As eleições estão chegando. Em breve, iremos eleger deputados, senadores, governadores e presidente, que nos próximos quatro anos, deverão representar os interesses da população no poder legislativo e executivo. Por isso, a escolha desses representantes é tão importante e precisa ser feita com muita atenção.
É preciso escolher candidatos comprometidos com pautas como educação, saúde, meio ambiente… e ciência! Afinal, se o desenvolvimento científico é fundamental para o crescimento de um país, é preciso escolher candidatos comprometidos com a ciência.
Pensando nisso, o Profissão Biotec listou algumas pautas que devem ser prioridade para qualquer político verdadeiramente comprometido com a ciência. Confira a seguir e reflita: os seus candidatos ou candidatas estão comprometidos com essas pautas?
1- Fortalecimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)
Um relatório recente da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) revelou que nos últimos anos o Brasil reduziu drasticamente os investimentos em ciência e tecnologia. De 2012 para 2021, ocorreu uma redução de 84% nestes investimentos!
Essa falta de recursos limita as ações das principais agências de fomento à pesquisa, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Como algumas consequências, ocorrem a interrupção de pesquisas, a limitação de novos projetos e a redução do número de bolsas nos cursos de pós-graduação que financiam estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado, a principal mão de obra da pesquisa brasileira.
Sem os recursos necessários, o MCTI também não consegue manter a produção científica e promover o desenvolvimento tecnológico e a inovação. Por isso, criar políticas nacionais de incentivo e fomento à ciência, a longo prazo, e ampliar os investimentos para esse ministério são ações decisivas para o futuro da ciência brasileira!
Baseado nisso, você já sabe como os seus candidatos pretendem fortalecer o MCTI?
2- Investimento nas universidades públicas
No Brasil, boa parte das pesquisas científicas é realizada nos laboratórios das universidades públicas. Logo, cortar verbas das universidades significa cortar verbas das pesquisas! Sem investimentos não é possível adquirir insumos, equipamentos e materiais para laboratório, melhorar a infraestrutura ou simplesmente pagar as despesas básicas como água e luz.
É fundamental que os governantes estejam comprometidos em fornecer os recursos necessários para manter o funcionamento das universidades bem como suas pesquisas, além de respeitar a autonomia dessas instituições (acatando a escolha dos reitores e vice-reitores definidos pelos integrantes da própria universidade ou suas opções de didático-científicas).
E você, sabe qual é a proposta dos seus candidatos para as universidades públicas?
3- Regulamentação da profissão de pesquisador acadêmico e científico
No Brasil, a profissão de pesquisador não é regulamentada e está restrita àqueles que fazem pesquisa em algumas empresas privadas ou a profissionais de instituições públicas como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Butantan e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Contudo, a maioria da mão de obra utilizada nos laboratórios de pesquisa é de estudantes de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado), entre outros tipos de bolsistas. Esses profissionais recebem apenas uma bolsa (com valores defasados), sem nenhum direito trabalhista assegurado (férias, décimo terceiro salário, adicional de insalubridade etc).
Regulamentar a atividade desses profissionais (garantindo salários compatíveis com sua formação acadêmica e direitos trabalhistas) é fundamental para dar a devida segurança e valorização a esses trabalhadores, além de estimular a inserção de novos profissionais na ciência, fortalecendo o desenvolvimento científico e econômico do país.
Agora, pense bem: seus candidatos possuem alguma proposta para regularizar essa situação?
4- Redução da burocracia
Um dos principais obstáculos para os cientistas brasileiros é a burocracia. Um estudo revelou que um pesquisador usa em torno de 33% do seu tempo para solucionar tarefas burocráticas do laboratório. Um tempo precioso que poderia ser aplicado no desenvolvimento da sua pesquisa!
Além disso, grande parte dos insumos utilizados na pesquisa são importados, o que resulta em demora para a entrega e altos custos. Logo, elaborar leis que reduzam a burocracia das importações e os impostos cobrados por esses insumos facilitaria a realização das pesquisas e o trabalho dos pesquisadores.
O que os seus candidatos podem fazer para solucionar esse problema?
5- Estimular a integração entre centros de pesquisa e indústria
Como dito anteriormente, a maior parte da pesquisa científica brasileira é realizada nas universidades públicas. Mas a falta de integração entre indústrias e institutos de pesquisa/ universidades impede que o Brasil explore todo esse conhecimento, limitando o desenvolvimento de novos produtos e serviços.
É preciso fortalecer a interação das universidades com o setor privado, estimular o empreendedorismo científico, ampliar o mercado de trabalho para os cientistas brasileiros e reduzir a complexidade e a burocracia para novos investimentos. Dessa forma, o conhecimento gerado pelas universidades e centros de pesquisa poderá ser melhor aproveitado, gerando novas tecnologias, inovação e mais benefícios para a sociedade.
Quais as propostas dos seus candidatos para estimular o cenário de ciência, tecnologia e inovação?
6- Combate ao negacionismo científico
Parece óbvio, mas acreditar na ciência e dar credibilidade a ela é o ponto de partida para promover o progresso científico. Infelizmente, o negacionismo científico (ou seja, a negação de um fato cientificamente comprovado) cresceu nos últimos anos e vem disseminando informações falsas que desacreditam a ciência e os cientistas.
O político, como um representante do povo, tem o dever de apoiar, valorizar e defender a ciência, uma vez que ela influencia o desenvolvimento do país e o bem estar da população. Criticar resultados de estudos científicos, duvidar da eficácia de vacinas ou medicamentos, ou descredibilizar instituições renomadas (e mundialmente respeitadas) são demonstrações da falta de compromisso com a ciência e com a população, que usufrui de todos os benefícios gerados pelos avanços científicos.
Por isso, analise: seu candidato é negacionista ou defende a ciência?
Essas são apenas algumas pautas que podem ser consideradas para a escolha de um candidato verdadeiramente comprometido com a ciência. Pesquise, informe-se, conheça as propostas dos seus candidatos para as áreas de ciência e tecnologia, pois elas irão impactar diretamente em outros setores como educação, saúde, economia…Tenha cuidado com as fake news e busque informações em sites e meios de comunicação confiáveis e com referências! Ciência e política caminham juntas, e é o nosso voto que decide a direção que vamos seguir nos próximos anos.
Cite este artigo:
LOPES, B. P. Eleições e ciência: o seu candidato defende a ciência? Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/eleicoes-ciencia-candidato-defende-ciencia/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências:
Escobar, H. A ciência contra o negacionismo. Jornal da USP. Disponível em< https://jornal.usp.br/ciencias/a-ciencia-contra-o-negacionismo/> Acesso em 06 de setembro de 2022.
Escobar, H. Dados mostram que ciência brasileira é resiliente, mas está no limite. Jornal da USP. Disponível em https://jornal.usp.br/universidade/politicas-cientificas/dados-mostram-que-ciencia-brasileira-e-resiliente-mas-esta-no-limite/#:~:text=Apesar%20de%20todas%20as%20dificuldades,organiza%C3%A7%C3%A3o%20social%20vinculada%20ao%20MCTI. Acesso em 06 de setembro de 2022.
Sanches, C. O desafio de fazer pesquisa científica no Brasil. LabNetwork. Disponível em< https://www.labnetwork.com.br/especiais/o-desafio-de-fazer-pesquisa-cientifica-no-brasil/> Acesso em 06 de setembro de 2022.
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