Pandemia. Até 2 anos atrás, a maioria das pessoas nunca tinha ouvido essa palavra, ou pelo menos não usava ela com frequência. Mas já houveram outras pandemias na história da humanidade que mataram tanto quanto ou mais do que a da Covid-19. Graças aos esforços da ciência, com a vacinação já podemos enxergar uma luz no fim do túnel de que logo essa pandemia acabará.
No entanto, não podemos descansar, pois novas pandemias podem surgir a qualquer momento, de praticamente qualquer lugar do planeta. Já existem pessoas preocupadas com isso, tentando prever de onde virá a próxima pandemia. Mas como podemos prever isso? E como evitar que ela dizime tantas vidas? É o que será discutido nesse texto.
O que é uma pandemia?
Primeiramente vamos entender o que é uma pandemia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pandemia é a disseminação mundial de uma nova doença e uma epidemia se torna uma pandemia quando a doença se espalha por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa.
Além dessa definição, com base nas pandemias que já ocorreram, podemos listar algumas características de uma pandemia. Em geral, as pandemias são provocadas por um vírus, mas também existem aquelas que foram causadas por outros tipos de patógenos, como bactérias.
Uma característica comum é que muitos desses patógenos são parasitas presentes em animais silvestres e selvagens, e normalmente não lhes causam doenças. No entanto, a proximidade do ser humano com esses animais faz com que sejamos contaminados com seus parasitas, esses por sua vez, podem ter potencial patogênico para o ser humano e causar uma doença. Caso essa doença seja transmissível de pessoa para pessoa, ela poderá se tornar uma epidemia, ou uma pandemia.
Reservatórios primários de vírus
Os principais animais que são considerados potenciais reservatórios de vírus são os macacos, roedores e morcegos. Atualmente, no Brasil são conhecidas 178 espécies de morcegos, 139 de macacos e 232 de roedores, e no mundo, 1200 espécies de morcegos, 522 de macacos e 2000 de roedores. Além da variedade de espécies, esses animais são preocupantes por conta de sua proximidade com o ser humano.
No entanto, não podemos deixar de citar os animais domésticos que também possuem potencial de transmissão de patógenos aos humanos, como gatos, cachorros, bois, porcos e galinhas. E outros animais selvagens como preguiças, saguis, tentilhões e várias outras aves e mamíferos. O contato do ser humano com esses animais aumenta muito à medida que o desmatamento se intensifica e invadimos os habitats naturais desses animais. Essa prática não é prejudicial apenas a eles, mas também a nós.
Nossas ações influenciam se teremos ou não contato com animais que carregam esses patógenos, por esse motivo não devemos culpar os animais ou caçá-los com medo das consequências de nossos próprios atos. A iniciativa correta é reduzir o desmatamento.
Mesmo para doenças que são transmitidas por vetores como os mosquitos, o desmatamento é um problema. Existe uma hipótese chamada efeito de diluição que diz que quanto maior for a biodiversidade de uma floresta, menor será a probabilidade dos mosquitos disseminarem doenças, porque terão mais alvos para picarem e a maioria das espécies picadas não será capaz de incubar o vírus transmitido.
Por outro lado, o desmatamento reduz a biodiversidade de uma área e muitas vezes aproxima o ser humano ou algumas espécies específicas dos mosquitos transmissores de vírus patogênicos. Um exemplo disso é o vírus da febre amarela, que estava incubado em macacos selvagens, mas devido ao desastre ambiental do rompimento de barragem em Mariana (Minas Gerais) voltou a infectar as pessoas. Essa relação de causa e efeito ainda é discutida, mas evidências apontam para esse fato.
Vírus com potencial de causar surto em grande escala
Já são conhecidos alguns vírus que possuem potencial para causar surtos em grande escala. Por exemplo, no Brasil existem os vírus Oropouche, Mayaro e Zyka que causam preocupação nos pesquisadores. O vírus Oropouche é causador de uma doença cujos sintomas são febre, dor de cabeça e dores nas articulações. Ele é transmitido pelo mosquito Culicoides paraensis e está presente no norte do Brasil, Panamá, seis países sul-americanos e em Trinidad e Tobago.
O vírus Mayaro é transmitido principalmente pelo mosquito Haemagogus janthinomys, mas sabe-se que pode também ser carregado pelo Aedes aegypti e Aedes albopictus, duas espécies que são amplamente distribuídas em regiões tropicais e subtropicais, além do Aedes aegypti que também é muito adaptado às cidades. A infecção pelo Mayaro causa febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas articulações e em casos mais graves encefalite.
O vírus Zika foi identificado inicialmente na África no ano de 1947 e depois se espalhou pela Oceania e América latina. Ele também é transmitido pelo Aedes aegypti e pode causar febre, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor nas articulações e nos músculos, irritação na pele e vômito. Além disso, hoje sabe-se que o vírus Zika pode causar microcefalia e outros defeitos congênitos em bebês.
Esses são apenas 3 dos muitos vírus conhecidos que podem se tornar epidêmicos ou pandêmicos. Um agravante é que a maioria das infecções por vírus causam sintomas muito parecidos. Isso faz com que em regiões onde a dengue e a malária são comuns, a maioria das doenças com sintomas semelhantes sejam diagnosticadas, sem muita investigação, como dengue ou malária. Essa conduta mascara o aparecimento de novos vírus. Por isso, há a necessidade de estudarmos os vírus circulantes nos animais e nos humanos e desenvolvermos métodos de diagnósticos cada vez mais precisos.
De onde virá a próxima pandemia?
A verdade é que não temos a resposta para essa pergunta, mas já temos muitas possibilidades de resposta! Temos conhecimento suficiente para mapear os possíveis locais de aparecimento de novas doenças. As áreas com superpopulação, grande índice de desmatamento, contato próximo de seres humanos e animais são considerados os principais locais de perigo.
Além disso, precisamos estudar quais animais são reservatórios naturais de quais vírus específicos, estudar o mecanismo de transmissão desses vírus e quais doenças causam. Esse conhecimento é essencial para que estejamos preparados para a próxima pandemia. A pandemia do coronavírus, por exemplo, apesar de ter infectado e matado muitas pessoas, foi controlada de maneira eficiente em vários locais e o desenvolvimento das vacinas contra esse vírus aconteceu em tempo recorde, porque já possuíamos conhecimento básico sobre esse tipo de vírus.
Conhecemos hoje as estratégias necessárias para evitar que doenças futuras causem um impacto tão grande na população mundial: precisamos de investimento em ciência básica e aplicada, políticas públicas de controle e prevenção de doenças e conscientização da população e sobre a importância de obedecer as recomendações sanitárias e de saúde pública. Caso isso não aconteça, podemos esperar por outras pandemias que continuarão a causar muitas mortes pelo mundo.
Cite este artigo:
MEDRADES, J. P. De onde virá a próxima pandemia? Revista Blog do Profissão Biotec, v.8, 2021. Disponível em:<https://profissaobiotec.com.br/de-onde-vira-a-proxima-pandemia/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências
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