Quando se pensa em cosméticos, logo surge a ideia de embelezar-se. De fato, estes produtos se propõem a limpar, perfumar, proteger e alterar a aparência. O objetivo? Retardar processos de envelhecimento e prolongar a juventude. No entanto, a indústria da beleza enfrenta desafios para inovar neste conceito no que se refere às novas tendências do mercado consumidor. Nesse sentido, as microalgas têm se mostrado uma matéria-prima a ser explorada.
Imagem 1: Cena do filme “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde, 2009. A obra descreve um jovem rapaz que tem sua aparência retratada em um quadro. Obcecado por sua beleza, Dorian diz que daria sua alma para se manter como no retrato para sempre. Em uma troca, sua imagem no quadro envelhece de forma sombria com o tempo enquanto ele permanece jovem.
Microalgas são micro-organismos unicelulares capazes de realizar fotossíntese. Possuem uma grande variedade de pigmentos e são encontradas no ambiente marinho, em água doce e no solo. Seu ciclo de vida de algumas horas permite rápida proliferação, além do menor custo de cultivo em relação a outras culturas, devido à facilidade em reproduzir suas condições ideais de crescimento.
A biotecnologia faz parte deste novo cenário na indústria estética e traz o conceito de formulações mais ecológicas, com princípios bioativos naturais, menos tóxicos e de efeito mais prolongado. No caso das microalgas, o conceito biotecnológico se aplica na utilização de sua capacidade fotossintética para a produção de biomassa que será a fonte para a extração de compostos de interesse.
O sistema biológico das microalgas é bastante eficiente chegando a permitir a duplicação diária de biomassa que é toda aproveitada devido à falta de vascularização. Isso permite a concentração de substância em um mesmo local e sua melhor extração.
A simplicidade de sua estrutura, menor dependência de fatores sazonais e reprodução por divisão binária levam ao rápido desenvolvimento em fotobiorreatores e tanques, além da maior possibilidade de seleção de cepas para melhoramento genético das espécies. O resultado é uma produção em larga escala, de custo reduzido e com aumento constante dos níveis de qualidade.
Imagem 2: Fotobiorreatores tubulares com disposição vertical em operação. Estes reatores devem ser transparentes para permitir ampla penetração da luz. O processo pode ocorrer de forma contínua, ou seja, há grandes quantidades de matéria-prima, e nutrientes são dispostos constantemente para a produção, ou em batelada onde é feita uma mistura dos compostos que irão para o reator e serão utilizados até o esgotamento para posterior retirada e reinício de nova operação.
Ainda, as microalgas são um excelente recurso para sintetizar compostos orgânicos que retêm propriedades terapêuticas e nutritivas, sendo compostas por proteínas, hidratos de carbono, fibras, carotenóides, ácidos graxos, sais minerais, vitaminas, enzimas, peptídeos e esteróis, cujos valores dependem da espécie e do processo de produção.
Processos biotecnológicos de extração e purificação destas substâncias permitem o melhor aproveitamento desses micro-organismos como um todo e sua aplicação em cremes, loções, condicionadores e até mesmo suplementos. O objetivo é cuidar e nutrir pele e cabelos de dentro para fora, atingindo suas camadas mais profundas e melhorando seu aspecto de forma saudável.
Imagem 3: Extrato em pó, suco detox e comprimidos a base das microalgas Chlorella e Spirulina bastante difundidas em dietas orgânicas. O alto poder nutritivo e a ação antioxidante auxiliam no rejuvenescimento celular.
Dentre os compostos vastamente encontrados nas microalgas destacam-se os óleos poliinsaturados, que melhoram a camada lipídica da pele e combatem a flacidez encontrados em quantidades significativas em espécies como Pavlova lutheri, Odontella aurita, Crypthecodinium cohnii e Porphyridium cruentum. Há também os carotenoides como betacaroteno e astaxantina, pigmentos naturais bastante encontrados em espécies como Dunaliella salina e Haematococcus pluvialis, respectivamente. Estes compostos são mais resistentes ao calor do que os tradicionais corantes sintéticos, atuando como fotoprotetores e reduzindo a formação de radicais livres associados ao envelhecimento precoce da pele. Os carotenoides são associados como agentes anticâncer e estimuladores do sistema imunológico. Ainda, a presença de alto teor de polissacarídeos auxilia na produção de colágeno, evitando rugas e marcas de expressão.
Imagem 4: Microalgas da espécie Haematococcus pluvialis encontradas em água doce. São as maiores fontes de astaxantina encontradas na natureza e são uma barreira de proteção contra os raios ultravioleta. Fonte: Wiedehopf20 via Wikimedia Commons.
Empresas como a Natura já investem em pesquisas na área. Em 2015, um acordo foi firmado com a Solazyme, atualmente TerraVia, para a compra de um óleo à base de microalgas. O AlgaPure® será incorporado em algumas composições dos seus produtos. As promessas são profunda hidratação, suavidade, toque seco, cor e aroma neutros, além de maior prazo de validade.
Imagem 5: Processo de cultivo e aplicações das microalgas. Elas são inicialmente cultivadas em tanques ou fotobiorretores. Após seu crescimento, são colhidas e utilizadas como matéria-prima em diferentes áreas como nutrição, cosmética e biocombustíveis.
A Embrapa Agroenergia identificou espécies de microalgas capazes de se desenvolver em efluentes resultantes do processamento de cana e dendê. Os níveis de produtividade chegaram a ser 100 vezes maiores que culturas agrícolas tradicionais e provêm óleos com compostos valiosos para a indústria cosmética, como o Ômega 3, conhecido principalmente por fortalecer o sistema imunológico, melhorar a saúde cardiovascular, contribuir para uma pele saudável, regular a pressão e reduzir os níveis de colesterol no sangue.
A Algenist é uma empresa de biotecnologia situada no Vale do Silício que já utiliza substâncias provenientes de microalgas, como óleos e proteínas, além do ácido algurônico®, patenteado pela mesma na composição de seus cosméticos. As formulações oferecem tratamentos anti-idade, proteção UVB e correção de coloração da pele com resultados visíveis em 10 dias. Os produtos são hipoalergênicos e para todos os tipos de pele. Eles seguem uma linha que preza pela sustentabilidade evitando o uso de corantes sintéticos, sulfatos e parabenos, que podem ser agressivos ao corpo e a natureza devido ao seu acúmulo.
Imagem 6: Creme à base de microalgas produzido pela empresa Algenist.
A tendência é que esta fonte natural e renovável de bioativos continue a conquistar cada vez mais espaço no setor estético e traga benefícios para o corpo que vão além da aparência, promovendo saúde, bem estar e sustentabilidade.
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REFERÊNCIAS
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Brazil Beauty News. Natura usará óleo de microalgas produzido pela Solazyme em suas linhas de cosméticos. http://www.brazilbeautynews.com/natura-usara-oleo-de-microalgas-produzido-pela,769. Acesso em 03/09/2017.
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