Nos últimos anos, tem se falado muito sobre o fato da inteligência artificial (IA) conquistar uma vaga em todas as possíveis áreas de estudo e trabalho. Mas afinal, o que ela é? Como ela pode auxiliar a biotecnologia? Neste texto, serão abordados alguns conceitos da IA e o que ela tem a oferecer às pesquisas biotecnológicas.
Uma breve introdução ao conceito de Inteligência Artificial…
Inteligência Artificial é a ciência de fazer máquinas que não apenas pensam e agem como humanos, mas que aprendem e resolvem problemas. Essa área de conhecimento surgiu em meados da década de 1950, porém o sistema foi se aprimorando ao longo das últimas décadas, com o desenvolvimento de melhores algoritmos.
Entre uma de suas tecnologias, o Aprendizado de Máquina (Machine Learning, ou ML) se destaca. O ML utiliza uma série de dados iterados, brutos e seus resultados/outcomes e, com base nestes, constrói modelos preditivos. Entre suas abordagens, utiliza o modelo de Redes Neurais Artificiais (ou se preferir, Artificial Neural Networks) – sim! é isso que você está pensando mesmo: NEURAIS – esse método foi inspirado nas redes de conexões dos neurônios no cérebro.
Entre as aplicações gerais da IA, encontram-se o reconhecimento facial e de imagem (este, aliás, muito utilizado em novos métodos de diagnóstico por imagem), mapeamento (programas de GPS), e diversas outras.
Inteligência Artificial na biotecnologia
Qual seria o papel da inteligência artificial no âmbito das ciências biotecnológicas? Sabe-se que esta área trabalha e gera um grande número de dados (Big Data), dos quais se torna difícil a extração e o entendimento. Essa dificuldade se deve, em parte, à forma manual (ou humana) de seleção e análise dos dados (alô, Excel e Graphpad!) que, caso contrário, é analisada com ferramentas de bioinformática (o que requer conhecimentos em programação nas linguagens R e Python, pelo menos); mas também devido ao fato de que, com grande volume de dados, a rede se torna tão robusta que dificulta a extração daquilo que é relevante de fato.
Nesse contexto, a IA tem a capacidade de fazer o trabalho de uma forma mais rápida e barata, encontrando padrões muitas vezes invisíveis aos nossos olhos, ou captando-os de uma forma muito mais rápida, uma vez que ela é construída com base em algoritmos de análise de dados. A IA já está presente, entre muitas outras, nas seguintes aplicações:
Predição de Interações Proteicas
- O estudo das interações entre proteínas permite compreender as interações nos estados fisiológicos saudável e patológico. Assim, pode contribuir para o design de medicamentos. A partir da extração de um conjunto de dados, o ML pode construir padrões que serão base do seu aprendizado.
Desenho de medicamentos
- Neste caso, a tecnologia de IA tem o potencial de predizer tanto as propriedades (por exemplo, as físico-químicas e ADMET – absorção, distribuição, metabolismo, excreção e toxicidade) quanto a atividade da droga, com base na sua estrutura. Isto é particularmente útil no desenho de novo (ou seja, algo que parte de um nada, é criado do zero, não pré-existe em outra forma) de medicamentos, já que se pode obter novas moléculas desenhadas de maneira customizada (do jeito que você quer!)
- A característica acima tem o potencial de diminuir gastos com moléculas ou drogas não eficientes, uma vez que não seria necessário realizar experimentos para verificar sua funcionalidade pois o próprio algoritmo realizaria a predição de sua possível capacidade.
Análises pela literatura
Bakkar e colaboradores (2018) utilizaram o sistema IBM Watson para identificar novas proteínas ligantes ao RNA (ou RBPs – RNA binding proteins) associadas à uma doença neurodegenerativa esclerose lateral amiotrófica (ELA). Algumas dessas proteínas, de fato, se mostraram alteradas na doença via validações. O sistema realizou essa descoberta por meio do processamento (via análise de similaridades e criação de conexões) de resumos (ou abstracts) dos artigos científicos publicados. Esta abordagem (também chamada de Processamento de Linguagem Natural) é muito útil em doenças complexas, cujas causas moleculares são inúmeras e de difícil validação via experimentação. Como exemplo, um estudo utilizou esta ferramenta para melhorar o entendimento da endometriose, doença caracterizada pelo desenvolvimento de tecido do endométrio fora do útero.
Genômica
- Pode atuar na predição de mutações fora do alvo do sistema CRISPR/Cas9! Sabe-se que o sistema CRISPR/Cas9, embora muito aplaudido, pode acarretar em eventos fora do alvo, o que o impossibilita de ser utilizado na prática clínica até o momento. Como uma das formas de contornar tal problema, pesquisadores do Instituto Wellcome Sanger desenvolveram uma ferramenta baseada em ML que permite a predição dos sítios em que este sistema pode atuar, uma vez que age dentro da célula. Dessa forma, no futuro, a eficiência e a segurança do uso deste sistema biológico como método de tratamento pode aumentar.
Enfim, a IA chegou pra valer e não irá embora. Sua participação nos processos diários laboratoriais, seja otimizando buscas, permitindo modelagem, prevendo eventos, ou ainda automatizando o dia a dia laboratorial, apenas está no começo e irá se expandir. Ela é uma peça chave para o futuro da biotecnologia. Cabe, portanto, ao biotecnologista manter a mente aberta para a introdução desta ferramenta ao seu cotidiano laboratorial, de maneira a aprimorar e respaldar seus achados.
Por outro lado, a chegada da IA traz um desafio técnico a esses profissionais, pois também serão necessários que apliquem as necessidades (das mais variadas) laboratoriais ao contexto da inteligência artificial – pode surgir aqui uma nova área de especialização para os BIOcientistas (por que não?).
Quer saber mais? Sugerimos alguns links úteis sobre o assunto:
TED Talks ( mais de 60 palestras sobre IA).
Cursos sobre IA: Coursera, EDx, entre outros.
Acervo Profissão Biotec sobre Inteligência Artificial.