Já imaginou acordar pela manhã, tomar um banho relaxante e aplicar um perfume com o cheiro de uma flor extinta? Ou quem sabe uma célula artificial que consegue se infiltrar entre células naturais e passar despercebida? Ou ainda produzir canabinóides em células bacterianas, evitando os desafios da produção natural destes compostos?
Tudo isso já é realidade graças aos avanços da Biologia Sintética, que já foi tema de muitos artigos aqui no Profissão Biotec e promete ser a grande revolução do nosso século. Muitas das conquistas deste campo não são obtidas por laureados pelo prêmio Nobel ou em laboratórios multimilionários, mas sim por milhares de estudantes que participam todos os anos do iGEM, a grande competição global de Biologia Sintética.
Esta competição reúne equipes de mais de trezentas universidades do mundo todo propondo soluções para os grandes desafios da humanidade: doenças, fome, escassez de recursos e danos ambientais.Jovens pesquisadores de dezenas de países compartilhando ideias livremente, colaborando e, ao engenheirar DNA, criando um mundo mais verde, saudável e próspero.
O Brasil participa deste grande evento desde 2009 e vem apresentando projetos de destaque nos últimos anos. Para comemorar os dez anos de participação verde e amarela na competição nós convidamos as equipes de norte a sul (literalmente!) que estão se preparando para participar da próxima edição do iGEM para compartilhar a sua história nessa coletânea de artigos. Conheça conosco alguns jovens sonhadores que estão aplicando as poderosas ferramentas da Biotecnologia e representando a nossa ciência lá fora!
Ficha Técnica: Equipe iGEM UFMG
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Quem são os participantes?
Eva (ciências biológicas), Anna Paula (farmácia), Kevin (Farmácia), Yala (Biomedicina), Mylena (Biomedicina), Fernanda (Biomedicina), Rodrigo (Ciências Biológicas), Camila (Biomedicina), Brenda (Comunicação), Brenda (Jornalismo), Alysson (Biomedicina), Isabella (Ciências Biológicas), Victor (Engenharia de Bioprocessos).
Qual o projeto?
Nosso projeto visa a construção de um diagnóstico molecular rápido, barato e específico, com potencial de ser adaptado futuramente na detecção de diversas doenças (infecciosas, genéticas, congênitas, etc.), através da biologia sintética. A biologia sintética é uma área recente e em expansão, que alia a multidisciplinariedade de áreas das ciências exatas e biológicas. O objetivo é criar novos sistemas biológicos ou fazer o redesign desses sistemas para atender às necessidades da humanidade. Necessidades essas que frequentemente não podem ser atendidas através dos sistemas biológicos naturais.
O nosso novo modelo de diagnóstico molecular utiliza a tecnologia de Toeholds riboswitches, uma biotecnologia capaz de controlar a expressão de um gene de interesse, no caso do nosso projeto, um gene repórter (sinalizador). Mediante à detecção genética molecular da doença alvo em amostras biológicas, este sistema será ativado numa plataforma cell-free paper-based, levando à mudança colorimétrica do papel como sinal final de detecção.
Para validar esse sistema, nosso alvo inicial é diagnosticar a Paraccocidiodomicose, uma doença fúngica sistêmica e endêmica da América Latina. Para isso, o nosso ensaio diagnóstico será capaz de identificar genes específicos do fungo Paraccocidiodis brasiliensis, o que ativará o Toehold riboswitch. O diagnóstico da Paracocccidiodomicose ainda é falho e mal-desenvolvido, e comumente pode levar à má-interpretação e ao erro diagnóstico. (…)
O nosso diagnóstico rápido molecular poderá auxiliar no diagnóstico exato e preciso dessa doença, podendo ser realizado facilmente dentro dos laboratórios clínicos à baixo custo.
Qual o impacto social e econômico do projeto?
