Gripe H1N1? H3N2? O quê isso significa? Devemos temer esses vírus? No texto a seguir estão as respostas para essas (e outras) perguntas.

Que o vírus da gripe é um velho conhecido de todos nós, isso é verdade. Outra verdade é que todos os anos ele aparece nos noticiários, principalmente na época da campanha anual de vacinação contra a gripe.

Entre o fim de 2021 e o início de 2022, esse vírus foi alvo dos noticiários, mas por um péssimo motivo: um novo surto de gripe. Mas, dessa vez, da variante H3N2. 

Sabemos que essa variante é perigosa, altamente transmissível… mas um detalhe que na maioria das vezes passa despercebidamente dos noticiários é o porquê desse vírus ser denominado com siglas como a H3N2. 

E o H1N1, a conhecida gripe espanhola, por quê recebeu essa nomenclatura? É exatamente sobre isso que iremos conversar no texto a seguir!

Gripe H1N1? H3N2? O que significa esse “H”? E o “N”?

Os vírus influenza, que comumente chamamos de vírus da gripe, são classificados em quatro tipos: influenza A, B, C ou D. O tipo A apresenta os conhecidos subtipos H1N1, H3N2, H5N1, entre outros subtipos capazes de provocar epidemias sazonais, ou seja, próprias de uma determinada estação do ano, principalmente do inverno.

E o significado das siglas que nomeiam os subtipos dos vírus influenza A? A resposta está na estrutura desses vírus. 

Estrutura do vírus influenza
Estrutura do vírus influenza. #PraTodosVerem: Estrutura do vírus influenza na qual a membrana viral aparece representada por um círculo de coloração roxa e as estruturas das proteínas de membrana Neuraminidase e Hemaglutinina, aparecem nas colorações laranja e azul, respectivamente. Na parte interna da estrutura circular do vírus, aparecem os Nucleocapsídeos, representados por estruturas em forma de mola, nas cores amarela, verde e vermelha. Fonte: Nogueira; Ponce (2021).

Os vírus da gripe contêm em sua estrutura as proteínas Hemaglutinina (H) e Neuraminidase (N), sendo que da primeira já se tem conhecimento de 15 diferentes formas e da segunda 9 diferentes formas. Dentre essas formas encontradas nos vírus do tipo influenza A, sabe-se até o momento que somente as Hemaglutininas H1, H2 e H3, e as Neuraminidases N1 e N2 apresentam a capacidade de infectar seres humanos.

Esses vírus são “novos”? Há quanto tempo essas variantes infectam seres humanos?

Essas diversas formas, as chamadas variantes dos vírus, resultam de mutações, as quais são impulsionadas pela taxa de transmissão da doença. Ou seja, quanto mais pessoas o vírus infectar, maior a chance de algum problema na sua maquinaria de replicação ocorrer e ele sofrer uma mutação. 

Ao contrário do que possa parecer, essas variantes não são novidade. De acordo com estudo publicado na Nature em 2021, a primeira pandemia de H1N1 registrada no mundo, a famosa gripe espanhola, teve início em 1918. Já a primeira pandemia de H3N2 teve seu primeiro registro em 1968.

Segundo o estudo, o vírus da gripe apresenta oito diferentes segmentos de genes, os quais podem ser substituídos por rearranjo genético. E quando a célula do hospedeiro é infectada por dois ou mais vírus influenza, pode ocorrer esse rearranjo genético e, consequentemente, a produção de uma nova variante

Mas por que sempre temos pandemias dessas mesmas variantes? As pandemias ocorrem devido às mutações sofridas pelo vírus, o que resulta em novas cepas, com um diferente material genético. E a tendência é que, a cada mutação sofrida, a capacidade do vírus de se multiplicar rapidamente seja aumentada, comprometendo com agilidade o sistema imunológico do hospedeiro.

Um exemplo é a cepa H1N1, que ocasionou em uma primeira pandemia de gripe em 1918 e, em 2009, foi responsável por uma segunda pandemia. Bem, mas o que acontece para que uma mesma cepa resulte em uma nova pandemia? O que há de diferente? Deve-se levar em conta dois fatores: a elevada transmissão do vírus, ou seja, o contato do vírus com uma população diversa de hospedeiros e a questão do rearranjo de genes que, nesse caso, se deu entre os vírus H1N1 humano, H1N1 aviário e H1N1 suíno. E foi a contaminação por meio de suínos que resultou nessa nova cepa de influenza H1N1, que foi transmitida para humanos.

Linha do tempo do surgimento de diferentes variantes do vírus Influenza
Linha do tempo do surgimento de diferentes variantes do vírus Influenza A. #PraTodosVerem: Linha do tempo mostrando o surgimento das cepas:H1N1, em 1918, na qual é vista a estrutura do vírus da gripe em azul claro e azul escuro. Dentro da estrutura circular do vírus há a representação de diferentes cepas dessa variante, nas cores cinza e azul; H2N2, em 1957,  na qual é vista a estrutura do vírus da gripe em azul claro, amarelo e laranja, dentro da estrutura circular do vírus há a representação de diferentes cepas dessa variante, nas cores cinza e laranja; H3N2, em 1968,  na qual é vista a estrutura do vírus da gripe em verde claro e laranja escuro, dentro da estrutura circular do vírus há a representação de diferentes cepas dessa variante, nas cores cinza, verde e laranja; H1N1, em 2009, na qual é vista a estrutura do vírus da gripe em roxo e lilás, dentro da estrutura circular do vírus há a representação de diferentes cepas dessa variante, nas cores lilás e roxo. Fonte: Harrington; Kackos; Webby (2021).

