Você sabia que existem partículas plásticas minúsculas que se acumulam no meio ambiente? Venha entender e descobrir qual o impacto delas!

Você já ouviu falar que é quase impossível contar a quantidade de estrelas no céu e de grãos de areia na terra? Ou, ainda, saber se existem mais grãos de areia na terra do que estrelas no céu? 

Pois bem, agora vamos adicionar mais uma opção a essa pergunta: micropartículas plásticas! Sim, isso mesmo que você leu! A ciência vem estudando essas micropartículas nos últimos anos e constatando que elas já estão em todo lugar, na água, solo e até no ar. E ainda é muito difícil saber o quanto delas está presente no ambiente. Quer entender melhor o que elas são? Vem com a gente! 

O que são?

Micropartículas plásticas, ou microplásticos (MPs), são partículas plásticas com tamanho de até 5 milímetros, podendo ser ainda menores, como os nanoplásticos, que têm até  1 micrômetro. Para se ter ideia, um fio de cabelo tem um diâmetro médio entre 60 e 140 micrômetros. São muito pequenos! 

Foto de micropartículas plásticas
Foto de micropartículas plásticas. Fonte: Flickr #Paratodosverem: fotografia de um dedo da mão de uma pessoa segurando pequenas partículas plásticas coloridas em tonalidades brancas e azuis. 

Sabe de onde eles vêm? Continua com a gente para descobrir!

Os microplásticos são classificados em dois tipos: primários e secundários. 

Os microplásticos primários são aqueles que já são produzidos em tamanhos pequenos, como os pellets – que são usados para a produção de outros materiais plásticos maiores – e as microesferas – utilizadas principalmente na formulação de cosméticos, como esfoliantes e pastas dentais. 

Foto de creme esfoliante cosmético contendo microesferas
Foto de creme esfoliante cosmético contendo microesferas. Fonte: Freepik. #Paratodosverem: fotografia do rosto de uma mulher deitada na qual uma mão segurando um pincel passa um creme, de coloração marrom, esfoliante, que contém microesferas.

Por outro lado, os microplásticos secundários são aquelas micropartículas formadas pela degradação de objetos plásticos maiores. Sabe aquelas sacolas e garrafas plásticas que a gente vê flutuando nos oceanos? Elas podem formar microplásticos secundários. Isso porque, quando esses resíduos são expostos a intempéries ambientais, como raios ultravioleta, umidade, calor, choques físicos e movimento das ondas, eles podem ser quebrados em pedacinhos menores, bem pequenos, quase imperceptíveis para os seres humanos. 

Outros exemplos interessantes de formação de microplásticos secundários são a liberação de fibras sintéticas, que se desprendem das roupas durante o processo de lavagem e, por meio do esgoto, vão parar nos oceanos, e a liberação de micropartículas dos pneus dos carros a partir  do atrito entre o pneu e o asfalto. Quando chove, essas partículas são levadas pela água até os oceanos. Por essas você não esperava, né? Eles estão mais perto de nós do que imaginamos! 

O acúmulo de material plástico já é um problema global atual.  No mundo, projeta-se que 11 bilhões de toneladas de materiais plásticos chegarão ao meio ambiente até 2025. Imagina o quanto de microplásticos esses materiais podem gerar!

Sabia que eles já foram encontrados em diversos lugares?

Os microplásticos já foram detectados em todos os ambientes do planeta – terra, água e ar.

Estudos relatam sua presença inclusive nos pontos mais extremos da Terra, como o Monte Everest – montanha situada no Nepal, considerado o ponto mais alto do mundo – e as Fossas Marianas – local mais profundo dos oceanos, localizado no Oceano Pacífico. 

A preocupação inicial com o consumo de materiais plásticos por animais, como aves e peixes, começou a partir da detecção de pedaços plásticos dentro do estômago desses animais. Hoje, os pesquisadores vêm estudando e constatando a presença cada vez maior desses microplásticos no organismo de diferentes espécies.  

O controle e a quantificação da presença de microplásticos no ambiente ainda é muito difícil de ser realizado. Por serem muito pequenos, essas partículas conseguem passar livremente pelos filtros e membranas usados para purificação da água.  Além disso, há possibilidade dos microplásticos serem carregados pelo vento e pela chuva, se espalhando para todos os lugares! 

