A divulgação científica é importante para a disseminação do conhecimento e festas populares podem ajudar na popularização da ciência
carnaval

A união entre o carnaval e a ciência pode parecer um pouco estranha e distante à primeira vista, no entanto, a junção dos dois é benéfica para a disseminação do conhecimento. 

Nós brasileiros conhecemos o carnaval como uma festa popular que mexe com a cabeça das pessoas. Existem diferentes perspectivas em relação a essa grande festa, sendo também um momento em que há intensificação do turismo. Durante esse período, os carnavais que mais ouvimos falar são os de São Paulo e Rio de Janeiro, com destaque aos seus desfiles de escolas de samba, e os de Salvador, Recife e Olinda, caracterizados, principalmente, por suas festas de rua. Cada um à sua maneira e com suas tradições atraem pessoas de diferentes partes do mundo.

Está bem, mas como será que o carnaval se relaciona com a ciência? É possível que essa festa seja capaz de divulgar a ciência para as pessoas? Como isso ocorre? Entenda um pouco sobre essa relação a seguir.

Marchinhas e sambas enredos

Casal se beijando
Muitas pessoas veem o carnaval como uma festa em que está tudo liberado. Cada pessoa pode ter o hábito de curtir a festa de uma forma diferente. Fonte: rawpixel. #ParaTodosVerem: casal ao centro dando um selinho e ao fundo é possível observar bandeiras LGBTQIA+ na mão das pessoas.

As marchinhas de carnaval têm como características uma letra simples, normalmente humorada e fácil de gravar. Apesar de não serem muito utilizadas nos dias atuais, ainda existem aquelas que são conhecidas e cantadas até hoje. Usando-se desse conhecimento, algumas paródias de marchinhas amplamente conhecidas foram criadas e têm como principal objetivo a divulgação da ciência.

Os sambas enredos são conhecidos por terem “substituído as marchinhas”. Eles são criados para o desfile das escolas de samba. Todo ano cada escola tem o seu samba enredo que guia o desfile durante todo o seu tempo na passarela do samba. Eles falam sobre o tema escolhido e abordado pela escola naquele desfile. Através desses sambas também é possível divulgar a ciência.

O interessante é que, em ambos os casos, a ciência pode ser divulgada e, consequentemente, aprendida sem que as pessoas percebam que estão aprendendo. Nem todo mundo possui acesso ao conhecimento científico, e nem sempre aqueles que possuem acesso à informação são capazes de compreender o que está sendo dito, dificultando a disseminação do conhecimento científico.

Formas alternativas para ensinar assuntos aos indivíduos são bem vistas porque, na maioria dos casos, ocorrem de forma divertida e marcante, facilitando a fixação do conhecimento. Algumas vezes o foco pode ser a ciência como um todo e outras um tópico específico. Apesar das ciências humanas serem tópicos mais comuns nos desfiles de escolas de samba, houve momentos em que outras ciências, como as biológicas, foram abordadas. Vamos conferir alguns deles.

Marchinhas de carnaval e o conhecimento científico

Apesar de já não serem mais tão populares quanto antigamente, as marchinhas ainda contribuem com a popularização da ciência. No último carnaval, em 2023, o bloco Discípulos de Oswaldo, do Rio de Janeiro, cantaram a marchinha “Xô Covid”. Enquanto, em 2021, a Secretaria de Saúde de São Vicente (SP) também divulgou uma marchinha para conscientização sobre o carnaval com o mesmo nome “Xô Covid”.

A ciência pode ser divulgada até mesmo em eventos competitivos, como o concurso de marchinhas que ocorreu em Juiz de Fora (MG) em 2016. O tema escolhido foi a Zika que deu nome à marchinha “Vou te passar Zika” e premiou o autor pela criação. Assim a ciência vem sendo divulgada a muitos e muitos anos. Como em 1904, que uma marchinha foi utilizada para informar a população sobre os problemas que os ratos podiam causar e para divulgar a campanha para eliminação desses animais. Essa marchinha tinha como título “Rato, rato” de Casemiro da Rocha e Claudino Costa e divertiu os foliões ao mesmo tempo em que informava.

Escolas de samba, sambas enredos e ciências biológicas

 Desfile de escola de samba
Os desfiles das escolas de samba atraem muitas pessoas aos sambódromos. Fonte: unsplash. #ParaTodosVerem: imagem das arquibancadas com muitas pessoas aguardando o desfile de uma escola de samba. Em primeiro plano, um homem de costas, de chapéu e usando uma camisa listrada (branco, vermelho e verde).

