O seu candidato apoia a ciência? O Profissão Biotec trouxe algumas dicas que te ajudarão a escolher um candidato que valorize a ciência!

As eleições estão chegando. Em breve, iremos eleger deputados, senadores, governadores e presidente, que nos próximos quatro anos, deverão representar  os interesses da população no poder legislativo e executivo. Por isso, a escolha desses representantes é tão importante e precisa ser feita com muita atenção.

É preciso escolher candidatos comprometidos com pautas como educação, saúde, meio ambiente… e ciência! Afinal, se o desenvolvimento científico é fundamental para o crescimento de um país, é preciso escolher candidatos comprometidos com a ciência.

Pensando nisso, o Profissão Biotec listou algumas pautas que devem ser prioridade para qualquer político verdadeiramente comprometido com a ciência. Confira a seguir e reflita: os seus candidatos ou candidatas estão comprometidos com essas pautas?

1- Fortalecimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)

Um relatório recente da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) revelou que nos últimos anos o Brasil reduziu drasticamente os investimentos em ciência e tecnologia. De 2012 para 2021, ocorreu uma  redução de 84% nestes investimentos!

Essa falta de recursos limita as ações das principais agências de fomento à pesquisa, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Como algumas consequências, ocorrem a interrupção de pesquisas, a limitação de novos projetos e a redução do número de bolsas nos cursos de pós-graduação que financiam estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado, a principal mão de obra da pesquisa brasileira.

Gráfico da evolução dos recursos para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) entre os anos de 2009 e 2021.
Evolução dos recursos para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) entre os anos de 2009 e 2021. #ParaTodosVerem: Gráfico evolutivo dos recursos destinados ao MCTI, demonstrando os valores (em bilhões de reais atualizados pela inflação), ano a ano, entre 2009 a 2021. De 2009 a 2015, os valores variam de 8,6 a 11,6 bilhões, e entre 2016 e 2021 os valores variam de 5,5 a 1,8 bilhões. Fonte: SBPC, LOA 2021 e Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento

Sem os recursos necessários, o MCTI também não consegue manter a produção científica e promover o desenvolvimento tecnológico e a inovação. Por isso, criar políticas nacionais de incentivo e fomento à ciência, a longo prazo, e ampliar os investimentos para esse ministério são ações decisivas para o futuro da ciência brasileira!

Baseado nisso, você já sabe como os seus candidatos pretendem fortalecer o MCTI? 

2- Investimento nas universidades públicas

No Brasil, boa parte das pesquisas científicas é realizada nos laboratórios das universidades públicas. Logo, cortar verbas das universidades significa cortar verbas das pesquisas! Sem investimentos não é possível adquirir insumos, equipamentos e materiais para laboratório, melhorar a infraestrutura ou simplesmente pagar as despesas básicas como água e luz.

É fundamental que os governantes estejam comprometidos em fornecer os recursos necessários para manter o funcionamento das universidades bem como suas pesquisas, além de respeitar a autonomia dessas instituições (acatando a escolha dos reitores e vice-reitores definidos pelos integrantes da própria universidade ou suas opções de didático-científicas). 

E você, sabe qual é a proposta dos seus candidatos para as universidades públicas?

3- Regulamentação da profissão de pesquisador acadêmico e científico

No Brasil, a profissão de pesquisador não é regulamentada e está restrita àqueles que fazem pesquisa em algumas empresas privadas ou a profissionais de instituições públicas como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Butantan e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

Contudo, a maioria da mão de obra utilizada nos laboratórios de pesquisa é de estudantes de pós-graduação  (mestrado, doutorado e pós-doutorado), entre outros tipos de bolsistas. Esses profissionais recebem apenas uma bolsa (com valores defasados), sem nenhum direito trabalhista assegurado (férias, décimo terceiro salário, adicional de insalubridade etc). 

Regulamentar a atividade desses profissionais (garantindo salários compatíveis com sua formação acadêmica e direitos trabalhistas) é fundamental para dar a devida segurança e valorização a esses trabalhadores, além de estimular a inserção de novos profissionais na ciência, fortalecendo o desenvolvimento científico e econômico do país.

Agora, pense bem: seus candidatos possuem alguma proposta para regularizar essa situação?

4- Redução da burocracia

Um dos principais obstáculos para os cientistas brasileiros é a burocracia. Um estudo revelou que um pesquisador usa em torno de 33% do seu tempo para solucionar tarefas burocráticas do laboratório. Um tempo precioso que poderia ser aplicado no desenvolvimento da sua pesquisa!

