Em 2020 estamos nos aproximando dos 40 anos da primeira descrição do vírus HIV, mas em que estágio estão os novos tratamentos? E é possível a cura?

Os Vírus da Imunodeficiência Humana ou HIV (Human Immunodeficiency Viruses) são os agentes causadores da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS, Acquired Immunodeficiency Syndrome) e são divididos em duas espécies descritas: HIV-1 e HIV-2. Esses vírus pertencem ao gênero Lentivirus, um subgrupo da família Retroviridae, que são caracterizados por apresentarem um longo período de incubação e possuir material genético constituído apenas de RNA.  É possível saber mais sobre aqui!

A AIDS é a doença que resulta da infecção do organismo pelo HIV. Ela foi identificada em 1981, enquanto que o HIV apenas em 1983. Essa doença é caracterizada pelo colapso das células imunes do tipo T CD4+ e déficit das respostas do sistema imune. A partir de então, o ser humano que está infectado passa a ser suscetível a diversas infecções oportunistas, que geram doenças graves, como a tuberculose. Isso porque, uma vez que o sistema imune está danificado, o mesmo não consegue neutralizar os outros patógenos. Aqui no Profissão Biotec você pode encontrar mais informações sobre essa doença, clicando aqui!

Representação gráfica, em forma de mandala, da prevenção combinada para a AIDS.
Representação gráfica, em forma de mandala, da prevenção combinada para a AIDS. Essas estratégias são recomendadas pelo Ministério da Saúde para todas as pessoas a fim de evitar a infecção por HIV.. Fonte: Ministério da Saúde, acesso em 22 Mar 2020.

O tratamento atual para a AIDS é baseado no uso de medicamentos antirretrovirais (ARV). Apesar de possuírem mecanismos de ação distintos, as diferentes classes de ARV têm como objetivo evitar a replicação viral, reduzindo então a carga viral do paciente. A replicação viral é o processo pelo qual os vírus produzem novas cópias de si mesmo utilizando a maquinaria das células infectadas do hospedeiro. Aqui é possível ler um pouco mais sobre os ARV utilizados! Apesar da sua importância, a terapia com ARV apresenta diversos efeitos adversos, como vômitos, lipodistrofia e disfunções hepáticas . É importante ressaltar que o Brasil distribui os medicamentos ARV gratuitamente através do Sistema Único de Saúde (SUS) desde 1996!

Mas… há cura para a AIDS?

Em 2020 estamos cada vez mais perto dos 40 anos da primeira descrição da AIDS/HIV, mas há alguma cura? O que tem sido feito até agora?

Não, não existe uma cura para a AIDS. Mas, até o presente momento, cientistas já relataram um caso de cura completa de um paciente e a possível cura completa de outro, mas que ainda permanece em acompanhamento. O primeiro, denominado Paciente Berlim”, foi curado em 2006 por meio de um transplante de medula óssea utilizando um doador resistente ao HIV. É possível saber mais neste link! Em março de 2020, foi anunciado o Paciente Londres”, que também através de um transplante de medula óssea de um doador resistente ao HIV está livre do vírus mesmo após 30 meses sem utilizar a terapia ARV. 

É importante ressaltar que o transplante de medula óssea é um procedimento cirúrgico de alto risco e que os pacientes só foram submetidos ao mesmo porque possuíam leucemia e linfoma, sendo, dessa forma, uma alternativa para a cura do câncer e do HIV. Entretanto, cientistas de todo o mundo ainda permanecem na busca por melhores tratamentos e a Biotecnologia é a ferramenta fundamental para isso! A seguir, alguns dos avanços relacionados ao tratamento da AIDS.

Representação do HIV (em amarelo) infectando uma célula T CD4+ humana
Representação do HIV (em amarelo) infectando uma célula T CD4+ humana. Fonte: Picus, S.; Fischer, E.; Athman, A. para o National Institutes of Health. Acesso em 25 Mar 2020.