E quanto a nós, seres humanos ?

Segundo os cientistas, os seres humanos também já estão consumindo microplásticos

Os cientistas já detectaram a presença de microplásticos em alimentos, água potável, solo e ar. Um estudo publicado em 2019 na Environmental Science and Technology estimou que pessoas que bebem água apenas em garrafas de plástico podem consumir 90.000 micropartículas em comparação a pessoas que tomam água apenas da torneira, que ingeriram 4.000 micropartículas. Estudos também encontraram amostras de microplásticos em tecido placentário humano, além de detectarem microplásticos transportados pelo ar em tecido pulmonar humano.

Mulher bebendo água em garrafa plástica
Mulher bebendo água em garrafa plástica. Fonte: Freepik. #Paratodosverem: fotografia em que há, no fundo, uma parede branca com um pilar, e em primeiro plano, uma mulher branca de cabelos curtos grisalhos, bebendo água em uma garrafa de plástico.

Outras possibilidades de ingestão são o consumo de microplásticos por meio de alimentos e animais, principalmente marinhos. Um estudo de revisão publicado recentemente pela Science of The Total Environment discute a presença de microplásticos no solo e como sua análise, quantificação e possíveis impactos ainda são pouco estudados e reportados na literatura. 

A natureza pode nos ajudar

Sabia que as abelhas vêm sendo estudadas como possíveis bioindicadores da presença de microplásticos no ambiente? Seus corpos são cobertos de pelos que ficam eletrostaticamente carregados durante o voo e atraem diversas partículas, como o pólen, e podem atrair também microplásticos

As abelhas já são utilizadas como bioindicadores de poluição ambiental, e, agora, os cientistas veem nelas uma oportunidade de monitorar a presença e transporte de microplásticos pela atmosfera. Porém, os pesquisadores ainda não têm certeza se a presença dos microplásticos pode ser prejudicial à saúde das abelhas. 

Precisamos nos preocupar?

A resposta para essa pergunta é o que a ciência vem tentando descobrir! Os cientistas ainda estão estudando quais os possíveis impactos dos microplásticos para o meio ambiente e para os seres humanos. 

Algumas das principais preocupações são:

– A presença de materiais tóxicos (como resinas e pigmentos) nos microplásticos, geralmente adicionados na produção do plástico.

– A possível presença de metais e outras moléculas orgânicas tóxicas na superfície dos microplásticos, como resíduos industriais ou agrotóxicos descartados erroneamente no ambiente.

– Possíveis problemas respiratórios e inflamatórios em seres humanos causados pela ingestão de microplásticos.

– O potencial que algumas partículas muito pequenas apresentam de passarem pelas barreiras sanguíneas e placentárias.

– Preocupação quanto à possível bioacumulação, ou seja, passagem de materiais tóxicos através da cadeia trófica até os humanos.

Os efeitos dos microplásticos sobre o meio ambiente e a saúde humana ainda estão sendo estudados. Porém, nós podemos ajudar a amenizá-los! 

Ações como reduzir o consumo, reutilizar e repensar nossas atitudes e o uso de materiais plásticos no dia a dia possuem grande impacto na produção e descarte desses materiais.

Se você quiser saber mais sobre a presença e acúmulo de microplásticos e plásticos no meio ambiente, vale a pena conhecer o projeto da National Geographic chamado Planet ou Plastic (Planeta ou Plástico), que disponibiliza informações, notícias e ações para diminuir o impacto desses materiais no planeta. 

E aí, você já conhecia os microplásticos e o impacto deles nas nossas vidas? Conta pra gente nos comentários o que você achou sobre o assunto! 

Perfil de Camila Rios
Texto revisado por Bruna Lopes e Elaine Latocheski

Cite este artigo:
PIECHA, C. R. Microplásticos – O inimigo microscópico. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/microplasticos-inimigo-microscopico/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

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BESSLING, E. et al. Microplastic in a macro filter feeder: Humpback whale Megaptera novaeangliae. Marine Pollution Bulletin, v. 95, n.1, p. 248-52, 2015. doi:10.1016/j.marpolbul.2015.04.007.
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Fonte da imagem destacada: Flickr.

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