X-MEN

Não é novidade que a biotecnologia está nas entrelinhas de grandes obras do entretenimento como filmes, séries, livros e quadrinhos. Dentre algumas dessas obras, encontram-se as histórias de personagens que sofreram mutações genéticas que lhes conferiram grandes poderes, como os X-Men. Com o recente lançamento do filme Logan, nós do Profissão Biotec trouxemos algumas informações relevantes sobre a genética por trás dos nossos queridos mutantes. Afinal, essas mutações e os super-poderes fazem parte apenas da ficção ou seriam possíveis na realidade?

Os X-Men. 

A diversidade de todas as formas de vida do planeta Terra foi direcionada a partir da evolução. De pequenas bactérias a elefantes, mutações aleatórias e a seleção natural surgiram com soluções fantásticas para a miríade de problemas da vida. Esses processos duraram milhões de anos e passaram por milhares de gerações, mas mesmo sendo lenta e não direcionada, a evolução continua sendo fantástica. Não é surpresa que a ficção científica tem usado ela para criar alguns dos seus principais personagens. Se os processos naturais puderam transformar uma enzima digestiva de cobras em uma neurotoxina, porque não acreditar que no futuro não poderemos desenvolver poderes regenerativos, como o Wolverine?

Não apenas os X-men, mas as modificações genéticas também são base para a criação de outros personagens famosos como o Homem-Aranha, Hulk e Capitão América.

Antes de tudo, temos que entender que todos nós somos mutantes. Você provavelmente não vai acordar em um belo dia com asas de anjo, mas desde seu nascimento e durante a sua vida, o seu DNA muta. Na maioria das vezes, essas mudanças são inofensivas, mas também podem ser prejudiciais. A mutação nos genes BRCA 1 e BRCA 2, por exemplo, aumenta dramaticamente o risco de câncer de mama em mulheres. Contudo, de vez em quando, uma mutação genética pode produzir algo digno da Escola Charles Xavier para Jovens Superdotados.

O risco de câncer causado pela mutação nos genes BRCA1 e BRCA2 são herdadas de forma dominante mesmo que normalmente apenas um alelo mutado seja herdado diretamente. Isso acontece porque pessoas com a mutação são mais propensas a adquirir uma segunda mutação, levando a uma expressão dominante do câncer. 

Dos quadrinhos e dos filmes, nós sabemos que os mutantes são humanos que expressam o “gene-X”. Mutações aleatórias no seu código genético desbloqueiam esse gene dormente e a sua expressão produz poderes que vemos através das proteínas. Contudo, essa capacidade de expressar “genes dormentes” não acontece apenas na ficção científica. Em 2006, ao investigarem o desenvolvimento de aves, pesquisadores descobriram que uma mutação em um único gene fazia com que os embriões desenvolvessem dentes. Como os cientistas já sabiam que o ancestral comum das aves deixou de ter dentes há cerca de 80 milhões de anos, os experimentos indicam que esse gene foi “desligado” muito tempo atrás, mas que, se modificado em laboratório, ainda é capaz de induzir a formação de dentes.

Mas os genomas não são isso tudo que parecem. De fato, desligar ou ligar um gene pode trazer grandes consequências, mas grande parte de nossa genética é um emaranhado de interações envolvendo dezenas ou centenas de genes simultaneamente. Nos X-Men, o gene X codifica uma proteína que por sua vez produz sinais químicos para todo o corpo, induzindo a mutações em outros genes. Ser um mutante é o resultado de uma cascata química muito radical. Além disso, as mutações genéticas não são as mesmas em todos os mutantes. Dr. Jean Grey, ou Phoenix, por exemplo, é um mutante poderoso e muito raro. Isso também pode ser observado na natureza: mutações com maiores efeitos são raros. É por esse motivo que a evolução leva um longo tempo e novas características simplesmente não surgem do nada.

Sair de mutantes habituais como nós para mutantes plenos como X-Men não é só talento de Hollywood. Em 2013, pesquisadores descobriram um gene com potencial para regenerar membros, como acontece com as salamandras e as estrelas do mar. As salamandras, por exemplo, são capazes de regenerar completamente partes do corpo, olhos e até mesmo partes de seu cérebro. Nós provavelmente temos a mesma habilidade, mas ao longo da cadeia evolutiva alguma coisa foi desligada.

As salamandras são animais capazes de regenerar partes de seu corpo. 

E então, o quão perto estamos de nos transformamos em X-Men? Como aconteceria o próximo passo para a evolução da espécie humana? É importante salientar que a evolução trabalha ao selecionar naturalmente mutações aleatórias que ocorrem no DNA de um organismo. Ninguém sabe que poderes podem estar escondidos em nosso genoma. As mutações que nós já conhecemos de fato são incríveis. Algumas crianças nascem com uma mutação que inibe a sensação de dor e outras que possuem hipertrofia muscular relacionada à miostatina – uma mutação genética que dobra o músculo esquelético. Além disso, os humanos dão o próximo passo na evolução o tempo todo. A habilidade de digerir proteínas encontradas no leite animal é uma mutação que se espalhou para muitas populações humanas há poucos milhares de anos, bem como ter olhos azuis. Dado tempo suficiente, o próximo passo poderia ser mais para Wolverine ou Mística mais cedo do que pensamos.

REFERÊNCIAS

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