O mês de Dezembro é marcado pelas férias escolares, chegada do verão e comemorações milenares, como Natal e Réveillon. Nem todos sabem, mas há 26 anos uma nova data importante foi incluída nesse mês: O Dia Mundial de Combate à AIDS, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Nessa data campanhas, congressos e eventos têm como principal objetivo difundir conhecimento à população geral sobre prevenção, tratamento e cuidados relativos à AIDS. No mês de Novembro desse ano, o Brasil deu um passo a mais nessa luta, com a implementação do “Dezembro Vermelho”, a partir da aprovação e publicação da Lei 13.504, que institui uma campanha de prevenção não só a HIV/AIDS, mas também a outras infecções sexualmente transmissíveis, no último mês do ano.
As ações realizadas ao longo desses anos parecem estar surtindo efeito, sendo que agora mais da metade (53%) das pessoas com HIV no mundo têm acesso ao tratamento e a taxa de infecção infantil diminuiu 47% desde 2006, segundo relatório estatístico do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS).
Entretanto, infelizmente nem tudo são flores. Enquanto as estatísticas gerais diminuem, a infecção ainda acomete 36,7 milhões de pessoas no mundo e, em algumas regiões do planeta, há o aumento de infecção e morte, sobretudo em mulheres e crianças. Por conta disso, se quisermos atingir a meta da ONU de eliminar a epidemia até 2030, há ainda muito trabalho a ser feito, como dito pelo próprio secretário-geral em declaração para a data especial.
A questão é que, embora seja extremamente importante agir na prevenção e no tratamento paliativo, o maior problema das pessoas com a infecção é o seguinte: não há cura. Embora já tenha sido registrada a primeira cura comprovada do mundo em 2006, ela não é aplicável em larga escala e talvez nunca mais seja reproduzida, já que foi obtida por meio de um transplante de medula de um doador com mutações linfocitárias, o que tornou doador e receptor imunes ao vírus. Você pode ler mais sobre isso aqui e aqui!
Inúmeras iniciativas em busca da tão sonhada cura para a AIDS/HIV têm sido realizadas desde a descoberta da doença, mas, devido à complexidade da infecção (em termos simples, o vírus se hospeda nas células de defesa do organismo), ainda não foi alcançada. Nos últimos anos, a biotecnologia tem sido fundamental no avanço das pesquisas para este fim. Confira abaixo 3 avanços recentes e 2 tentativas extras na busca pela cura da infecção por HIV:
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Eliminação de reservatório viral
Uma das terapias mais avançadas que temos hoje está em fase IIa de testes e pertence à empresa francesa Abivax. A tecnologia consiste no uso de pequenas moléculas capazes não só de inibir a replicação, mas sobretudo de reduzir a quantidade de vírus dentro das células, o que os medicamentos atuais ainda não são capazes de fazer.
A molécula ABX464 inibe a biogênese do RNA viral necessário para a replicação do HIV. Ao se ligar ao mRNA que codifica 3 proteínas estruturais do vírus, a molécula inibe a atividade de uma proteína-chave do HIV, promovendo a inibição da replicação. Ainda não se sabe qual é exatamente o mecanismo que induz o controle viral a longo prazo, mas os pesquisadores acreditam que, devido à alteração causada no mRNA, são produzidos peptídeos que marcam aquela célula-repositório como aberrante, o que resultará na sua eliminação pelo sistema imune.
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CRISPR/Cas9
Como já até noticiamos aqui no PB, a tecnologia do CRISPR/Cas9 pode ser uma grande aliada na busca da cura para a AIDS. O vírus do HIV consegue criar os seus reservatórios através da integração do seu material genético ao genoma da célula infectada. Uma abordagem diferente da destruição celular apresentada acima é a excisão genômica das regiões virais da célula hospedeira, o que impede que haja reincidência de infecção após o tratamento. Por enquanto foram realizados experimentos apenas em camundongos, mas já é um grande passo nessa corrida.
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Cura brasileira e natural
Uma outra abordagem para a eliminação de células infectadas e cura da infecção foi publicada em Agosto, e está sendo concebida por pesquisadores brasileiros. Um grupo da Universidade de São Paulo (campus Ribeirão Preto) estudou a ação de anticorpos específicos conjugados com pulchellina, uma proteína tóxica obtida da semente da trepadeira Abrus pulchellus tenuiflorus, uma planta típica do nordeste brasileiro, no combate da infecção por HIV e obtiveram sucesso in vitro.
A toxicidade é uma característica bem conhecida das sementes desta planta, mas graças à investigação da proteína responsável por essa característica e do pensamento biotecnológico, hoje o que parecia prejudicial pode salvar vidas. A integração da proteína com anticorpos que “reconhecem” as células infectadas garante a segurança do método.
EXTRAS!
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Gel de semente de soja
Sementes transgênicas de soja podem ser uma ótima ferramenta para o tratamento da infecção por HIV. Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) modificaram as sementes para produção em larga escala da cianovirina, uma proteína proveniente de cianobactérias que é eficaz na inibição da replicação viral no organismo. O objetivo é criar um produto cuja licença de produção será livre, o que possibilitará que países em desenvolvimento tenham acesso à tecnologia e de fácil “manejo” para aumentar a adesão. A ideia inicial é um gel que deve ser aplicado antes de relações sexuais para eliminar o vírus. Confira no esquema abaixo como seria o processo desde o sequenciamento até o produto.
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Tentativas através do biohacking
Embora “biohacking” seja um assunto super legal e “na moda”, como já noticiamos aqui, a sua prática relacionada ao tratamento e à cura de doenças pode ser extremamente perigosa. Numa entrevista realizada pela BBC, o americano soropositivo de 28 anos Tristan Roberts conta porquê largou o tratamento convencional para injetar formulações provenientes do biohacking que continham plasmídeos para codificar uma substância supostamente eficiente no combate viral.
“Então ele beliscou uma camada fina de pele do lado direito de seu umbigo e injetou a agulha. A pequena quantidade de líquido inserida nas suas células de gordura continha trilhões de plasmídeos, pedaços de DNA que teoricamente poderiam ativar a produção do antibiótico N6.”
O que ele não esperava era que, 3 semanas após a injeção, a carga viral fosse aumentar, o que demonstrou a ineficácia e o alto risco dessa forma de tentativa sem suporte ou controle de saúde adequados. A ciência é assim mesmo, nem sempre a gente acerta de primeira… Confira a entrevista completa aqui!
E então, o que você achou desses avanços? Você acredita que seremos capazes de realmente erradicar o vírus até 2030? Conta pra a gente, compartilha com os amigos e família, e não esqueça de acompanhar as notícias aqui no site!
Ah, que tal dar uma olhadinha no site do Ministério da Saúde para saber como se faz a prevenção, diagnóstico e tratamento? Lembre-se: cuidado nunca é demais!