O FabLab é um conjunto de laboratórios em Lisboa (Portugal), aberto para prototipagem, que conta com alguns aparelhos como máquinas de corte a laser e impressoras 3D, além de também possuir a área de biologia com foco em biohacking.
O biohacking busca fazer experimentos para encontrar soluções de problemas como descobrir a identidade de cachorros que defecam em locais indevidos; ou desenvolver e baratear equipamentos, democratizando protocolos de experimentos para que qualquer pessoa interessada possa usar.
Além das duas explicações acima, qualquer pessoa pode usar o conceito de biohacking. Por exemplo, extrair seu próprio DNA em casa, usando como metodologias apresentadas em vídeos do YouTube.
Com objetivo de democratizar o acesso à tecnologia, o FabLab de Lisboa realizou a Semana de Biohacking aberta ao público nos dias 8 a 11 de maio de 2019, no qual participaram pessoas de 15 a 40 anos. Esteve presente o colaborador Guilherme Tonial e a inscrição do evento foi feita pela internet.
Neste texto, você confere como foi o evento.
Dia 1
No primeiro dia foi feita a apresentação do curso e dos experimentos que faríamos ao longo da semana.
O primeiro experimento baseou-se engenharia genética, tendo sido iniciado pelo preparo do meio de cultura para bactérias Escherichia coli serem modificadas a fim de produzir pigmentos. Foram preparados dois meios de cultura: um LB básico seletivo com antibiótico e outro não-seletivo, para detectar quais bactérias poderiam ser usadas na transformação genética.
Outro experimento realizado foi na área de bioprocessos: a produção de kombucha. A síntese dessa bebida é feita por meio de um chá fermentado por uma colônia de bactérias e leveduras que consomem seus açúcares e produzem uma bebida gasosa probiótica.
Para quantificar os açúcares do chá, foi utilizado um aparelho denominado refratômetro digital, que mede a quantidade de graus Brix da bebida, a escala Brix é utilizada na indústria de alimentos para medir a quantidade aproximada de açúcares em bebidas, posteriormente convertida em gramas por litro de açúcares totais.
Dia 2
O dia começou com a incorporação de genes responsáveis pela produção de pigmentos nas bactérias transformadas e selecionadas no dia anterior.
O experimento que mais me chamou a atenção nesse dia foi o chamado Mudwatt: produção de energia do solo. Essa experiência se baseia nas bactérias do gênero Geobacter, que têm a capacidade de oxidar compostos de ferro para sobreviver e preferem viver num ambiente sem oxigênio, como solos profundos e sedimentos oceânicos. Essas bactérias são capazes de degradar poluentes como petróleo e são utilizadas para limpar o ambiente, liberando elétrons nesse processo.
Para a geração de energia por meio de técnicas de biohacking, é utilizado um jarro com lama, que garante aos microrganismos as condições ideais de crescimento, e discos de grafite condutores (que permitem a passagem de elétrons) denominados ânodo e cátodo. O anodo é colocado na lama onde crescem os microrganismos geradores de elétrons, enquanto o cátodo é colocado no topo do jarro exposto ao ar. Após alguns dias é possível medir em volts a quantidade de energia produzida, além de ver uma luz de led piscando no topo do jarro, sugerindo que houve a liberação de energia.
Para finalizar, no segundo dia foi também realizada a extração do DNA dos microorganismos presentes no kombucha, seguida de uma PCR (Reação de polimerase em cadeia) para multiplicar as regiões necessárias para identificação do DNA de bactérias e leveduras presentes na bebidas.
Dia 3
O dia começou com a leitura da corrente elétrica do jarro de Mudwatt para avaliar quantos volts foram produzidos pelo processo.
Também foi feita a produção da Bioink: uma tinta “viva” feita a fase de alginato de sódio comercial extraído de algas castanhas, que quando combinado com uma solução de cálcio, geleifica, formando uma matriz mais sólida, na qual as bactérias podem se incorporar para produzir uma placa com uma pintura viva.
Dia 4
Começou com a extração dos pigmentos das bactérias modificadas geneticamente do dia 1, processo que consiste em primeiro cultivá-las em meio líquido para que se multipliquem e, assim, aumentar a quantidade de pigmento produzida.
Na área de bioprocessos, foi realizada a etapa de sequenciamento do DNA dos microorganismos presentes na cultura de kombucha. Para esta etapa, foi usado o aparelho MinION, considerada a tecnologia mais portátil para sequenciamento de DNA. A tecnologia do MinION possibilita o sequenciamento de pequenos e longos fragmentos de DNA a partir da construção de bibliotecas de nucleotídeos.
Dia 5
No último dia da oficina, foi feita a quantificação dos açúcares produzidos no kombucha. Notou-se que tal quantidade aumentou ao invés de diminuir, porque, mesmo com o consumo dos açúcares adicionados inicialmente, durante o processo de fermentação outros açúcares são produzidos.
O mais importante da oficina não foram as tecnologias utilizadas, mas sim o impacto causado pela utilização dessas ferramentas por pessoas de diferentes idades e de diferentes áreas, uma vez que o acesso a elas pode mudar para sempre sua percepção da ciência e principalmente da biotecnologia.
Nós do Profissão Biotec ficamos extremamente contentes por participar de eventos como este e estamos felizes por incentivar e compartilhar experiências como essas. Portanto, se souber de oficinas como essas, nos avise, para compartilharmos mais experiências nas redes sociais e no site.