, a executiva e a de saliência.
A rede predefinida é quem está no comando quando estamos em repouso (mas não dormindo); a responsável pelas decisões e emoções é a rede executiva; e a rede de saliência determina o que será percebido e o que será ignorado no ambiente. Uma teoria muito aceita atualmente sugere que a criatividade acontece com essas redes atuando juntas: a rede predefinida gera ideias, a rede de controle executivo as avalia e a rede de saliência ajuda a identificar quais ideias serão de fato formuladas.
O que está por baixo dos panos, afinal?
Mas há momentos em que a criatividade parece estar bloqueada. Um fundamento bastante consolidado é que o estresse e as restrições de tempo reduzem a inovação. Outros redutores da criatividade são reconhecidos simplesmente por experiências individuais, sendo que muitas pessoas criativas relatam que trabalhar no mesmo lugar todos os dias reduz suas ideias, por exemplo.
O neurocientista Adam Gazzaley, sugere que a sensação dos tempos contemporâneos de estar sempre conectado e sempre ter algo para fazer também diminui a criatividade. Uma boa alternativa é acolher o tédio e reduzir a multitarefa. Isso ajudará na geração de novos insights ao diminuir a ansiedade de não estar conectado ao momento presente.
É possível que quando se fale em biotecnologia associada ao aumento de criatividade, muitos pensem em drogas como maconha e LSD. Mas há meios lícitos de conseguir essa explosão de novas ideias. Uma classe de produtos químicos conhecidos como nootrópicos, do grego “dobrar ou moldar a mente”, é capaz de melhorar ou aumentar as habilidades cognitivas do cérebro humano.
E a biotecnologia por dentro disso?
Dentre os efeitos dos nootrópicos, têm-se: melhora da função executiva, maior retenção de memória, e até maior motivação. Alguns nootrópicos ocorrem naturalmente em substâncias alimentares, como chocolate, chá verde ou cafeína, que contêm fenetilamina e L-teanina. Está comprovadamente explicado que a pausa para o café, comum na rotina de qualquer laboratório, te torna mais criativo!
No entanto, essa nova onda de “medicamentos inteligentes” (também chamados de smart drugs) começou a inundar os corredores das farmácias. Muitos desses suplementos são uma mistura de lipídios, antioxidantes, fitoquímicos e vitaminas derivadas de alimentos. Por se enquadrarem em suplementos dietéticos, há menos dados que certificam sua eficácia.
Apesar de sua comprovação ainda ser questionada, o impacto na economia já é bastante validado. Uma pesquisa da Research and Markets mostra que o mercado de nootrópicos deve ultrapassar a marca de 6 milhões de dólares em 2024. A primeira startup de nootrópicos brasileira, Hello Brain, foi fundada em 2019 e inovou além do esperado para os “suplementos cerebrais”. A solução biotecnológica tem formulação vegana e não possui contraindicações de uso!
A ciência não pode ficar de fora, né?
Mas para o alívio dos “bloqueados”, existem sim métodos cientificamente comprovados para aumento da criatividade:
Manter uma rotina: Trabalhar com consistência, mantendo uma rotina de horários, pode não só aumentar sua produção no geral, mas também a geração de novas idéias.
Fazer uma pausa: Afastar-se de uma tarefa que já te consumiu horas pode ser mais produtivo do que insistir nela. E não se esqueça de manter seu sono regulado!
Fazer uma caminhada: A produção criativa de uma pessoa aumenta em média 60% ao caminhar, e isso vale tanto para ambientes fechados quanto para o ar livre.
Mudar de cenário: Quando nos habituamos ao ambiente que está ao nosso redor, nossos pensamentos são restringidos por um conjunto mais limitado de associações. Tente ir a lugares diferentes como um parque, um café ou, até mesmo, viajar!
Anotar: Escrever ideias avulsas em um caderno cria e reúne um repertório de ideias que você pode revisitar em momentos de bloqueio criativo.
Existem sim meios científicos para aumentar a criatividade, mas esse processo é muito subjetivo. Nada impede que você tente todos ao mesmo tempo, até mesmo os que a ciência duvida da eficácia. Para mim, por exemplo, a solução que melhor funcionou até agora para vencer um bloqueio criativo, foi escrever um texto sobre bloqueio criativo!
Cite este artigo:
CÔRTES, D. A. A ciência dos bloqueios criativos. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em:<https://profissaobiotec.com.br/ciencia-bloqueios-criativos/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências:
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NOOREYEZDA, Nadia. Brain‑Enhancing ‘Smart Drugs’ Promise a Boost in Creativity, Memory. The Swaddle, 2019. Disponível em: <https://theswaddle.com/brain-enhancing-smart-drugs-promise-a-boost-in-creativity-memory/>. Acesso em: 03 de nov. de 2021.
O que é a Neuropsicologia? Instituto de Psiquiatria Paulista, 2019. Disponível em: <https://psiquiatriapaulista.com.br/o-que-e-neuropsicologia/>. Acesso em: 03 de nov. de 2021.
ZAIDEL, Dahlia W. Creativity, brain, and art: biological and neurological considerations. Frontiers in human neuroscience, v. 8, p. 389, 2014. Disponível em: <https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnhum.2014.00389/full>. Acesso em: 03 de nov. de 2021.
Research-Proven Ways to Overcome Creative Blocks. Brandfolder. Disponível em: <https://brandfolder.com/blog/overcome-creative-blocks>. Acesso em: 29 de nov. de 2021.
Fonte da imagem destacada: Pixabay.