O mundo inteiro está em alerta com a pandemia do coronavírus e o Profissão Biotec vai te mostrar como a biotecnologia pode ser uma grande aliada na prevenção, detecção e tratamento da COVID-19.
Coronavírus: por que foi declarada a pandemia?
No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou como pandemia a infecção causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), chamada de COVID-19. O termo pandemia significa que uma doença foi amplamente disseminada no mundo, atingindo quase todos os continentes e provocando milhares de mortes.
O novo coronavírus e o vírus influenza (vírus da gripe) são agentes contagiosos que causam doenças respiratórias, mas as informações iniciais indicam que o novo coronavírus é mais contagioso e mais letal do que a gripe sazonal. Na gripe comum, cada pessoa infectada pode passar a doença para 1,3 pessoas em média. No caso do vírus SARS-CoV-2 esse número fica entre 2 – 3, ou seja, a esse vírus se espalha mais facilmente. Além disso, enquanto a taxa de letalidade da gripe comum é de 0,3%, na COVID-19 essa taxa chega a 2%.
Apesar de ter sintomas semelhantes aos da gripe e resfriado (veja mais neste link), a dificuldade respiratória é um sinal de alerta entre os sintomas para a COVID-19, e a principal causa de internações hospitalares dos pacientes sintomáticos.
A família dos coronavírus já foi responsável por outros surtos recentes, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que matou 774 pessoas em 2002; e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) que provocou 858 mortes em 2012. Porém, diante do elevado número de mortes (até o momento a COVID-19 já matou mais do que a SARS e MERS juntas) e da rapidez da disseminação do vírus entre os países, a Organização Mundial da Saúde classificou a COVID-19 como “surto sem precedentes“ e decretou situação de emergência de saúde pública internacional.
Nesse contexto de pandemia, como a biotecnologia pode nos ajudar? O Profissão Biotec te mostra agora!
1- Avanços biotecnológicos na detecção
Atualmente, as técnicas e testes utilizados para detectar a Covid-19 utilizam recursos biotecnológicos.
“Hoje, com a biotecnologia, rapidamente temos as ferramentas para confirmar casos. Com os surtos anteriores de coronavírus, os laboratórios não tinham como fazer isso tão rápido. Muitos casos permaneciam como suspeitas. E, claro, neste tempo, também aumentou a população mundial e a circulação de pessoas“, ressalta Kleber Luz, professor do Instituto de Medicina Tropical da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
RT – PCR
Um dos testes mais utilizados para diagnóstico é o RT – PCR (Reverse transcription polymerase chain reaction), técnica de biologia molecular que é considerada o “padrão ouro” para esse tipo de análise, sendo a mais precisa e efetiva na confirmação da doença.
Nesse teste, por meio de reagentes específicos, é possível amplificar um fragmento do material genético do vírus na amostra do paciente, caso ele esteja infectado. Ou seja, a RT-PCR consegue detectar a presença do vírus pelo seu material genético, e por essa identificação ser tão específica, o risco de falsos positivos é baixo. O teste é realizado com amostras de secreção do nariz e garganta, coletados com um swab (material semelhante a um cotonete) e demora, em média, 2 dias para ficar pronto.
Kits rápidos
Há também kits rápidos de detecção da COVID-19. Esses kits detectam presença de anticorpos contra o vírus e utilizam amostras de sangue, plasma ou soro do paciente. Essa amostra é depositada na cavidade do dispositivo, onde também é adicionado o diluente (produto que vai reagir com a amostra e permitir a detecção dos anticorpos tipo IgM ou IgG). O surgimento das linhas M ou G indica presença de anticorpos para coronavírus na amostra, ou seja, o resultado é positivo ou, em termos mais técnicos, reagente. Esses testes tem especificidade, em média, de 95%.
Esses kits de detecção emitem resultados rápidos e isso permite maior agilidade para iniciar o tratamento dos pacientes infectados, ou ajuda na identificação de pacientes assintomáticos (que não apresentam sintomas mas que podem propagar a doença), controlando a disseminação do vírus.
CRISPR: uma nova possibilidade de teste de detecção
Os pesquisadores vêm buscando na técnica de CRISPR (conheça mais sobre a técnica neste texto) uma forma rápida para detecção do coronavírus. Para isso, utiliza-se o mecanismo do método de CRISPR de reconhecer sequências genéticas específicas e cortá-las, além de cortar também uma molécula “repórter” que, por fluorescência, indica a presença do material genético do coronavírus.
