Quando pensamos em agricultura, a primeira imagem que nos vem à mente é o cultivo em solo e em ambiente aberto. Nos últimos anos, porém, devido ao aumento da população mundial e o consequente aumento da demanda por alimentos, tem-se buscado maneiras alternativas de produção em regiões onde antigamente seria impensável produzir alimentos. Nesse contexto as fazendas verticais surgem como uma opção para o cultivo em lugares onde a terra agricultável é rara ou indisponível, como ambientes desérticos ou muito montanhosos e em grandes cidades.
O que são fazendas verticais?
Fazendas verticais são também conhecidas como cultivo em ambiente controlado ou plant factories (fábricas de plantas). Neste modelo de agricultura as culturas são cultivadas verticalmente em prateleiras, sob condições controladas. As plantas são produzidas indoor (em ambientes internos) com luz, temperatura, água, nutrientes e até mesmo nível de CO2 controlados. Devido ao fato de a produção ocorrer de forma controlada, a utilização de água e nutrientes é otimizada, e por isso essa técnica é considerada por muitos uma forma sustentável de agricultura.
Formas de cultivo
As fazendas verticais podem variar de acordo com a forma e tamanho do cultivo, podendo ser fazendas mais simples com apenas dois níveis (ou prateleiras) até grandes armazéns com vários andares. Porém, todas as fazendas verticais utilizam um dos três tipos de cultivo que dispensam a utilização de solo: hidropônico, aeropônico e aquapônico.
Cultivo Hidropônico: é a forma de cultivo mais utilizada em fazendas verticais. As plantas são submersas em soluções nutritivas que circulam no sistema e são regularmente monitoradas para que a composição ideal de nutrientes seja sempre mantida.
Cultivo Aeropônico: neste tipo de cultivo as plantas são suspensas no ar apoiadas pelo colo das raízes. Os nutrientes chegam às raízes por pequenas gotículas ou névoa de solução nutritiva que são formadas utilizando aspersores. Esse tipo de sistema ainda é pouco comum em fazendas verticais; entretanto, tem despertado bastante interesse por ser um dos sistemas mais eficientes de cultivo, podendo utilizar até 90% menos água que os sistemas hidropônicos.
Cultivo Aquapônico: por meio do cultivo aquapônico são produzidos vegetais e peixes de forma integrada. Os peixes que são produzidos em lagoas indoor produzem resíduos ricos em nutrientes que são utilizados no cultivo das plantas na fazenda vertical. As plantas, por sua vez, filtram e purificam as águas residuais que são recicladas e enviadas de volta para o viveiro dos peixes.
As culturas mais utilizadas em fazendas verticais são vegetais como alface, algumas ervas e as chamadas microgreens (verdes colhidos logo após o desenvolvimento das folhas cotiledonares) ou brotos, que são mais fáceis de serem produzidos indoor. No entanto, outras culturas podem também ser produzidas em fazendas verticais, como berinjela, pimentão e tomate.
A produção de alimentos em fazendas verticais nos traz um sentimento futurista, que já foi explorado por diversos arquitetos para o desenvolvimento de arrojados projetos para estas fazendas modernas. Desenvolvido pelo arquiteto renomado Vicent Callebaut, o projeto da fazenda vertical chamada de Dragonfly foi inspirado nas asas de uma libélula: teria 132 andares, seria localizada em Nova York e produziria mais de 30 tipos de culturas, entre frutas e vegetais. Para saber mais sobre esse projeto visite o site do arquiteto.
Uma nova realidade mundial
Apesar desse tipo de projeto ainda parecer muito distante da nossa realidade, o conceito de fazendas verticais não está. Bastante diferentes das fazendas futuristas como a Dragonfly de Vicent Callebout, algumas fazendas verticais comerciais já são realidade.
