Não somente em tempos de isolamento social e da pandemia do coronavírus que precisamos estar atentos com notícias falsas, as chamadas fake news. Sempre podemos nos deparar com reportagens que parecem boas demais para serem verdade, como curas milagrosas, teorias da conspiração ou ainda, informações que vieram de fontes verídicas, mas que tiveram dados alterados e exagerados desnecessariamente ao serem divulgadas.
Mas, como saber quão longe um dado verdadeiro e importante – circulou até se tornar equivocado?
É com essa última pergunta em mente que um grupo de pesquisadores da Universidade de Westminster, em Londres, realizou um estudo publicado em fevereiro de 2020. Os cientistas queriam saber até que ponto a divulgação científica deixa de ser didática e acessível para a maioria da população para se tornar sensacionalista, como uma forma de atrair mais cliques e acessos.
Para tal, ao longo de um ano, o grupo investigou 520 publicações científicas e as notícias ligadas a elas que foram publicadas em redes sociais. O resultado da análise foi desanimador: os cientistas descobriram que o conhecimento científico na maioria das vezes é reinterpretado, ou traduzido incorretamente, e seu real significado é frequentemente perdido nessa nova interpretação. Quase como um jogo de “telefone sem fio”, onde a informação final acaba sendo diferente da mensagem original.
É ressaltado por eles que o conhecimento científico não é simplesmente reformulado ou simplificado para ser mais acessível, mas ocorrem verdadeiras transformações de conclusões e processos da pesquisa, que para serem comprovadas, seriam necessárias novas análises aplicadas aos estudos divulgados.
Como podemos ter essa noção científica de diferenciar notícias que divulgam informações corretas, daquelas que distorcem os fatos para chamar atenção?
Existem algumas coisas importantes, listadas pelos autores do estudo, que os leitores podem fazer para identificar quando o conhecimento científico está sendo relatado de maneira enganosa ou imprecisa, e chegar ao que a evidência realmente mostra.
Passos para ler notícias como um cientista
Passo 1: Lembre-se do quanto um fato verdadeiro pode ser mudado.
A primeira coisa a fazer é simplesmente estar ciente de quanto um dado importante na publicação original pode ser reinterpretado, modificado e até completamente ignorado, dependendo de quem o transmite, entende ou escolhe apresentar. Lembre-se do “telefone sem fio”: o sussurro dito pela primeira pessoa no início do jogo pode ser entendido de forma completamente diferente pelo último participante.
Passo 2: Cuidado com frases extravagantes.
É sempre importante estar atento a afirmações grandes e/ou surpreendentes que podem ser exageradas (como uma cura simples e ao mesmo tempo milagrosa). Afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias.
Passo 3: Procure por fatos precisos e pouco ambíguos.
Verifique na reportagem ou mensagem que está lendo o quão precisos são os detalhes e dados apresentados sobre a pesquisa. Dizer que um experimento provou um fato específico é uma evidência muito mais forte do que dizer que um resultado sugere algo que pode acontecer no futuro.
Passo 4: Sempre busque pela referência original.
Procure uma referência ou um link para a fonte original no texto que estiver lendo, como os que colocamos em “Referências”, logo abaixo. Se essa informação existir, é mais provável que quem escreveu o texto tenha lido a pesquisa original e entenda realmente o que ela quis dizer.
Passo 5: Verifique de quem são as conclusões do texto.
Tente verificar se os argumentos do texto são dos cientistas que realizaram a pesquisa ou são uma interpretação de quem o escreveu. Isso significa procurar citações ou comparar com o trabalho de pesquisa original, se você puder fazer isso.
Passo 6: Essa mesma notícia está sendo divulgada em outro veículo de notícias?
Veja se outros lugares, como sites confiáveis de notícias, estão relatando as mesmas histórias lidas no texto. Se apenas um veículo de notícias ou uma mensagem estiver relatando uma “descoberta incrível”, talvez seja melhor tratar essa informação com um pouco mais de ceticismo.
O desenvolvimento dessas habilidades de observação de textos que você recebe ou encontra em redes sociais pode ajudá-lo a discernir em quais fontes você deve ou não confiar e, assim evitar que as fake news continuem circulando.
E essas habilidades serão úteis não somente durante a pandemia do coronavírus, mas sempre que houverem divulgações importantes da comunidade científica, que são essenciais para o desenvolvimento da sociedade!
Compartilhe esse texto com seus amigos, em especial com aqueles que podem ajudar a fazer a diferença na forma como a ciência é divulgada!