Um grupo de pesquisadores, da Faculdade de Medicina na Universidade de Washington, já está validando e otimizando a técnica, e amostras dos testes já foram disponibilizadas para laboratórios em todo o mundo.
Outro grupo, o da Mammoth Biosciences (empresa de biotecnologia da Califórnia, São Francisco) também está validando um teste de detecção do coronavírus baseado no CRISPR. “A principal vantagem é que uma reação CRISPR é incrivelmente específica e pode ser realizada em 5 a 10 minutos“, afirma Charles Chiu, médico da Universidade da Califórnia, que trabalha na Mammoth Biosciences.
2- Avanços biotecnológicos na prevenção e tratamento
Além de auxiliar no diagnóstico da COVID-19, a biotecnologia também pode auxiliar na elaboração de uma vacina para prevenção dessa doença. Como a população ainda não tem imunidade para esse vírus, a produção de uma vacina será essencial para o controle da doença no futuro.
“Ao contrário da gripe sazonal, em que há um número de pessoas que não são infectáveis porque tem imunidade, ninguém tem imunidade contra este vírus, então ele vai infectar muito mais gente que a gripe sazonal, e por isso, mesmo se tiver a mesma letalidade que a gripe, o número absoluto de casos será muito maior, e isso representará um desafio ao sistema hospitalar.”, afirma o pesquisador Adolfo García-Sastre, do Hospital Monte Sinai de Nova York (em tradução livre).
A GlaxoSmithKline, farmacêutica com sede em Londres (Reino Unido), está desenvolvendo um tratamento adjuvante, uma substância capaz de intensificar a produção de anticorpos, fortalecendo o sistema imune do paciente. A mesma tecnologia também está sendo estudada pela Clover Biopharmaceuticals Inc., empresa de biotecnologia chinesa, que já está em testes pré-clínicos para uma vacina contra COVID-19.
A Regeneron Pharmaceuticals, empresa de biotecnologia sediada em Nova York (EUA), está desenvolvendo anticorpos monoclonais capazes de induzir no paciente a produção de anticorpos contra o novo coronavírus. Esses anticorpos poderiam ser utilizados na produção de doses profiláticas ou no tratamento da COVID-19. Os testes já estão sendo realizados em roedores geneticamente modificados (com sistemas imunológicos humanizados).
A Vir, empresa de biotecnologia em São Francisco (EUA), e a WuXi Biologics, empresa de biotecnologia em Xangai (China), estão trabalhando juntas para também testar anticorpos monoclonais como tratamento para COVID-19.
A Moderna Pharmaceuticals, empresa de biotecnologia sediada em Massachusetts (EUA), está desenvolvendo uma vacina gênica, a partir do RNA do vírus. A solução é injetada em uma nanopartícula e depois transferida para o paciente, onde estimula o organismo a produzir anticorpos contra uma proteína específica do vírus, bloqueando a entrada dele nas células. Apesar de ter sido elaborada em apenas 42 dias, a vacina gênica ainda precisa ser validada em testes clínicos para ser comercializada.
Confira outros tratamentos e algumas vacinas em desenvolvimento contra a COVID-19 em nosso texto: “Conheça os tratamentos em desenvolvimento para COVID-19“
Biotecnologia é nossa aliada!
Apesar dos testes de diagnóstico para COVID-19 terem sido produzidos em velocidade recorde por meio de recursos biotecnológicos, ainda precisamos de alguns meses para finalização e aprovação de uma vacina contra coronavírus (visto que as análises de eficácia e biossegurança são os processos mais demorados). Todas as empresas citadas no texto afirmam que as vacinas e tratamentos ainda estão em fase de elaboração ou testes e, portanto, só estarão disponíveis para comercialização daqui a pelo menos 1 ano.
Atualmente, os cientistas do mundo inteiro, inclusive brasileiros, estão engajados nessa busca e garantem que é apenas uma questão de tempo! Mais uma vez a biotecnologia demonstra que está pronta para nos ajudar em mais esse novo desafio!
Mas enquanto a ciência não desenvolve a vacina que irá nos proteger do coronavírus, vamos manter os cuidados recomendados pela OMS: lavar as mãos com frequência e evitar aglomerações, ficando em casa, sempre que possível!! Enquanto a ciência faz a parte dela, nós fazemos a nossa parte, combinado?