Localizada em Singapura, a Sky Greens foi a primeira fazenda vertical comercial produtiva no mundo. A fazenda funciona em grandes torres de alumínio que se assemelham a estufas gigantes, e produz vários vegetais, como alface, espinafre, repolho, entre outros. Os produtos da fazenda vertical são vendidos em supermercados de Singapura, sendo uma forma alternativa para que os moradores possam consumir vegetais frescos recém colhidos. Hoje, devido a escassez de terras agricultáveis no país, apenas 7% dos vegetais consumidos pela população são produzidos nacionalmente, sendo o restante importado.
No Brasil, apesar da escassez de terras não ser um problema, de uma forma geral, fazendas verticais podem ser atrativas para produção e comercialização de vegetais frescos em grandes centros urbanos. A partir desse pensamento foi criada, em 2016, a Pink Farms, a primeira fazenda urbana vertical da América Latina. Pensando na sustentabilidade da cadeia produtiva a Pink Farms acredita que nada é melhor do que produzir alimentos no local onde são consumidos, diminuindo assim as perdas e desperdícios ao longo da cadeia de transporte.
Localizada em São Paulo, a fazenda produz hoje uma série de folhosas como alface, rúcula, espinafre, acelga, e também manjericão. Segundo o site, além de seus produtos estarem em alguns mercados e restaurantes de São Paulo, também podem ser comprados online através de sua loja virtual.
Apesar das fazendas verticais já serem uma realidade, alguns críticos ainda argumentam contra a viabilidade econômica dessas fazendas. Segundo eles, o consumo de energia para manutenção das condições de cultivo adequadas seria muito alto, o que tornaria o conceito muito caro para se manter economicamente viável a longo prazo. Essa ainda é uma questão que divide opiniões, e uma série de pesquisas sobre a viabilidade comercial dessas fazendas têm sido desenvolvidas.
Cite este artigo:
PINTO, M.S. Fazendas verticais: a novidade que promete trazer um pouco do campo para cidade. Revista blog do Profissão Biotec, V.5 (2020). Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/fazendas-verticais-novidades-promete-trazer-campo-cidade/>. Acessado em: dd/mm/aaaa
Disclaimer: Este não é um material patrocinado. Nem a autora nem o Profissão Biotec receberam qualquer benefício ou vantagem da Pink Farm.
Referências:
13 VERTICAL FARMING INNOVATIONS THAT COULD REVOLUTIONIZE AGRICULTURE. https://interestingengineering.com/13-vertical-farming-innovations-that-could-revolutionize-agriculture. Acesso em: 10 de março de 2020.
ARE VERTICAL FARMS EVEN REMOTELY EFFICIENT? https://www.foodnavigator.com/Article/2019/05/15/Are-vertical-farms-even-remotely-efficient-Putting-a-figure-on-plant-factories. Acesso em 10 de março de 2020.
DRAGONFLY. http://vincent.callebaut.org/object/090429_dragonfly/dragonfly/projects. Acesso em 11 de março de 2020.
IS VERTICAL FARMING THE FUTURE OF FOOD PRODUCTION. https://eatfarmnow.com/2019/08/17/is-vertical-farming-the-future-of-food-production/. Acesso em: 13 de março de 2020.
O’SULLIVAN, C.A.; MCINTYRE, C.L.; DRY, I.B.; HANI, S.M.; HOCHMAN, Z.; BONNETT, G.D. Vertical farms bear fruit. Nature Biotechnology, v.38, p.160-162, 2020.
PINK FARMS. https://www.pinkfarms.com.br/. Acesso em 11 de março de 2020.
SKY GREENS. https://www.skygreens.com/. Acesso em 11 de março de 2020
TOP 25 VERTICAL FARMING COMPANIES https://roboticsandautomationnews.com/2019/05/03/top-25-vertical-farming-companies/22181/. Acesso em 10 de março de 2020.
VERTICAL FARMING FOR THE FUTURE – U.S. DEPARTMENT OF AGRICULTURE. https://www.usda.gov/media/blog/2018/08/14/vertical-farming-future. Acesso em: 10 de março de 2020.
WIKIPÉDIA: VERTICAL FARMING. https://en.wikipedia.org/wiki/Vertical_farming. Acesso em: 13 de março de 2020.