O acúmulo de plástico no planeta Terra é um problema que vem sendo discutido por pesquisadores e ambientalistas há muitos anos. Inúmeras medidas e campanhas são desenvolvidas na tentativa de reduzir o uso desse material pelas pessoas e empresas. No entanto, o plástico tornou-se tão essencial na vida dos seres humanos que é difícil pensar em materiais industrializados que não o contenham.
Hoje, temos campanhas para desestimular o consumo excessivo de materiais contendo plástico, como, por exemplo, a substituição das sacolas plásticas de mercados por sacolas recicláveis e de pano. Porém, os plásticos consumidos no século passado permanecem no meio ambiente até hoje.
Medidas para conter a crise do plástico
Os plásticos convencionais, aqueles produzidos a partir de fontes fósseis, são muito danosos ao meio ambiente. Isso porque são obtidos de fontes não renováveis, e ainda existe a dificuldade em degradá-los, o que faz com que permaneçam nas superfícies de nosso planeta por anos e anos. Para tentar amenizar essas situações, vêm sendo desenvolvidos plásticos provenientes de diferentes fontes, sendo eles: biopolímeros, polímeros biodegradáveis e bioplásticos ou polímeros verdes.
Conforme a sua origem e fontes utilizadas na produção, os plásticos podem ser classificados da seguinte forma:
- Plástico convencional: oriundo de fonte não renovável, o petróleo;
- Biopolímeros: são criados a partir de polímeros naturais e se caracterizam por terem a cadeia de produção menos poluente que os plásticos convencionais;
- Polímeros biodegradáveis: são caracterizados pelo uso de fontes naturais e renováveis em sua composição e por terem a capacidade de serem degradados pela ação de microrganismos;
- Bioplásticos ou polímeros verdes: utilizam-se fontes renováveis na sua produção, mas apresentam estrutura química semelhante aos plásticos derivados de petroquímicos.
A crise do plástico também é agravada devido ao alto consumo de plásticos de uso único; descarte inadequado dos resíduos; baixos níveis de reciclagem; e a nossa dependência desse material. Para tentar conter esse problema, é necessária a adoção em massa de medidas como: redução do uso; substituição por materiais com características similares, porém mais facilmente degradáveis; e a destinação correta e de forma adequada dos resíduos para a reciclagem.
A produção de plásticos biodegradáveis é, também, uma alternativa para conter a crise do plástico. Porém, apesar da ideia desse tipo de material ser interessante, muitas vezes as condições para que haja a degradação do material têm que ser específicas e controladas. Dessa forma, faz com que mesmo os “plásticos bons” não sejam tão favoráveis ao meio ambiente quanto a ideia que é vendida.
Enzimas que degradam o plástico
Há alguns anos, cientistas vêm realizando pesquisas em busca de enzimas que sejam capazes de degradar o plástico. A enzima LCC (LC-cutinase – uma enzima homóloga à cutinase), hoje, é considerada o padrão para decomposição do plástico PET (politereftalato de etileno). Contudo, ela apresenta limitações como um tempo considerado longo para degradar o material plástico e a necessidade de temperaturas altas para que desempenhe sua função. Com o objetivo de driblar esses fatores limitantes, estão sendo realizados estudos para tentar tornar a enzima LCC mais eficiente.
Outra enzima conhecida por sua capacidade em degradar o plástico é a PETase. Ela foi assim denominada porque possui a capacidade de degradar o plástico PET. Em 2022, foi publicado um estudo em que os pesquisadores conseguiram aumentar a capacidade da PETase em degradar o plástico PET, chamando-a de FAST-PETase.
Recentemente, também foi descoberta uma nova enzima capaz de degradar plástico, a PHL7 (do inglês, polyester hydrolases Leipzig, traduzida para hidrolase de poliéster Leipzig). Essa nova enzima tem características animadoras, pois foi capaz de degradar o plástico PET em tempo consideravelmente menor que a LCC comum. Para se ter noção da sua eficácia, a PHL7 conseguiu degradar o fragmento de plástico em menos de 24 horas. Quando comparada a LCC com a PHL7, também foi observado que a nova enzima não necessitou que o PET passasse por um pré-tratamento em temperatura alta para aumentar a eficiência da degradação enzimática.
Hoje já não podemos dizer que “não há uma forma de degradar o plástico”, mas isso não torna o processo simples e muito menos permite o uso descontrolado desse material. O que os avanços científicos sobre a degradação desse material indicam é que, caso os seres humanos adotem o uso consciente, a crise do plástico pode se tornar controlável. Esses avanços no conhecimento tornam ainda mais evidente a importância no investimento em pesquisa e ciência, pois com elas podemos solucionar problemas atuais e futuros.
Cite este artigo:
LOPES, N. R. Enzimas para a degradação do plástico: uma solução para a poluição ambiental? Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências
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Fonte da imagem destacada: Teddy/Rawpixel.
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