De forma simples, pode-se dizer que intolerância, no âmbito alimentar, diz respeito à dificuldade do organismo em digerir alguma substância. A lactose, por sua vez, é um açúcar presente no leite e, consequentemente, na maioria dos seus derivados. Portanto, quando se fala em intolerância à lactose entende-se como uma dificuldade do organismo em digerir esse açúcar.
A lactose é exclusivamente encontrada no leite e tem a finalidade de ser fonte de energia para o nosso corpo. É um dissacarídeo, isto é, uma molécula de açúcar formada a partir de dois monossacarídeos (açúcares mais simples), a glicose e galactose, unidos por uma ligação glicosídica, conforme abaixo.
Para ser aproveitada pelo organismo, a lactose precisa ser hidrolisada (quebrada) em seus monossacarídeos correspondentes e, para tanto, uma enzima entra em cena: a β–D galactosidase, mais conhecida como lactase.
A metabolização da lactose começa no intestino delgado, pois é onde a lactase se encontra, principalmente na porção do jejuno. Os açúcares gerados após a hidrólise da lactose são transportados e levados para serem metabolizados no fígado.
Na ausência da lactase, a lactose não consegue ser hidrolisada e é acumulada nas regiões do intestino delgado e grosso, iniciando um processo de fermentação em virtude dos microrganismos ali presentes. Esse processo fermentativo gera diversos desconfortos intestinais, como a produção de gases naturais como metano e gás carbônico, além de ocasionar retenção de água e aumentar a pressão osmótica no intestino grosso (o que pode levar à diarreia), revelando os sinais e sintomas da intolerância à lactose.
Há quatro categorias para classificar a intolerância à lactose, sendo elas:
Como alternativas para o consumo de produtos lácteos para intolerantes à lactose, muitas empresas têm investido em produtos livres de lactose. Um exemplo disso vem da indústria Valio, que utiliza uma tecnologia livre de lactose, a Valio Eila®, para a produção de leite com menos de 0,01% de lactose. A remoção da lactose ocorre por meio de um sistema de filtração por membranas.
Outro caso é o desenvolvimento de uma lactase comercial a partir de Bifidobacterium bifidum, uma bactéria. Conhecida como Saphera®, ela vem sendo produzida pela Novozymes, empresa dinamarquesa da área da biotecnologia, confere só!
Ao passo que a Valio produz uma gama de produtos lácteos sem lactose para atender à população, a Novozymes vende a enzima Saphera® em diversas formulações para que os produtores de produtos lácteos obtenham desde cremes e sorvetes até o próprio leite fresco sem lactose. É o poder da biotecnologia em solucionar o mesmo problema de maneiras diferentes!
Diversas alternativas já recheiam o mercado alimentício, todas elas com o benefício geral de atender à demanda de 70% da população adulta mundial que apresenta alguma deficiência em níveis de lactase (Lule et al, 2016). E não podemos esquecer do papel fundamental da biotecnologia em trazer cada vez mais alternativas na obtenção de produtos e derivados lácteos que atendam à toda a população, sobretudo aos intolerantes à lactose. É a biotecnologia revolucionando também o mercado alimentício!
Referências:
CALSING, Gabriela. Intolerância à lactose, 2013. Disponível em: <http://www.salusnutricao.com.br/intolerancia-a-lactose/>. Acesso. Dez. 2017.
DE REZENDE, Rafaela Couto. Lactose, [s. d.]. Disponível em :<https://www.infoescola.com/bioquimica/lactose/>. Acesso. Dez. 2017.
GASPARIN, Fabiana Silva Rodrigues; CARVALHO, Jéssica Margato Teles; DE ARAUJO, Sabrina Calaresi. Alergia à proteína do leite de vaca versus intolerância à lactose: as diferenças e semelhanças. Saúde e Pesquisa, v. 3, n. 1, 2010.
LULE, V. K. et al. Food Intolerance: Lactose Intolerance. Encyclopedia of Food and Health, n. September 2015, p. 43-48, 2016.
QUILICI, Flávio Antonio; MISSIO, Alessandra Missio. Intolerância à lactose. Unidade Integrada de Gastroenterologia, Campinas, [s. d].