Dos contos de fadas para as apresentações acadêmicas: como tornar suas produções mais atraentes

Confira dicas do universo da contação de histórias para tornar apresentações acadêmicas e científicas mais cativantes e acessíveis.

A contação de histórias, ou storytelling, é uma das maneiras mais antigas e poderosas de transmitir uma mensagem. 

Em uma apresentação para o TED Talks, o neurocientista Uri Hasson explica o que acontece com nossos cérebros quando contamos uma história: basicamente, os neurônios do ouvinte são disparados e passam a apresentar os mesmos padrões que os nossos próprios, quase como uma ligação indireta entre cérebros. Parece uma ótima forma de criarmos conexões e engajarmos as pessoas em temas que são importantes para nós, não?

Duas pessoas ligadas por um feixe de luz branca - apresentações acadêmicas
Quando ouvimos uma história, nossos neurônios passam a apresentar padrões similares aos do narrador. Fonte: Sic236/Tenor. #PraTodosVerem: neste gif, duas pessoas estão paradas, uma em frente à outra, ambas em frente a um fundo escuro. Há um feixe de luz branca que se move e liga o cérebro de uma à outra.

Já pensou em adicionar uma pitada de elementos vindos diretamente dos contos de fadas para tornar suas produções mais atraentes e acessíveis? Confira, a seguir, algumas dicas de storytelling para aprimorar apresentações acadêmicas e científicas.

1 – Defina seu objetivo

É essencial definir seu objetivo antes de preparar a apresentação, porque ele pode moldar a linguagem e os recursos que você utilizará para entregar a mensagem desejada. 

Por isso, reflita: qual a sua intenção? Apresentar um conceito científico para uma audiência leiga? Inspirar seu público? Alertar sobre um problema?

Além disso, reflita sobre seu público: quem são? Qual linguagem utilizam? Essa linguagem é mais despojada ou mais formal? A maneira como você se comunica com cientistas especializados pode ser diferente da que você utilizaria para dialogar com o público geral.

2 – Capriche na introdução

Uma introdução instigante tem o poder de capturar a atenção dos espectadores já nos primeiros instantes da sua apresentação.

Para despertar a curiosidade ou inspirar a audiência a continuar acompanhando sua apresentação, algumas dicas para a introdução são:

  1. narrar uma breve história, com personagens fictícios e com o tema da sua apresentação como pano de fundo;
  2. apresentar imagens provocativas ou inspiradoras, a depender do seu objetivo;
  3. mostrar dados ou informações impactantes, como estatísticas relacionadas ao tema da sua apresentação;
  4. revelar a sua motivação para desenvolver a pesquisa ou o trabalho e por que seu público deveria se importar com aquele tema;
  5. fazer uma pergunta ou enquete para a audiência, que você responderá no decorrer da sua apresentação. Para esta pergunta, você pode até mesmo coletar as respostas da audiência e revelar, posteriormente, se o seu público acertou ou não.

3 – Simplifique

As histórias têm o poder de prender nossa atenção em parte porque utilizam linguagem simples e corriqueira. Imagine como seria, por exemplo, se as histórias contassem que “Rapunzel era uma moça que tinha crescimento capilar exacerbado” ou que “o Patinho Feio era um animal que apresentava características fenotípicas distintas das observadas para os demais membros do seu grupo”. Não soa muito cativante, não é?

Para suas produções acadêmicas, procure substituir os termos técnicos por palavras mais simples. Ou, se não for possível substituir os termos técnicos, complemente-os com uma explicação em linguagem acessível.

4 – Explore a linguagem

Você provavelmente já ouviu (ou vai ouvir) que as enzimas de restrição são “tesouras moleculares”. Este é um exemplo de metáfora, que reina absoluta como ferramenta de engajamento no universo da contação de histórias. Por meio das metáforas, é possível transformar conceitos complexos em algo compreensível para o público, e, por isso mesmo, tornar o conteúdo mais atrativo.