A paraccocidiodomicose, apesar de ser a oitava causa de mortalidade entre as doenças infecciosas no Brasil, altamente letal e incapacitante, é negligenciada pelas instituições de saúde e pesquisa. O agente etiológico Paracoccidioides brasiliensis é encontrado principalmente no solo e por isso, a população afetada constitui-se principalmente de moradores e trabalhadores rurais, sendo que a infecção ocorre por meio das vias aéreas. Estima-se que cerca de 50% dos infectados vão à óbito. Atualmente, a detecção da doença é realizada majoritariamente por microscopia direta e meios de cultura, um processo que é demorado e de difícil interpretação. Já as técnicas moleculares disponíveis atualmente são onerosas e pouco desenvolvidas. O nosso objetivo de detectar a micose com rapidez, precisão e de forma econômica se baseia fundamentalmente em contornar estes vários obstáculos que prejudicam a detecção precoce da Paracoccidiodomicose, reduzindo assim a mortalidade e sequelas causadas por essa doença.
Como surgiu a equipe?
A primeira equipe representante da UFMG na competição foi montada em 2013 iniciada por uma iniciativa autônoma de estudantes da graduação. O projeto, intitulado “Cardibio”, contou com a participação de alunos e orientadores de áreas diversas com um objetivo em comum: participar da maior competição de biologia sintética do mundo e mostrar ao mundo o potencial dos cientistas brasileiros em pesquisa e inovação, lema esse adotado até hoje pelos membros. A segunda participação da equipe veio com o projeto ganhador do prêmio por melhor engajamento público, o “Leishmania”. Desde seu início, a equipe tem se reestruturado e trabalhado continuamente na divulgação da biologia sintética no Brasil, no estímulo e troca de conhecimento e em novos projetos, mesmo durante o período em que não foi possível a nossa participação oficial na competição. Esse ano, nossa equipe voltou com muito entusiasmo e força total para novamente bem representar a nossa universidade no maior palco global da Biologia Sintética.
Por que é importante participar do iGEM?
Somente na última edição da competição (2018), o iGEM contou com a participação de mais de 340 equipes estudantis do mundo inteiro, sem contar com a presença dos melhores profissionais e empresas de biologia sintética atualmente.
Essa é uma grande oportunidade não só de intercâmbio de conhecimentos, mas também de evoluir nosso projeto baseado na opinião de profissionais altamente capacitados da área para que, num futuro próximo, ele possa atender à sociedade e ao corpo de saúde. Um evento desse porte promove o avanço da ciência incentivando as melhores ideias: Uma chance única que não podemos perder!
Quais os maiores desafios para vocês?
Desenvolver um projeto em biologia sintética desse porte por si só já constitui um grande desafio, porém estamos motivados e entusiasmados para enfrentá-lo e darmos o melhor de nós como profissionais. Nossa maior dificuldade, no entanto, tem sido angariar fundos para inscrever a equipe na competição e prosseguir com o nosso projeto para a fase experimental (fase essa que também demanda recursos financeiros). Para contornar tal obstáculo, temos contado com o apoio financeiro de parceiros, investido na divulgação do nosso projeto, bem como na venda de produtos e promoção de eventos.
Contribua com a vaquinha online da Equipe iGEM UFMG: www.catarse.me/igemufmg
O que vcs esperam participando do iGEM?
Esperamos aprender, contribuir e trocar experiências com as equipes e profissionais internacionais, receber sugestões acerca de como podemos melhorar continuamente o nosso projeto e, se possível, conquistarmos algumas medalhas/troféus para o Brasil como mérito do nosso trabalho. Acima de tudo, o iGEM contribuirá de forma significativa na nossa construção e crescimento como profissionais, pesquisadores mas, principalmente, como equipe engajada e colaborativa. Essa é uma chance para aprendermos a trabalhar em grupo de forma coordenada e ativa, superando as nossas diferenças para alcançarmos o nosso objetivo comum: propor soluções criativas à problemas reais.
Texto elaborado pela Equipe iGEM UFMG e revisado por Guilherme Kundlatsch, Coordenador dos Embaixadores After-iGEM no Brasil. Primeiro tópico do texto elaborado por Guilherme Kundlatsch .