Gráfico da opinião dos pesquisadores sobre a burocracia para solicitar e gerir projetos de ciência e tecnologia.
Opinião dos pesquisadores sobre a burocracia para solicitar e gerir projetos de ciência e tecnologia. #ParaTodosVerem: Gráfico em barras, demonstrando que 69% dos pesquisadores considera que a burocracia aumentou, 26% afirma que a burocracia manteve-se a mesma, 4% considera que ela diminuiu e 1% não soube avaliar. Fonte: SBPC

Além disso, grande parte dos insumos utilizados na pesquisa são importados, o que resulta em demora para a entrega e altos custos. Logo, elaborar leis que reduzam a burocracia das importações e os impostos cobrados por esses insumos facilitaria a realização das pesquisas e o trabalho dos pesquisadores.

O que os seus candidatos podem fazer para solucionar esse problema? 

5- Estimular a integração entre centros de pesquisa e indústria

Como dito anteriormente, a maior parte da pesquisa científica brasileira é realizada nas universidades públicas. Mas a falta de integração entre indústrias e institutos de pesquisa/ universidades impede que o Brasil explore todo esse conhecimento, limitando o desenvolvimento de novos produtos e serviços.

É preciso fortalecer a interação das universidades com o setor privado, estimular o empreendedorismo científico, ampliar o mercado de trabalho para os cientistas brasileiros e reduzir a complexidade e a burocracia para novos investimentos. Dessa forma, o conhecimento gerado pelas universidades e centros de pesquisa poderá ser melhor aproveitado, gerando novas tecnologias, inovação e mais benefícios para a sociedade. 

Quais as propostas dos seus candidatos para estimular o cenário de ciência, tecnologia e inovação?

6- Combate ao negacionismo científico

Parece óbvio, mas acreditar na ciência e dar credibilidade a ela é o ponto de partida para promover o progresso científico. Infelizmente, o negacionismo científico (ou seja, a negação de um fato cientificamente comprovado)  cresceu nos últimos anos e vem disseminando informações falsas que desacreditam a ciência e os cientistas.

O político, como um representante do povo, tem o dever de apoiar, valorizar e defender a ciência,  uma vez que ela influencia o desenvolvimento do país e o bem estar da população. Criticar resultados de estudos científicos, duvidar da eficácia de vacinas ou medicamentos, ou descredibilizar instituições renomadas (e mundialmente respeitadas) são demonstrações da falta de compromisso com a ciência e com a população, que usufrui de todos os benefícios gerados pelos avanços científicos. 

Por isso, analise: seu candidato é negacionista ou defende a ciência? 

Foto de uma mulher aparecem digitando em um notebook
Pesquise sobre seu candidato e informe-se sobre as propostas dele para as áreas de ciência, tecnologia e inovação. #ParaTodosVerem: Na imagem, os braços de uma mulher aparecem digitando em um notebook que está em cima de uma mesa de madeira, ao lado de um celular e uma caneca preta. Fonte: Pixabay

Essas são apenas algumas pautas que podem ser consideradas para a escolha de um candidato verdadeiramente comprometido com a ciência. Pesquise, informe-se, conheça as propostas dos seus candidatos para as áreas de ciência e tecnologia, pois elas irão impactar diretamente em outros setores como educação, saúde, economia…Tenha cuidado com as fake news e busque informações em sites e meios de comunicação confiáveis e com referências! Ciência e política caminham juntas, e é o nosso voto que decide a direção que vamos seguir nos próximos anos.

Perfil de Bruna Lopes
Texto revisado por Jennifer Medrades e Ísis V. Biembengut

Cite este artigo:
LOPES, B. P. Eleições e ciência: o seu candidato defende a ciência? Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/eleicoes-ciencia-candidato-defende-ciencia/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências:

Escobar, H. A ciência contra o negacionismo. Jornal da USP. Disponível em< https://jornal.usp.br/ciencias/a-ciencia-contra-o-negacionismo/> Acesso em 06 de setembro de 2022.
Escobar, H. Dados mostram que ciência brasileira é resiliente, mas está no limite. Jornal da USP. Disponível em https://jornal.usp.br/universidade/politicas-cientificas/dados-mostram-que-ciencia-brasileira-e-resiliente-mas-esta-no-limite/#:~:text=Apesar%20de%20todas%20as%20dificuldades,organiza%C3%A7%C3%A3o%20social%20vinculada%20ao%20MCTI. Acesso em 06 de setembro de 2022.
Sanches, C. O desafio de fazer pesquisa científica no Brasil. LabNetwork. Disponível em< https://www.labnetwork.com.br/especiais/o-desafio-de-fazer-pesquisa-cientifica-no-brasil/> Acesso em 06 de setembro de 2022.
Fonte da imagem de destaque: Freepik.

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