Molécula de DNA sendo cortada por uma tesoura - apresentações acadêmicas
Tesouras moleculares: uma metáfora famosa para explicar a função das enzimas de restrição. Fonte: National Human Genome Research Institute. #PraTodosVerem: na ilustração, sob um fundo branco, há uma molécula de DNA. A molécula está sendo cortada por uma tesoura, utilizada para representar a função de uma enzima de restrição.

Neste sentido, as analogias e as comparações também podem ser aplicadas para tornar um conceito científico mais “digerível” para o público. Veja este exemplo: em um artigo científico sobre lipídios, eles são apresentados como a “Gata Borralheira” da bioquímica, em função da pouca atenção que recebem comparados a outras biomoléculas. 

As comparações, por outro lado, podem ser aplicadas para associar um conceito a elementos do cotidiano da audiência. Por exemplo, em vez de dizer que o tamanho médio de uma célula bacteriana é de 1 micrômetro, pode ser mais “assimilável” dizer que uma célula bacteriana tem um tamanho médio que é 100 vezes menor que a espessura de um fio de cabelo.

5 – Estimule a imaginação

Já reparou como as históricas são, em geral, ricas em detalhes, como cores, formas, tamanhos, texturas, descrição de cheiros, sons e sentimentos? A utilização de linguagem sensorial é uma das ferramentas pelas quais nossa imaginação é ativada e nos transporta para o cenário em que a história se desenrola.

Em suas apresentações, procure apresentar detalhes e descrições que utilizem linguagem sensorial. Faça com que sua audiência veja, ouça, cheire ou sinta algum aspecto que você considere importante. Ou, também, descreva com detalhes algum cenário que faça com que seu público recrie a narrativa e se conecte à sua apresentação.

Ilustração de um livro com um coqueiro, um pirata, um baú e um navio sobre as páginas - apresentações acadêmicas
A riqueza de detalhes sensoriais das histórias nos levam para cenários imaginários. Fonte: Tumisu/Pixabay. #PraTodosVerem: na ilustração, há um livro aberto sobre uma mesa de madeira. Sobre as páginas do livro, há, na página esquerda, o desenho de um coqueiro, um baú aberto e um pirata. Sobre a página direita, há o desenho de um navio. Do meio do livro, saem várias letras, que se espalham pela imagem.

6 – Crie conexão

A maioria das histórias é baseada em um arco de redenção: o protagonista encontra percalços e obstáculos, e precisa lidar com eles. Tendemos a nos identificar com essa narrativa justamente porque ela nos relembra da imperfeita natureza humana.

Uma maneira efetiva de criar conexão é mostrar a pessoa por trás do conteúdo apresentado. E poucas coisas revelam tanto o lado “humano” das pesquisas e trabalhos acadêmicos quanto as dificuldades enfrentadas durante o seu desenvolvimento.

Além disso, reportar os problemas encontrados durante a realização de um trabalho ou pesquisa não diminui a qualidade da produção. Pelo contrário, falar de experimentos que deram errado ou de ideias que acabaram resultando em becos sem saída ajuda outras pessoas a não seguirem os mesmos caminhos. 

Um exemplo observado em produções acadêmicas e científicas recentes é o relato sobre as dificuldades associadas à pandemia. Vários pesquisadores têm declarado, seja em textos ou apresentações, que alguns resultados foram comprometidos em decorrência do período atípico pelo qual todos passamos. 

Além de trazer transparência, falar das dificuldades encontradas mostra que acadêmicos e cientistas são pessoas comuns, que também enfrentam desafios. Isso, por sua vez, pode despertar a empatia dos espectadores e criar conexões com o público.

7 – Utilize elementos de apoio

Os elementos de apoio são imagens ou objetos que você pode utilizar ao longo da sua apresentação. Esses elementos ajudam a estimular a imaginação da audiência e engajá-la no conteúdo.

Porém, cuidado! O segredo dos elementos de apoio é que eles são… Apoio. Logo, evite tornar objetos, imagens ou slides a atração principal da sua apresentação. Quando mal utilizados, os elementos de apoio podem, inclusive, se tornar distrações e desviar a atenção da audiência do que realmente importa: o conteúdo.

