Você sempre amou as ciências bio(tecno)lógicas mas tem aquela pontinha de vontade de se tornar um cientista da computação ou algo do tipo? Prefere fazer análises minuciosas dos resultados, com horas plotando gráficos e olhando pra planilhas sem fim, a realizar o experimento de bancada que precede os seus dados? Fica fissurado quando lê notícias de sequenciamento de genomas e todas as análises ômicas que estão sendo feitas nos últimos anos? Então talvez você deva se tornar um bioinformata.
Se você é um cientista/engenheiro da computação apaixonado por biologia, chega mais, esse texto também é para você! Já se você não faz ideia do que estamos falando, esse texto pode te ajudar a compreender melhor o surgimento dessa “nova” área, antes de começarmos nossa conversa sobre como se tornar um bioinformata.
O profissional em bioinformática, bioinformata ou biólogo computacional, precisa ter conhecimentos de Biologia e de programação, de forma que possa interpretar dados gerados por experimentos a partir de conceitos computacionais. Assim, nucleotídeos, scripts, proteínas e algoritmos estão incluídos em um mesmo pacote.
“Ah, então é só abrir um programa de computador e jogar meus dados lá?” Não. Se fosse fácil assim, o mundo seria outro. Assim como é necessário conhecer tudo que constitui o código genético de um organismo, é preciso entender também o que é um algoritmo, saber ler (e escrever) cada linha do código-fonte, dentre outros conceitos.
E então, está disposto a encarar esse desafio? Se a resposta for positiva, há algumas coisas que você precisa saber, além de alguns pré-requisitos a cumprir antes de buscar a instituição onde você irá trilhar esse caminho misto de biológicas, exatas e humanas (sim, humanas. Se não acredita em mim, espere só para ver a filosofia que é necessária para terminar um script).
O que você precisa saber:
A computação ou a biologia não são tão impossíveis quanto podem parecer – mas também não são “mamão com açúcar”. Cada uma tem a sua particularidade e seu jeito de interpretar informações mas, com um pouquinho de paciência (e algumas xícaras de café), dá para dominar as duas. Então, a primeira coisa que você precisa saber é que é necessária dedicação para se aprofundar não em uma, mas em duas áreas ao mesmo tempo.
O segundo ponto importante é que a informação nunca para de chegar. O número de dados gerados por dia é superior ao que atualmente somos capazes de processar, e as ferramentas computacionais estão em constante atualização, ou substituição. Desta forma, o seu conhecimento de hoje nunca é suficiente. Você precisa checar novos dados constantemente e aprender novas ferramentas sempre que necessário.
Terceira – e não menos importante – colocação: você precisa saber inglês. Ouvimos todos os dias que esta é a linguagem universal da ciência, mas algumas pessoas ainda relutam em aprender. O problema é que se você quer ser um bioinformata, precisa encarar esse desafio! Desde o material de estudo básico e encontros nacionais até a escrita de algoritmos e conferências mundiais, o inglês é a base de tudo que permeia a bioinformática. Que tal começar hoje?
Vamos ao que interessa: onde estudar bioinformática no Brasil?
Se você aceita essas três condições acima, confira agora onde estudar para atingir seus objetivos. Mas antes, lembre-se: dentro de cada instituição há inúmeros grupos de pesquisa com diferentes focos. Você pode trabalhar com saúde, cosméticos, agropecuária, dentre outros, assim como escolher entre desenvolver um algoritmo genérico ou analisar amostras específicas, por exemplo. Basta dar uma pesquisada nos orientadores e linhas de pesquisa e ver quais os pré-requisitos para começar a integrar a equipe que tem mais sua cara!
1. Universidade Federal de Minas Gerais
Esse é o programa específico para bioinformática com maior pontuação Capes (7), nota máxima. Possui três linhas de pesquisa principais: Bioinformática Funcional, de Biomoléculas e Genômica. Você pode conferir os focos de cada uma aqui. A seleção ocorre 2 vezes ao ano, e as inscrições para Doutorado com entrada esse semestre ainda estão abertas.
2. Universidade de São Paulo
Com nota Capes 4, o programa conta com uma vasta lista de áreas de pesquisa, que pode ser conferida aqui, e abrange estudo do genoma, metagenomas, transcriptoma, proteoma, metaboloma, biologia estrutural, biologia sistêmica, entre outras. O edital de seleção para ingresso em 2018 está aberto até 06 de novembro para quem é de Sao Paulo e até 16 de outubro para quem deseja fazer a seleção em outra cidade.
3. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Com áreas de concentração como Desenvolvimento de Produtos e Processos, Genômica e Biologia de Sistemas e nota Capes 5, o programa possui edital para Doutorado em fluxo contínuo (aceita inscrições e faz seleção durante o ano todo), mas ainda não tem informações sobre o processo para mestrado para este semestre ou o para o próximo.
4. Instituto Oswaldo Cruz
O programa de pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas (PGBCS) completou 10 anos de criação este ano e tem conceito Capes 5. O processo seletivo ocorre uma vez por ano e o curso é realizado na unidade Manguinhos da FIOCRUZ, no Rio de Janeiro. As três principais áreas de concentração são: Biologia Molecular Estrutural, Genômica Funcional, Evolução e Filogenômica e Sistemas de Informação e Métodos Matemáticos, Estatísticos e Computacionais.
5. Laboratório Nacional de Computação Científica
O programa de pós-graduação em Modelagem Computacional tem um perfil multidisciplinar e faz parte do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Não é completamente voltado para a bioinformática, mas tem como uma das linhas de pesquisa a Modelagem Matemática e Computacional de Biossistemas e Bioinformática. Segundo o site, a linha tem como objetivo possibilitar o avanço das áreas de Bioinformática, Genômica, Modelos de sistemas biológicos (micro e macro-sistemas), Modelagem Molecular e Bio-complexidade. O processo de seleção ocorre 3 vezes por ano e pode ser conferido neste link. O programa possui nota Capes 6!
6. Universidade Estadual de Campinas
Embora também não seja exclusivamente voltado para a bioinformática, o programa de pós-graduação em Ciência da Computação, com conceito Capes 7 (nota máxima), possui uma linha exclusivamente destinada para a Biologia de Sistemas. O processo seletivo ocorre no início e no final de cada ano, e o último edital pode ser conferido aqui.
EXTRAS
- Embora não possua um programa de pós-graduação para a área, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ela conta com a graduação de Bacharel em Biotecnologia com ênfase em Bioinformática ou Biotecnologia Molecular. Além disso, possui com um grupo de Bioinformática Estrutural, alocado no Centro de Biotecnologia. O grupo movimenta um blog com matérias superinteressantes, além de disponibilizar materiais como e-books que podem auxiliar o seu aprendizado!
- O site da Sociedade Internacional de Biologia Computacional (ISCB – do inglês International Society for Computational Biology) disponibiliza informações sobre novas técnicas, conferências e até mesmo cursos na área!
E aí, pronto para se tornar o mestre dos magos e conseguir responder perguntas biológicas usando o computador (e muito, muito café)? Se topar o desafio, conte para a gente qual programa você escolheu!
Faltou PPGBIOINFO da UTFPR e da UFPR. Atualiza aí, sempre bom divulgar mais opções!