Toda criança, por natureza, é extremamente ativa! É isso que caracteriza a fase, é isso o que elas são! Mas sempre tem aquela que não fica quieta nem pra dormir, que perde o interesse muito fácil, seja pelos brinquedos ou pela lição de casa; que faz judô, karatê, dança, escola em período integral e, quando chega em casa, ainda tem energia pra correr uma maratona. Alguns acham que é só mais uma pessoa “ligada no 220V”; outros associam a uma suposta má criação; mas pode ser que ambos estejam errados: talvez a criança tenha transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o TDAH é um transtorno neurobiológico que surge na infância e geralmente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Indivíduos com TDAH são frequentemente rotulados como impulsivos, inquietos, facilmente irritáveis, falantes, desatentos e/ou com humor variado. Mas então, de onde vem esse transtorno?
Não existe uma causa definida, o que caracteriza o TDAH como multifatorial. Acredita-se que haja uma soma de fatores como genética, exposição ao estresse e estilo de vida, e que apenas um deles não é determinante. Isso significa, por exemplo, que mesmo com toda a carga genética, uma criança que vive numa rotina organizada e planejada tem menos chances de sofrer com os sintomas do que uma que vive num ambiente contrário.
O TDAH pode ser de três tipos:
- Predominantemente desatento: Dificuldade em prestar atenção e manter a concentração por períodos de tempo em assuntos que são pouco interessantes para a pessoa.
- Predominantemente hiperativo e impulsivo: Dificuldade em manter-se sossegado no mesmo local quando a tarefa/conversa não é interessante para a pessoa. Outro aspecto é a dificuldade em parar para pensar/analisar as consequências da ação que está prestes a iniciar.
- Combinado (desatento + hiperativo): É o mais comum dos três tipos de hiperatividade. A pessoa é desatenta, hiperativa e impulsiva.
Estudos com famílias inteiras e gêmeos demonstraram que esse distúrbio possui alta hereditariedade (passado dos pais pros filhos), com 76% das manifestações comportamentais ligadas a fatores genéticos. Se um de seus pais é hiperativo, você tem 30% de chance de desenvolver o transtorno e, se ambos apresentarem os sintomas, as suas chances aumentam para 50%.
Os avanços na biologia molecular possibilitaram o desenvolvimento de ferramentas que podem auxiliar na detecção dos genes relacionados ao TDAH. A partir disto, quem sabe em um futuro próximo, poderemos desenvolver métodos de diagnóstico precoce e tratamentos mais direcionados. Confira a seguir três trabalhos que associam a genética e o TDAH:
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Diminuição de dopamina
Uma pesquisa realizada na Alemanha em 2014, com 1774 pacientes (553 com TDAH e 1285 sem o transtorno), utilizando a técnica de PCR em tempo real (onde é possível amplificar e detectar o DNA simultaneamente com resultados quantitativos), observou que uma variação genética no gene PARK2 está muito mais presente nos participantes com TDAH. Isso demonstra a suscetibilidade ao desenvolvimento da doença quando essa mutação está presente.
A proteína codificada por esse gene aumenta a degradação do transportador de dopamina, um neurotransmissor estimulante do sistema nervoso, responsável principalmente pelo sentimento de recompensa e satisfação. Com o transportador degradado, essa substância é menos utilizada pelo corpo, o que pode causar insônia, distúrbios de humor, falta de concentração e memória, além de já ser associada ao Mal de Parkinson.
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Modulação inadequada de GABA
Estudos recentes sugeriram que uma modulação inadequada do ácido γ-aminobutírico (GABA, principal neurotransmissor inibidor do sistema nervoso) tem um papel importante nos sintomas de hiperatividade/impulsividade do TDAH devido à desinibição comportamental promovida. Esse erro de modulação pode ocorrer devido a um polimorfismo de nucleotídeo único (SNP, onde ocorre a modificação de uma base do DNA por outra) no gene da descarboxilase do ácido glutâmico (GAD1), que codifica uma enzima chave da biossíntese de GABA.
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Intensidade ligada ao sexo
Embora o diagnóstico de TDAH tenha uma prevalência maior em homens, um estudo com dados de quase 2 milhões de suecos que avaliou a ocorrência de diferentes SNPs já relacionados ao transtorno não encontrou diferenças significativas que justificassem a diferença observada no contexto clínico. Entretanto, também foi observado que, embora sejam menos diagnosticadas, mulheres com TDAH possuem um maior risco de desenvolver comorbidades (ocorrência de mais de um transtorno ao mesmo tempo) em comparação com os homens afetados.
Tendo em vista que existem vários fatores que contribuem para o desenvolvimento de TDAH, tudo o que se possa descobrir que contribua para a minimização dessa “soma” é válido. Como iremos regular os níveis de neurotransmissores se não soubermos quais estão envolvidos? Como vamos prestar mais atenção nas comorbidades se não sabemos quem pode desenvolvê-las?
Embora possa parecer que identificar os genes relacionados com a maior probabilidade de desenvolver o transtorno de déficit de atenção seja muito “primário”, esses passos são muito importantes para grandes realizações relacionadas a um produto final como um método diagnóstico ou um protocolo direcionado de tratamento. Toda ciência de ponta precisa de uma base!
Atualmente existem diversos protocolos de tratamento para TDAH, que vão desde o “condicionamento” para a realização de funções até terapias e uso de medicamentos. Cada caso é um caso e tudo varia de acordo com o tipo e intensidade do transtorno.
Se você se identificou com os fatores listados no início do texto e está com “uma pulga atrás da orelha”, clique aqui para fazer o teste desenvolvido pelo Instituto Paulista de Déficit de Atenção (IPDA), centro de referência em TDAH, e procure um médico especialista para um diagnóstico mais completo.