Devemos temer a H3N2? 

Também conhecida como cepa Darwin, a gripe H3N2 apresenta como primeiros sintomas a febre alta (a qual pode perdurar por até 3 dias), dor muscular, dor de garganta, coriza, tosse e dor de cabeça. Em alguns casos, os sintomas respiratórios da doença podem progredir a uma pneumonia, levando até mesmo a internação. Portanto, além dos sintomas que podem ser graves e somada a possibilidade de contágio H3N2 e Covid-19 (não, a pandemia ainda não acabou!), é imprescindível evitarmos o contágio em massa (e um possível comprometimento severo do sistema respiratório como consequência).

Como deve ser feita a prevenção?

Bem, mas e a prevenção? A vacina contra a influenza, está disponível gratuitamente em todo o Brasil nos postos de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). 

A Campanha Nacional de Vacinação Contra a Gripe e Sarampo 2022 já começou e vai até dia 03/06. A vacina protege contra a influenza subtipo A, incluindo a cepa Darwin da H3N2 (responsável pelos surtos mais recentes de gripe) e a H1N1, e uma cepa do subtipo B (Victoria).

Devo tomar a vacina disponível gratuitamente pelo SUS ou devo pagar por uma vacina da rede privada? Ambas são eficazes. A diferença é que a rede pública oferece somente a vacina trivalente, que abrange as cepas H3N2, H1N1 e Victoria, sendo esta última apontada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a que será mais frequente esse ano. A rede privada oferece a vacina tetravalente, contendo imunização contra as cepas H3N2, H1N1, Victoria e Yamagata.

Partindo do princípio de que a vacina disponibilizada pelo SUS imuniza contra as principais cepas apontadas pela OMS como mais prevalentes, se você não tiver valores que podem variar de R$ 80 a R$ 150 sobrando, a vacina ofertada pelo SUS constitui em uma opção segura, eficaz e gratuita – além de ser um direito de todo cidadão.

Portanto, a vacina é o meio mais eficaz de prevenção, pois diminui a circulação do vírus entre a população e reduz potencialmente as chances de desenvolvimento da forma mais grave da doença. Vacine-se e vacine os seus. Em caso de sintomas gripais, procure a Unidade Básica de Saúde mais próxima e consulte um médico. Viva a ciência! Viva o SUS!

Texto revisado por Darling Lourenço e Bruna Lopes

Cite este artigo:
GODOY, B. R. H1N1? H3N2? O quê isso quer dizer, afinal?  Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/h1n1-h3n2-o-que-isso-quer-dizer-afinal/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

GRIPE AVIÁRIA (GRIPE H5N1) | ENTREVISTA. Drauzio Varella. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/entrevistas-2/gripe-aviaria-gripe-h5n1-entrevista/> Acesso em: 04 Mar 2022.
H3N2: novo vírus influenza em circulação no país. Biblioteca Virtual em Saúde – Ministério da Saúde. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/h3n2-novo-virus-influenza-em-circulacao-no-pais/> Acesso em: 30 Mar 2022.
H3N2: SES orienta população sobre os cuidados contra a Influenza em MS. Secretaria do Estado de Saúde – Governo do Estado do Mato Grosso do Sul. Disponível em: <https://www.saude.ms.gov.br/h3n2-ses-orienta-populacao-sobre-os-cuidados-contra-a-influenza-em-ms/#:~:text=A%20doen%C3%A7a%20tem%20in%C3%ADcio%2C%20em,em%20torno%20de%20tr%C3%AAs%20dias.> Acesso em: 02 Abr 2022.
HARRINGTON, W. N.; KACKOS, C. M.; WEBBY, R. J. The evolution and future of influenza pandemic preparedness. Experimental & Molecular Medicine, v. 53, n. 5, p. 737-749, 2021.
TRENZ, T. S. O desafio da vacina da gripe: Uma abordagem molecular. Blog do Profissão Biotec. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/o-desafio-da-vacina-da-gripe-uma-abordagem-molecular/> Acesso em: 03 Mar 2022.
NOGUEIRA, T.; PONCE, R. O vírus da Gripe. Revista de Ciência Elementar, v. 9, n. 2, 2021.
Vacina da gripe 2022: qual a diferença entre a particular e a do SUS. Veja Saúde. Disponível em: <https://saude.abril.com.br/medicina/vacina-da-gripe-2022-qual-a-diferenca-entre-a-particular-e-a-do-sus/> Acesso em: 16 Maio 2022.
Vacinação contra a Gripe e Sarampo. Ministério da Saúde. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br/campanhas-da-saude/2022/vacinacao-contra-gripe-e-sarampo#:~:text=Para%20evitar%20surtos%20da%20doen%C3%A7a,idade%20e%20trabalhadores%20da%20sa%C3%BAde> Acesso em: 22 Maio 2022.
Fonte da imagem destacada: Alvaroapoio.

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