Como comentamos no primeiro texto da série “Vida acadêmica na Biotec”, os cursos de mestrado e doutorado no Brasil são ofertados por programas de pós-graduação, que são organizações vinculadas a universidades brasileiras. Para se ter ideia, há, hoje, mais de 4.600 programas de pós-graduação em funcionamento no país, divididos em 49 áreas temáticas.
Diante dessa diversidade, como escolher um programa de pós-graduação para cursar mestrado ou doutorado? Para facilitar a tomada de decisão, confira as dicas que preparamos e que cobrem quatro fatores essenciais para a escolha da pós.
A área de estudo
É possível se graduar em um curso e realizar a pós-graduação em uma área diferente. Logo, a área em que você se graduou não precisa limitar a escolha do campo de estudo da pós-graduação, mas as experiências da graduação podem te ajudar na escolha do curso de mestrado ou doutorado. Por isso, pergunte-se: entre as disciplinas que você cursou, quais te instigaram? Entre as possibilidades de atuação associadas à Biotecnologia, quais te despertam vontade de se aprofundar? Nas respostas podem estar possibilidades para o desenvolvimento da sua dissertação ou tese.
Digamos que você se formou em Biotecnologia e se identifica com a área ambiental. Porém, dentro desse campo, há uma infinidade de possibilidades. Como continuar o processo de escolha? Uma dica é pensar na sua futura pesquisa desta forma: qual verbo você escolheria para representar seu objetivo naquela área? No caso do exemplo da pesquisa na área ambiental, o que você considera mais interessante? Preservar? Remediar? Recuperar?
Também pode ser útil pensar em palavras-chave que você gostaria de explorar ao longo da sua pesquisa. Retomando o exemplo anterior, vamos supor que você se identifica com a Biotecnologia ambiental e o verbo motivador é “remediar”. Quais palavras-chave despertam seu interesse? Você gostaria de remediar o solo? O ar? A água? À medida que você responde a essas perguntas, a definição da área de estudo se afunila e as diversas possibilidades de atuação vão sendo restringidas àquelas que têm mais a ver com você.
O programa de pós-graduação
Depois de definida a potencial área de atuação, é hora de buscar os programas de pós-graduação que oferecem cursos de mestrado ou doutorado naquela área. A busca inicial pode ser realizada na Plataforma Sucupira, na qual é possível acessar as informações dos programas de mestrado e doutorado em funcionamento no país.
Um dos critérios que pode nortear sua escolha é a nota do programa de pós-graduação. A cada quatro anos, os cursos de mestrado e doutorado são avaliados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e recebem uma nota, que varia de 1 a 7. Programas com notas 1 ou 2 são impedidos de funcionar, enquanto aqueles que têm notas 6 ou 7 são considerados de excelência.
Porém, apesar de ser uma métrica da qualidade dos cursos de pós-graduação stricto sensu no Brasil, a nota atribuída pela CAPES não deve ser o único fator na hora de escolher o programa de pós-graduação. Um curso com nota 3 ou 4 não necessariamente oferece qualidade de formação inferior a um cuja nota seja 6 ou 7. Por isso, vale conhecer também o histórico do programa, suas áreas de concentração e linhas de pesquisa, a estrutura curricular, a infraestrutura disponível e os objetivos do curso.
Outro critério importante a observar são as regras de cada programa de pós-graduação. Você provavelmente não assinaria um contrato importante sem lê-lo antes, certo? Da mesma forma, não é recomendado entrar na pós-graduação sem ler o “contrato” ao qual você se sujeitará em caso de aprovação.
Portanto, leia não apenas o edital do processo seletivo, mas também o regimento e normas dos programas que você está pensando cursar. Atente-se, por exemplo, aos prazos a cumprir, quais e quantos marcos intermediários como exames de qualificação são necessários, quais os critérios exigidos para a obtenção do diploma, entre outros. A leitura das regras pode te poupar de futuras frustrações e quebra de expectativas. Além disso, a comparação entre diferentes programas pode te auxiliar a encontrar o que esteja mais alinhado aos seus planos.
Se possível, também visite, pessoalmente ou virtualmente, o programa de pós-graduação e conheça suas instalações. Veja como é a infraestrutura, quais recursos estão disponíveis e se são suficientes para o desenvolvimento da sua pesquisa. O programa não precisa necessariamente ter à disposição todos os equipamentos e técnicas de que você precisará, mas deve te oferecer o mínimo necessário, pelo menos para as etapas iniciais do trabalho.
Possibilidade de bolsa
Como comentamos no primeiro texto da série, a bolsa é uma espécie de “salário” do pós-graduando. Porém, a sua aprovação no mestrado ou doutorado não necessariamente implica que você receberá uma bolsa automaticamente. Isso dependerá, em geral, da quantidade de bolsas que o programa tem à disposição e da sua classificação no processo seletivo. Por isso, caso deseje receber bolsa, é preciso consultar o programa de pós-graduação quanto à disponibilidade, que, infelizmente, costuma ser menor que a demanda.
