Esse texto traz os principais pontos e erros na escrita de artigos científicos e como melhorá-los, aumentando a qualidade das publicações científicas.

Quem nunca começou a escrever artigos científicos e ficou perdido? Com certeza a maioria! Escrever textos científicos é uma das principais responsabilidades de cientistas e um dos maiores desafios de alunos de graduação e pós-graduação.

Apesar de existir diferentes estruturas de artigos científicos, há algumas regras básicas que podem ajudar a te guiar nesse processo de escrita. Geralmente são coisas simples, que passam despercebidas e podem atrapalhar sua publicação. 

 Separamos aqui alguns dos principais pontos a serem considerados enquanto você estiver escrevendo seus textos e artigos científicos.

1. Objetivo em mente, sempre!

Infográfico circular com 5 pontos principais para a escrita de artigos científicos -
Sugestão esquemática para estruturação de artigo científico com foco nos objetivos/moral da história. #PraTodosVerem: infográfico circular contendo 5 pontos principais para a escrita de artigos científicos. No centro, um círculo cinza escrito moral da história. Em volta dele, a figura contém quatro círculos interligados contendo: ‘o que é?’; ‘como foi feito?’; ‘o que achou?’; e ‘como afeta?’ representando as etapas de escrita de um artigo científico. Fonte: Imagem produzida pela autora. 

Antes de começar a escrever seu texto, imagine que você vai contar uma história. Ela deve ter um objetivo central, com início, meio e fim. Desse jeito, você pode separar seu texto em:

·   Qual o assunto e o que se deve saber dele antes para entender o objetivo da sua pesquisa?

·   Como você fez para alcançar seu objetivo?

·   Quais resultados essa análise te deu e o que eles te dizem com base no objetivo da história?

·   Como você pode comparar o que você achou com os achados de outros pesquisadores e como isso afeta seus objetivos?

· Como seu trabalho é importante para a área ou qual a inovação que ele apresenta? 

·   Qual a moral do seu texto? Qual a conclusão do seu trabalho com base nos objetivos da pesquisa?  

Assim, você consegue estruturar um artigo científico de forma bem simples. Aí, é só começar a responder as perguntas e montar seu texto!

Ao finalizar seu texto, escreva um bom resumo contendo os mesmos tópicos acima, porém, de forma mais objetiva. Cite apenas os principais pontos que respondam a cada pergunta e sintetizem a intenção e inovação da sua pesquisa. 

Lembre-se que suas conclusões devem sempre responder às perguntas do seu objetivo!

2. Esqueça textos muito informais

Ao escrever seus textos científicos, atente-se a manter uma linguagem formal, clara e objetiva. A linguagem escrita é diferente da falada, não se esqueça! Evite discursos casuais, frases em primeira pessoa e metáforas. Esses recursos tiram a atenção do contexto, priorizando apenas o estilo.

Elimine frases que apresentem contexto ambíguo, clichês, e expressões coloquiais. Mantenha o texto com as informações principais da pesquisa e como influenciam a área. Dados que não adicionam um resultado ou um ponto importante para a contextualização ou discussão do trabalho, podem ser mantidos fora do texto.

3. Vale a pena ler de novo!

Erros gramaticais são um grande problema na hora de publicar seus artigos. Isso pode ser corrigido com uma boa revisão final. Uma dica: releia seu texto depois de uns dias para conseguir observar detalhes de escrita e se ele está coerente. Não tenha medo de pedir ajuda a um amigo ou profissional para aquela revisão extra. 

Para textos em inglês, fique tranquilo, pois ele não precisa ter uma escrita difícil. A dica é: transmita a informação com o menor número de palavras. Para te ajudar, existem softwares e aplicativos, como o Grammarly, Ginger e Virtual Writing Tutor, que ajudam a reduzir os erros básicos na escrita. Aproveite-os. 

Lembre-se que uma boa escrita vem acompanhada de um bom treino. Para isso, leia muitos artigos e faça cursos de escrita, se possível. Isso irá reduzir sua insegurança para começar a escrever. Também faça versões do seu texto e tente aprimorá-lo a cada nova leitura. As primeiras versões sairão inconsistentes, com muitos pontos a serem melhorados. Tenha constância e paciência para elaborar um bom artigo. 

Livro aberto -
#PraTodosVerem: Imagem de um livro aberto com um #PraTodosVerem: Imagem de um livro aberto com um óculos e caneta marca texto em cima. Fonte: Canva

4. Pesquise referências

Utilize referências sólidas e conceituadas. Busque por artigos publicados em boas revistas científicas e livros conceituados. Essas publicações passam por revisões detalhadas antes de serem publicadas e, com certeza, serão uma fonte melhor de conteúdo para você se basear. 

Pesquise suas referências em bancos de publicações como 

Outra questão é a data de publicação dos artigos: mantenha suas referências atualizadas!