Dica adicional: se for utilizar slides, prepare-os de modo a complementar sua fala, não repeti-la na íntegra. Evite, por exemplo, escrever nos slides palavra por palavra do que você falará. Procure acrescentar nos seus slides gráficos, figuras e fotografias, recursos que trazem informação adicional para o público e o auxiliam a acompanhar a apresentação.

Para se inspirar, veja este vídeo da final do FameLab Brasil 2020. Nele, a vencedora, Gabriela Ramos Leal, apresenta o tema de pesquisa dela e utiliza um objeto como elemento de apoio para ilustrar a fala. Além disso, ela utiliza vários outros elementos de storytelling na apresentação. Conseguiu detectar quais?

8 – Não descuide do desfecho

Já assistiu a algum filme ou série empolgante, mas com um final que não faz jus à qualidade da produção? Um tanto frustrante, não? É a mesma coisa com apresentações acadêmicas. Portanto, não menospreze a conclusão!

Para encerrar sua apresentação, você pode se inspirar na “moral da história”: elabore uma ou poucas frases memoráveis que retomem a mensagem principal. Pense: qual aprendizado você gostaria que a audiência levasse para casa?

Você também pode preparar uma frase de impacto do seu tema de estudo. Um bom exercício para isso é responder: se você precisasse resumir sua apresentação em uma publicação para o Twitter (280 caracteres), o que você diria? O que seu público não pode deixar de levar da sua apresentação?

Placa escrito: TIME TO SAY GOODBYE - apresentações acadêmicas
Para finalizar sua apresentação, fuja do “é isso que eu tinha para apresentar hoje” e suas variações. Procure encerrar com uma frase curta, que resuma para a audiência a principal mensagem que ela deveria guardar. Fonte: geralt/Pixabay. #PraTodosVerem: na fotografia, em frente a um fundo desfocado de uma cidade, há uma placa pendente na cor verde escuro em que lê-se, em letras brancas, “TIME TO SAY GOODBYE” (“hora de dizer adeus”, em português).

Embora baseada em objetividade e busca pela acurácia, a Ciência pode também ser fascinante e surpreendente. Neste sentido, podemos emprestar do universo da contação de histórias vários recursos capazes de cativar a audiência e conectá-la à narrativa. Assim, inspiramos e compartilhamos com outras pessoas aquilo que pode ser tão importante e precioso para nós.

Perfil de Elaine
Texto revisado por Jennifer Medrades e Ísis Venture

Cite este artigo:
LATOCHESKI, E. C. Dos contos de fadas para as apresentações acadêmicas: como tornar suas produções mais atraentes. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em:<https://profissaobiotec.com.br/dos-contos-de-fadas-para-apresentacoes-academicas/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

REFERÊNCIAS:

CHIBANA, N. 7 Storytelling Techniques Used by the Most Inspiring TED Presenters. 2015. Disponível em: <https://visme.co/blog/7-storytelling-techniques-used-by-the-most-inspiring-ted-presenters/>. Acesso em: 01 nov. 2021.
DAHLSTROM, M. F. Using narratives and storytelling to communicate science with nonexpert audiences. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 111, n. 4, p. 13614-13620, 2014. Disponível em: <https://doi.org/10.1073/pnas.1320645111>. Acesso em: 28 out. 2021.
KRZYWINSKI, M.; CAIRO, A. Storytelling. Nature Methods, v. 10, n. 687, 2013. Disponível em: <https://doi.org/10.1038/nmeth.2571>. Acesso em: 01 nov. 2021.
MEENAKSHI, J. How to be a good science comunicator. Nature Medicine, v. 7, p. 1656-1658, 2021. Disponível em: <https://www.nature.com/articles/s41591-021-01528-x>. Acesso em: 10 nov. 2021.
Fonte da imagem destacada: Pixabay.

Sobre Nós

O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

Recentes

Assine nossa newsletter

Ao clicar no botão, você está aceitando receber nossas comunicações. 

X