Um ponto a considerar é o valor das bolsas, que varia conforme a agência de fomento. Além disso, geralmente não é permitido aos bolsistas que realizem atividades remuneradas extras. Por isso, é importante ponderar se a bolsa será suficiente para se manter e cobrir seus custos na cidade em que se localiza o curso de mestrado ou doutorado.
Há casos em que é possível exercer atividade remunerada e cursar o mestrado ou doutorado paralelamente, mas sem direito à bolsa. Porém, se você preferir ter um vínculo empregatício durante o mestrado ou doutorado, é preciso conhecer as regras e verificar se isso é permitido, pois há programas de pós-graduação que requerem dedicação exclusiva de seus alunos, mesmo sem recebimento de bolsa.
O orientador
Converse com vários pós-graduandos e, provavelmente, a maioria te dirá que a relação com o orientador é um dos principais fatores para o sucesso (ou não) da formação acadêmica durante o mestrado ou o doutorado. Isso porque o orientador é uma figura-chave no percurso da pós-graduação: é ele ou ela quem ajuda a definir o projeto de pesquisa, supervisiona as atividades de pesquisa e docência do futuro mestre ou doutor, preside as bancas que irão avaliar o aluno, gerencia recursos, entre outras atribuições. Dependendo da relação entre vocês, o orientador pode até mesmo abrir portas para a sua carreira.
O orientador deve ser um professor credenciado no programa de pós-graduação no qual você pretende ingressar. Alguns programas requerem que os candidatos entrem em contato com o potencial orientador antes ou durante o processo seletivo. Mesmo se não for o caso, vale a pena conversar com alguns professores e conhecer as suas linhas de pesquisa antes de decidir qual será o tema do seu estudo.
Além disso, é importante estabelecer o diálogo franco com os potenciais orientadores desde o início da relação. Por isso, procure discutir com os candidatos a orientador quais seus planos para a pós-graduação e para a sua carreira de modo geral, mesmo que ainda não tenha clareza. Seu orientador, enquanto responsável pelo seu andamento na pós-graduação, deverá estar ciente e de acordo com qualquer atividade que você deseja realizar, como intercâmbios e colaborações com outros grupos de pesquisa. Então, a conversa honesta pode, inclusive, auxiliar na escolha do orientador que melhor te guiará na construção da sua trajetória, além de evitar conflitos e frustrações no futuro.
Outro ponto a considerar é o perfil e a afinidade entre você e o seu futuro orientador. No ambiente acadêmico, encontramos vários tipos de orientadores, desde aquele que pega o aluno pela mão até o que é muito ocupado e que terá pouco tempo disponível para te atender. E, infelizmente, não são raros os casos de alunos que têm uma relação conturbada e insatisfatória com o orientador, o que acaba prejudicando a experiência e o processo de formação do pós-graduando.
Por isso, é importante buscar um orientador que tenha perfil compatível com o seu, afinal você vai trabalhar por vários meses ou anos com aquela pessoa. Então, se pergunte: o que você espera da orientação? O orientador nem sempre conseguirá oferecer tudo que você almeja. Pode ser que seu orientador garanta acesso a vários recursos, mas talvez não consiga dedicar muito tempo ao acompanhamento da pesquisa. Por outro lado, pode ser que seu orientador esteja presente ao longo do desenvolvimento do trabalho, mas não tenha ainda tanta visibilidade no meio acadêmico.
Logo, vale a reflexão: o que é prioridade para você na pós-graduação? Publicar vários artigos? Entrar em um projeto de pesquisa consolidado? Ter autonomia? Essas respostas podem te auxiliar a encontrar um orientador com perfil alinhado ao seu.
E como descobrir qual o perfil do potencial orientador? Uma dica é conversar com outras pessoas que estiveram ou estão sob a orientação daquela pessoa. A informação sobre os orientados pode ser encontrada no Currículo Lattes do professor, na seção “Orientações”. Você pode localizar essas pessoas no LinkedIn, por exemplo, e se conectar a elas para perguntar sobre como é o trabalho com aquele orientador.
A escolha do curso de mestrado ou doutorado deve englobar vários fatores em função das diversas possibilidades existentes. Os critérios que apresentamos aqui são apenas algumas das variáveis a considerar na complexa equação que vai embasar sua escolha, mas são essenciais para alinhar suas expectativas aos objetivos da pós-graduação. Por isso, considere cuidadosamente em qual área você deseja se especializar, como o programa de pós-graduação escolhido atende às suas expectativas e quem estará ao seu lado participando da sua formação.
Para ficar por dentro do universo acadêmico, continue acompanhando a série “Vida acadêmica na Biotec”. No próximo texto, traremos dicas para o processo seletivo para ingresso no mestrado ou no doutorado. Até lá!
Cite este artigo:
LATOCHESKI, E. C. Como escolher a pós-graduação? Revista Blog do Profissão Biotec, v.10, 2023. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/como-escolher-pos-graduacao/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.