Existe um preceito de usar como referência publicações com menos de 5 anos, as chamadas de Estudo da Arte. Isso porque elas possuem tecnologias e discussões baseadas em informações mais recentes, agregando avanços científicos à sua pesquisa e melhorando suas argumentações. 

Atente-se à exceção! Existem referências clássicas que descrevem um termo, doença, terapia, ou tecnologia que podem e devem ser citadas. 

Mas cuidado! Elas devem fazer parte do seu conhecimento para que você possa entender e discutir os novos achados científicos. Tente aplicá-las a contextualização do tema ou como base para discussões e comparações com dados atuais.

E para ajudar a organizar suas referências e aplicá-las no texto, dá uma olhada nesse artigo: 9 ferramentas para organizar pesquisa cientifica.  

5. Discuta ideias, não palavras

Aproveitando que estamos falando de referências, cuidado com o plágio!

Durante sua busca por referências para discutir sua ideia ou resultado, é comum utilizar palavras e frases semelhantes às dos autores. Mas cuidado: isso é plágio e é crime!

Ao utilizar as referências, ao invés de repetir palavras, busque explicar as ideias principais dos autores, aplicando-as ao seu contexto e como afetam seus resultados e interpretações.

Você pode verificar seu texto contra plágio usando alguns softwares online, como o Plagiarisma, Plagiarism Detector, e Plagium

6. Detalhe os métodos e a estatística

Seus métodos precisam ser escritos de forma detalhada, a fim de permitir que outros pesquisadores possam reproduzir seus resultados e até aplicar seus métodos em estudos similares. Nesse ponto, também é importante relatar quais testes estatísticos foram utilizados para que os leitores entendam seus resultados. 

Falando em estatística, é importante que você

  • tenha certeza da qualidade dos dados e do uso correto dos testes e correções necessárias; 
  • entenda os termos e o que eles simbolizam.
Figura de um computador e um tablet com imagens de gráficos
#PraTodosVerem: figura contendo um computador e um tablet com imagens de gráficos, simbolizando os resultados de uma análise de dados estatísticos. Fonte: Canva

Independente do seu grau de conhecimento em estatística, é importante você entender o que está acontecendo com suas análises, se os testes utilizados estão corretos para seus dados e se estão bem descritos para serem reprodutíveis. 

Além disso, é imprescindível que você compreenda quais são os termos estatísticos e como eles afetam sua pesquisa. P-valores, variâncias e FoldChange (A razão entre duas medidas, comparando os valores iniciais e finais de uma característica), podem prejudicar muito sua pesquisa se você não interpretar corretamente o que eles significam e como impactam seus dados. 

Por isso, estude, pesquise e entenda o que cada valor reflete e como você pode discutir os dados encontrados na sua pesquisa.

7. O título importa!

Por fim, mas não menos importante, o título do seu trabalho! 

Ele é a chave para chamar a atenção do leitor e se o trabalho condiz ou não com suas buscas e interesses. 

Por isso, elabore títulos que, em poucas palavras, atraiam a atenção do leitor e sintetizem o conteúdo e a ideia principal do texto.

Seguindo essas dicas básicas, você irá aumentar a qualidade e compreensão dos seus textos científicos. Ah, e não se esqueça: pratique sua escrita! É uma habilidade que se constrói com o tempo. Para mais ferramentas de escrita, leia também o Guia de ferramentas para ajudar o profissional de biotecnologia na hora de escrever

Busque sempre se manter atualizado com notícias e artigos da sua área de atuação. Isso aumentará seu poder argumentativo e você irá adquirir novas características de escrita, produzindo textos e artigos cada vez melhores.  

Amanda Donatti
Biotecnologista pela UFSCar, Mestra e doutora em genética médica pela UNICAMP. Apaixonada pela medicina de precisão e em como a genética pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Atualmente, busca por variantes genéticas e biomarcadores moleculares associados à predisposição e tratamento de doenças neurológicas. Revisora de artigos científicos para periódicos nacionais e internacionais desde 2019. 

Cite este artigo:
DONATTI, A. Dicas para escrever textos e artigos científicos. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/dicas-para-escrever-textos-artigos-cientificos/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

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HYATT, J.-P. K.; BIENENSTOCK, E. J.; TILAN, J. U. A student guide to proofreading and writing in science. Advances in Physiology Education, v. 41, n. 3, p. 324–331, 1 set. 2017.
NUZZO, R. Scientific method: Statistical errors. Nature, v. 506, n. 7487, p. 150–152, 1 fev. 2014.
TURBEK, S. P. et al. Scientific Writing Made Easy: A Step-by-Step Guide to Undergraduate Writing in the Biological Sciences. The Bulletin of the Ecological Society of America, v. 97, n. 4, p. 417–426, 2016.
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