Inúmeras pesquisas e descobertas na área da saúde são realizadas diariamente. O avanço da ciência nesse setor é de extrema importância para desenvolver e aprimorar medidas preventivas bem como de tratamento das enfermidades que afetam a população moderna.
E o Brasil? Qual é nossa maturidade científica na área da saúde? Claro que não deixa a desejar em relação a pesquisas avançadas e descobertas relevantes, como podemos ver pela pesquisa recém desenvolvida pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e publicada na revista Scientific Reports, do grupo Nature. Neste trabalho, os cientistas brasileiros do Instituto de Biociência, Linguagem e Ciências Exata sintetizaram uma molécula capaz de inibir a replicação do vírus da hepatite C (VHC) em diversos estágios de seu ciclo.
A hepatite C é uma doença causada VHC, afetando o fígado e, em sua forma crônica, pode conduzir o enfermo à cirrose, insuficiência hepática e câncer. É conhecida como uma epidemia silenciosa pela forma como tem aumentado o número de contágios em todo o mundo e pelo fato de a enfermidade evoluir, geralmente, de forma lenta e seu diagnóstico ser tardio.
O vírus da hepatite C é altamente diversificado exibindo pelo menos seis genótipos principais. Diferentes métodos de tratamentos terapêuticos são utilizados com intuito de conter a progressão do vírus, no entanto, muitos dos métodos mais acessíveis à população apresentavam baixos índices de resposta, bem como efeitos colaterais indesejáveis. Dessa maneira, o desenvolvimento de novos fármacos utilizando abordagens científicas recentes e melhoradas é de extrema importância para produção de medicamentos mais eficazes e de baixo custo.
A doença em números
Estima-se que 71 milhões de pessoas no mundo estejam infectadas com a hepatite C crônica, sendo que 72% delas vivem em países de renda baixa ou média. O VHC custa milhões de dólares anualmente para o tratamento de pacientes crônicos, sendo responsável por aproximadamente 399.000 mortes por ano. Cerca de 20% dos infectados cronicamente podem evoluir para cirrose hepática e cerca de 1% a 5% para câncer de fígado. Segundo a Organização Mundial de Saúde, é possível que surjam todos os anos três a quatro milhões de novos casos no planeta.
O vírus da hepatite C
O vírus da hepatite C é um vírus envelopado, constituído por RNA de fita simples e pertence à família Flaviviridae. Sua detecção se dá por meio de exames de biologia molecular (HCV-RNA), que também são capazes de identificar o seu tipo (genótipo) e quantidade no sangue (carga viral).
O VHC é uma partícula lipo-viral, ou seja, seu ciclo de vida está intimamente associado ao metabolismo lipídico. Dessa maneira, o VHC utiliza fatores relacionados ao lipídio para entrar e se replicar no hospedeiro, bem como sua liberação depende da via de lipo-proteínas para sair das células já infectadas.
Avanço no tratamento do VHC desenvolvido pela UNESP
Entre as novas abordagens para o tratamento de doenças humanas, as drogas que fazem uso de peptídeos são recursos vantajosos no desenvolvimento de novos tratamentos antivirais, uma vez que apresentam baixos efeitos colaterais e rápida eliminação após o tratamento. Nesse sentido, um peptídeo sintético bem conhecido por ser um potente inibidor e pela sua propriedade de interação lipídica é o Hecate. Esse peptídeo, previamente relatado como antibacteriano, mostra uma interação bem descrita com membranas plasmáticas (MP). Em seu mecanismo de ação, o Hecate insere-se entre moléculas lipídicas presentes na MP causando instabilidade na estrutura química e consequentemente, levando a ruptura da membrana.
Um grupo de pesquisadores da UNESP sintetizou seis novos compostos e conseguiu chegar a uma preparação com grande potencial terapêutico. Eles utilizaram a técnica de bioconjugação, a qual consiste em ligar duas ou mais moléculas, formando um novo complexo, combinando as propriedades de seus componentes individuais. Dessa maneira, por meio de reações químicas, o novo composto capaz de eliminar o VHC foi sintetizado a partir do ácido gálico e do peptídeo Hecate, GA-Hecate.
A adição do ácido gálico ao Hecate permitiu manter a atividade antiviral e diminuir suas propriedades de romper as células hospedeiras. Após o estudo constataram que o novo composto foi capaz de interagir com os lipídeos para alterar a fluidez da membrana plasmática, perturbar a formação do envelope viral e inibir a fusão e saída do vírus. Ademais, permitiu que o complexo replicativo do VHC ficasse exposto à ação das enzimas celulares do sistema inato do hospedeiro, as quais puderam eliminar o vírus.
O composto sintetizado pelos pesquisadores foi um avanço tecnológico importante na área da saúde. Tal fato deve-se a capacidade da molécula agir nas diversas etapas do ciclo viral, atacando muito mais o vírus do que a célula hospedeira, ao contrário dos antivirais comuns, causando menos efeitos adversos ao organismo.
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