Imunoterapia Parte I

Apesar da Biotecnologia ser uma fonte de estudos para várias abordagens terapêuticas utilizando edição genética, que são as mais brilhantes nessa área, a imunoterapia é uma das mais promissoras nesse momento! O HIV é um vírus perigoso que danifica o sistema imune do paciente, deixando o mesmo exposto a diversas infecções oportunistas. Mas, e se o sistema imune do paciente fosse melhorado a ponto do mesmo combater as células infectadas pelo HIV? É isso que diversos estudos vêm mostrando.

Pesquisadores do Centro de Saúde da Universidade de Montreal, no Canadá, demonstraram que o uso de anticorpos monoclonais utilizados no tratamento do câncer são capazes de ter como alvo as células T CD4+ infectadas com HIV, e assim reduzir significativamente a carga viral dos pacientes. Isso porque o Pembrolizumab, que é um anticorpo monoclonal utilizado no tratamento de alguns tipos de câncer, como melanoma, possui como alvo três proteínas (PD-1, LAG-3 e TIGIT) que são expressas tanto na membrana de células cancerígenas quando de células infectadas pelo HIV. É importante ressaltar que é um resultado preliminar e que os pacientes continuaram com o tratamento com ART. 

Imunoterapia Parte II – Vacinas Terapêuticas

Ademais, o desenvolvimento de vacinas terapêuticas é uma área muito promissora no tratamento de pacientes infectados com HIV. As vacinas terapêuticas possuem como alvo os pacientes já infectados, ou seja, não é um método de prevenção para HIV. Essas vacinas têm como objetivo a produção de uma reação imune do próprio paciente contra as células infectadas; neste sentido, então, atuam “ensinando” o sistema imune a lutar contra  as células infectadas e reduzir assim a carga viral do paciente. Para mais informações, acesse os links Labiotech, Nature e Oxford University Innovation!

A prevenção e o combate à AIDS é uma tarefa de todos nós, mas a Biotecnologia pode trazer algumas boas soluções nos próximos anos. Será que essas soluções aparecerão antes dos 40 anos da descoberta do HIV? Nos acompanhe para mais informações! E não se esqueça, a prevenção ainda é a melhor forma de combater a AIDS! O Ministério da Saúde tem ótimas informações relacionadas à prevenção!

Darling
Texto revisado por Bruna Lopes e Letícia Cruz

Referências:


BARRÉ-SINOUSSI, F. et al. Isolation of a T-lymphotropic retrovirus from a patient at risk for acquired immune deficiency syndrome (AIDS). Science, v. 220, p. 868-871, 1983. 
Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Ministério da Saúde. Disponível em <http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-e-hiv>. Acesso em 22 Fev 2020. 
FROMENTIN, R. et al. PD-1 blockade potentiates HIV latency reversal ex vivo ind CD4+ T cells from ART-suppressed individuals. Nature communications, v. 10, 2019.
GUPTA, R. et al. Evidence for HIV-1 cure after CCR5Δ32/Δ32 allogeneic haemopoietic stem-cell transplantation 30 months post analytical treatment interruption: a case report. The Lancet HIV, 2020. Disponível em <https://www.thelancet.com/journals/lanhiv/article/PIIS2352-3018(20)30069-2/fulltext>. Acesso em 22 Mar 2020. 
HIV/AIDS. Organização Mundial da Saúde. Disponível em <https://www.who.int/features/qa/71/en/>. Acesso em 22 Mar 2020.
SOUZA, J.; STORPIRTIS, S. Atividade anti-retroviral e propriedades farmacocinéticas da associação entre lamivudina e zidovudina. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 40, n. 1, p. 1-10, 2004.TREMOUILLAUX-GUILLER, J. et al. Plant-made HIV vaccines and potential candidates. Current Opinion in Biotechnology, v. 61,p. 209-216, 2020.

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