Os hábitos de vida moldam o perfil microbiológico do nosso intestino, influenciando a saúde física e mental.

Bons hábitos alimentares e de vida são sempre recomendados. Mas adotar hábitos saudáveis pode mudar as nossas vidas muito mais do que imaginamos. A mudança costuma ocorrer em diferentes aspectos, desde poder contribuir com a redução (ou ganho) de peso, redução de colesterol e açúcar no sangue e até mesmo com a melhora de quadros de depressão e ansiedade.

Relação entre microbiota intestinal e estado depressivo

Uma mulher reflexiva
A depressão/estado depressivo vem causando preocupação ao redor do mundo. Houve grande aumento de diagnósticos nos últimos anos e com a ocorrência da pandemia aumentou ainda mais. #ParaTodosVerem: em primeiro plano há uma mulher reflexiva com um dos braços sobre uma superfície e com a mão oposta em sua cabeça. Ao fundo é possível observar que tem duas pessoas interagindo, mas a mulher da frente não participa da interação. Fonte: rawpixel

Observou-se que indivíduos com desordens de humor (depressão, ansiedade, bipolaridade) costumam apresentar hábitos de vida não saudáveis, como alta ingestão de gorduras e açúcares e pouca atividade física. Sendo assim, alguns estudos foram realizados e notou-se que esses indivíduos apresentaram microbiota intestinal diferente de pessoas saudáveis. Por isso, sugere-se que a microbiota intestinal pode estar diretamente relacionada à depressão.

Inicialmente, observou-se alterações no metabolismo de pessoas com depressão. Como o corpo humano é um sistema complexo e que apresenta interações de diferentes formas, foi necessário compreender o quanto a depressão influencia no metabolismo ou o metabolismo na depressão. Em estudo realizado em modelos animais com depressão, foi observado a presença de uma microbiota intestinal com composição anormal. No entanto, não ficou claro se a microbiota desencadeou a depressão ou a depressão a anormalidade na microbiota.

Há algum tempo já é conhecida a importância do intestino no funcionamento geral do corpo. Por isso, o intestino também passou a ser chamado de nosso “segundo cérebro”. Há uma íntima interação entre o cérebro, intestino e a microbiota intestinal, sendo conhecido como sistema cérebro-intestino-microbiota. Levando isso em consideração, é compreensível que haja relação direta entre desordens do humor e a microbiota intestinal.

A importância da microbiota

A microbiota intestinal é influenciada pelos hábitos de vida dos indivíduos, relações interpessoais e acredita-se que pela genética também. Apesar de nem sempre ter sido considerada relevante, a cada dia que passa a microbiota vem demonstrando a sua importância para a saúde humana.

O sistema cérebro-intestino-microbiota é importante, pois eles se comunicam e influenciam entre si. Sendo assim, uma alteração em algum deles irá influenciar no outro, seja de forma negativa ou positiva. Devido a essa relação e a microbiota sofrer grande influência de hábitos de vida saudáveis (alimentação nutritiva e atividade física), a pouco tempo começou a se influenciar a mudança de estilo de vida como forma auxiliar ao tratamento de desordens do humor.

Além de contribuir com a saúde psicológica, a microbiota também influencia na saúde imunológica. A relação entre a microbiota intestinal e o cérebro pode ser um dos fatores que contribuem para as respostas imunológicas inata e adaptativa, que possuem grande importância em nossa saúde. Isto demonstra ainda mais a importância em cultivar uma microbiota saudável.

Relações interpessoais influenciam microbiota

3 mulheres se abraçando
Nós seres humanos somos, por natureza, sociais. Isso faz com que compartilhemos muitas coisas do nosso dia a dia com pessoas próximas. #ParaTodosVerem: três mulheres se abraçando sorridentes em uma rua. A da esquerda é loira com cabelo ondulado e está com um gorro vermelho, a do meio é a mais baixa tem cabelo cacheado e escuro e a mulher da ponta direita tem altura quase igual a primeira e tem cabelo liso e escuro. Fonte: rawpixel

Nossa microbiota é moldável, ou seja, ela pode sofrer modificações a depender da alimentação e das pessoas com quem convivemos. A alimentação é muito conhecida como “principal formadora da microbiota”. Quem nunca ouviu a frase “você é o que você come”? Apesar dessa frase ser usada, muitas vezes, de forma negativa, ela não é mentirosa (falando de nossa microbiota). Nossa alimentação contribui para a formação da microbiota, pois os microrganismos possuem preferências de ambientes e de nutrientes para viver e proliferar.

A influência das pessoas com quem vivemos é variável e um pouco inusitada, mas acontece. Quanto mais íntimo é o contato entre as pessoas, mais alta é a similaridade da microbiota. Uma mãe com seu filho biológico que realizou amamentação até os 3 anos de idade possui o maior nível de similaridade entre os microrganismos encontrados em seus intestinos. Pessoas que convivem na mesma casa também possuem níveis mais altos de semelhança da microbiota quando comparado a indivíduos de fora. E também foi observado que indivíduos que conviveram por longos períodos na mesma casa mantiveram carga reduzida de microrganismos semelhantes em seus intestinos.

Comer bem não possui mal nenhum. Nossa alimentação tem se mostrado cada dia mais importante para a saúde. Ter hábitos de vida saudáveis não vai impedir ou curar o desenvolvimento e sintomas de doenças, no entanto, pode ajudar a ter uma melhor administração deles. O ideal é ter uma alimentação equilibrada e bastante nutritiva, para que se possa obter todos os nutrientes necessários para o bom funcionamento do corpo. Mas nossa microbiota não é composta somente pelo que comemos, sendo influenciada também pelas pessoas com quem convivemos.

perfil Natalia Lopes
Texto revisado por Jennifer Medrades e Ísis V. Biembengut

Cite este artigo:
LOPES, N. R. Comer bem, que mal tem? Revista Blog do Profissão Biotec. V. 10, 2023. Disponível em: <>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

BALANZÁ-MARTÍNEZ, V. et al. Diet and Neurocognition in Mood Disorders – An Overview of the Overlooked. Current Pharmaceutical Design, v. 26, n. 20, p. 2353–2362, 21 jun. 2020.
CHANG, L.; WEI, Y.; HASHIMOTO, K. Brain–gut–microbiota axis in depression: A historical overview and future directions. Brain Research Bulletin, v. 182, p. 44–56, maio 2022.
VALLES-COLOMER, M. et al. The person-to-person transmission landscape of the gut and oral microbiomes. Nature, v. 614, n. 7946, p. 125–135, 2 fev. 2023. 
Fonte da imagem destacada: Rawpixel.

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