O desfile das escolas de samba iniciou-se no século passado e desde então vem animando foliões e encantando a avenida. Esses desfiles são conhecidos pela grandiosidade, exuberância e organização. As escolas de samba passam por um longo preparo que incluem definição do tema, divisão dos carros alegóricos, produção dos trajes a serem usados nos desfiles, criação do samba enredo, ensaios e muitas outras coisas. Não é um processo simples nem rápido.

Em 1947, a escola de samba Estação Primeira de Mangueira apresentou o samba enredo “Brasil, ciências e artes”, sendo o primeiro registro da abordagem da ciência em desfiles. Posteriormente, em 2004, a Unidos da Tijuca chamou a atenção ao representar o DNA em um de seus carros alegóricos quando escolheu como tema para o seu desfile “O sonho da criação e a criação do sonho: a arte da ciência no tempo do impossível”. Em 2006, foi a vez da Acadêmicos do Salgueiro trazer informações sobre o mundo microscópico ao som do enredo “Microcosmos: o que os olhos não vêem o coração não sente”. Além de temas sobre ciência, também já foram citados famosos cientistas, como Charles Darwin que é citado no samba enredo da União da Ilha do Governador intitulado por O mistério da vida”, em 2011.

Carro alegórico da Unidos da Tijuca que representou o DNA
O famoso carro alegórico da Unidos da Tijuca que representou o DNA. Fonte: fotografia de Widger Frota. #ParaTodosVerem: pessoas com corpos pintados em azul cintilante e conectadas pelos braços e com os corpos inclinados para o lado ao redor de uma forma cônica. Na base da forma há maior quantidade de pessoas e que vai reduzindo à medida que fica mais estreito. A cada nível os corpos estão inclinados para um lado, de forma que passa a sensação de movimento ao olhar a fotografia.

Em 2024, a escola Acadêmicos do Salgueiro tem seu enredo construído sobre os Yanomami, por isso, provavelmente terá uma abordagem sobre meio ambiente e biodiversidade. Mas não apenas as escolas de samba conseguem unir o carnaval e a ciência. Ao longo dos anos, diferentes marchinhas foram criadas e ajudaram a propagar informações relacionadas à ciência.

Também tem ciência nos blocos!

Muitas vezes nós não imaginamos que o carnaval também pode ser uma festa informativa. São tantas outras coisas divulgadas em relação a essa festa que muitas vezes não percebemos ou acabamos não sabendo sobre. Aqui neste texto citamos alguns exemplos de quando houve a união entre a ciência e o carnaval, mas esses não são únicos e vêm de diferentes formas. Às vezes sentimos que já conhecemos sobre um assunto, mas nunca ouvimos falar sobre ele especificamente. Esse tipo de conhecimento pode vir exatamente dessas situações em que estamos aprendendo e absorvendo o conteúdo, mas não percebemos.

Para você, que é um amante da ciência tanto quanto nós do Profissão Biotec, também informamos que há blocos de carnaval voltados para a ciência ou com nome ligado a ela. Nós temos como exemplos: o Bloco da Ciência do Butantan, em São Paulo,; o Bloco da Ciência de Pernambuco e o Inova que eu gosto, no Rio de Janeiro.

Eu não sei vocês, mas eu já estou vestida para a folia de 2024! Será que nesse ano aprenderemos um pouco mais sobre ciência no carnaval? Será que seremos capazes de observar os ensinamentos sutis? Nós apostamos que sim!

perfil de Natalia Lopes
Texto revisado por Bruna Lopes e Jennifer Medrades

Cite este artigo:
LOPES, N. R. No carnaval tem ciência também! Revista Blog do Profissão Biotec. V. 11, 2024. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/no-carnaval-tem-ciencia-tambem>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

SANTOS, T. Marchinhas e sambas-enredo: tem ciência no samba! Invivo museu da vida, 2023. Disponível em: <https://www.invivo.fiocruz.br/historia/marchinhas-ciencia-no-samba/>. Acesso em: janeiro de 2024.
GARROTI, C. P. O carnaval populariza a ciência? Revista do EDICC, 2014. Disponível em: <https://revistas.iel.unicamp.br/index.php/edicc/article/view/4079>. Acesso em: janeiro de 2024.
SOARES, A. C.; LOGUERCIO, R. Q.; FERREIRA, F. L. Da passarela do samba ao enredo: a visibilidade da ciência no desfile das escolas de samba. Revista Interface, 2016. Disponível em: <https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/interface/article/view/2214/9466>. Acesso em: janeiro de 2024.
WILLMERSDORF, P. Confete, vacina e serpentina: cinco vezes em que o Carnaval deu voz à ciência. O Globo, 2021. Desponível em: <https://blogs.oglobo.globo.com/repinique/post/confete-vacina-e-serpentina-cinco-vezes-em-que-o-carnaval-deu-voz-ciencia.html>. Acesso em: janeiro de 2024.
Fonte da imagem destacada: Pixabay.

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