O acúmulo de plástico no planeta vem aumentando e ainda não há uma solução definitiva para esse problema. Nos últimos anos, vem se discutindo bastante o uso mais sustentável de recursos não renováveis e poluentes, e formas para tentar reduzir ou reverter os impactos negativos que nós humanos causamos à natureza. Além da poluição do ar e sua contribuição para o aquecimento global, temos também a poluição dos solos e mares, essas causadas principalmente por resíduos inorgânicos.
Quando falamos em poluição dos plásticos, logo vem à mente imagens de plásticos boiando em água e em que isso resulta. Mas, pouco se discute sobre as consequências do acúmulo de plástico nos solos. Sabe-se que a forma como esse poluente vem se acumulando sem encontrar uma forma mais rápida de degradá-lo vem sendo um desafio. Isso porque os plásticos estão presentes no nosso dia a dia para quase tudo.
Pare um pouco e observe ao seu redor: quantos objetos você consegue identificar que possuem plástico na composição no ambiente em que você está no momento? Imagino que tenha observado uma boa quantidade ou ao menos um objeto. Agora imagine isso de forma global. Consegue mensurar o tamanho do problema?
O problema no uso de plásticos
Os plásticos são fundamentais para a produção de muitos equipamentos e embalagens. No entanto, esse material possui um grande tempo para sua decomposição e eliminação do ambiente, podendo passar de 400 anos. Esse longo período no ambiente é prejudicial, porque quando descartado o plástico está sendo acumulado no planeta. Apesar de ouvirmos falar bastante sobre a poluição dos mares e como esses itens descartados podem levar à morte de animais marinhos, pouco se fala sobre as consequências do acúmulo de plástico em ambientes terrestres.
Recentemente, a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) publicou um texto sobre a dominância da poluição de plásticos em solos produtivos. Dentre as causas disso está o descarte inadequado do plástico fazendo com que seja acumulado no meio ambiente. A presença de plástico nos solos, principalmente nos produtivos, coloca em risco a segurança alimentar. Esse plástico presente no solo provavelmente será consumido por seres humanos e animais.
Além disso, a agricultura é uma grande contribuinte para essa poluição. Estima-se que, anualmente, 12,5 milhões de toneladas de plástico são utilizados diretamente pela agricultura e 37,3 milhões de toneladas em embalagens de alimentos.
Outro problema causado pelo acúmulo de plásticos no solo é que os sedimentos terrestres são usados para determinar tempo de vida, há quanto tempo viveu aquele animal (ou homem) e traçar uma história a partir desses achados. Esse estudo, conhecido como estratigrafia, analisa as camadas de rochas da Terra através de marcadores estratigráficos. Atualmente, devido ao acúmulo de plásticos nos solos, esses já estão sendo utilizados como marcadores estratigráficos fornecendo informações sobre o que se depositou antes e depois da camada de plástico.
O que fazer para diminuir a contaminação ambiental por plásticos?
Uma das formas mais difundidas para redução da quantidade de plástico no meio ambiente é a reciclagem. Apesar de uma boa alternativa, essa não é uma solução definitiva. Isso porque a reciclagem estimula o reaproveitamento de plásticos, apenas adiando o momento em que ele será descartado. E existem plásticos de uso único que correspondem de 35 a 40% da produção, a exemplo de talheres, copos e pratos.
Estima-se que já foram produzidos mais de 8,9 bilhões de toneladas de plástico no mundo. No entanto, apenas 9% desses foram reciclados. No Brasil, a reciclagem do plástico é de apenas 2% do total consumido.
Nos dias atuais, há uma tentativa de conscientizar a população a diminuir o uso de plásticos, ou utilizá-los de forma consciente. A FAO, em seu último relatório, sugere como recomendações se basear no modelo 6R: rejeitar, redesenhar, reduzir, reutilizar, reciclar e recuperar.
Reduzir o uso ajuda, mas não soluciona o problema. Isso porque os plásticos que foram produzidos e descartados há anos ainda estarão no ambiente por mais algumas gerações e serão somados aos que vêm sendo produzidos. Você consegue mensurar o tamanho da bola de neve, ops, bola de plástico?
Uma outra alternativa para a redução do acúmulo de plástico no ambiente é o investimento em pesquisa e tecnologia. Dessa forma, podemos estudar como degradar esses materiais ou criar alternativas de qualidade similar, mas com tempo mais curto de degradação no meio ambiente.
Seria o bioplástico uma alternativa?
Bioplásticos são uma tipo de plástico produzidos a partir de fontes renováveis e/ou que podem ser degradados por compostagem, ou seja, são degradados mais rapidamente e em matéria orgânica. Os bioplásticos produzidos por fontes renováveis podem ter características idênticas aos normais, inclusive o tempo de degradação. O tipo de bioplástico que menos prejudica a natureza são aqueles biodegradáveis. Porém, muitos plásticos atuais comercializados como biodegradáveis só são degradados por compostagem industrial.
A compostagem é um processo de decomposição que gera matéria orgânica. Existem duas formas de compostagem: a natural e a industrial. A compostagem natural pode ser exemplificada pela decomposição de alimentos, folhas ou fezes, sem envolvimento do ser humano no processo. Na compostagem industrial ocorre um protocolo no qual o material será analisado e separado de acordo com sua composição. Ainda durante esse processo há controle acerca da quantidade de material a ser colocado, a disponibilização de ar e a temperatura do ambiente para que ocorra o processo. Ou seja, sua degradação só ocorre em condições específicas, o que nem sempre fica claro para os consumidores.
Hoje, sabemos que precisamos achar uma solução efetiva para o problema causado pelo acúmulo de plástico nos solos e nas águas. Toda forma de tentar reduzir o uso ou optar por soluções ecológicas ajuda nesse processo. Mas sempre devemos nos atentar a informações completas para sabermos como descartar corretamente cada material. Por isso, para entender melhor como nem todo bioplástico é biodegradável e para conhecer formas alternativas e biotecnológicas para solucionar o problema, fique ligado nos conteúdos do Profissão Biotec.
Cite este artigo:
LOPES, N. R. O problema do acúmulo de plástico: o que devemos saber?. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em:<https://profissaobiotec.com.br/o-problema-do-acumulo-de-plastico-o-que-devemos-saber/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. Plastics in agrifood systems: The good, the bad and the ugly. FAO (2021). Disponível em: <https://www.fao.org/newsroom/detail/plastics-in-agrifood-systems-the-good-the-bad-and-the-ugly/en> Acesso em dezembro de 2021.
KAMADA, A. et al. Controlled self-assembly of plant proteins into high-performance multifunctional nanostructured films. Nature Communications (2021). DOI: https://doi.org/10.1038/s41467-021-23813-6.
OAKES, K. O problema pouco conhecido do plástico biodegradável. BBC News Brasil (2020). Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-52926914> Acesso em outubro de 2021.
RECICLA SAMPA. Os caminhos do plástico. Recicla sampa (2019). Disponível em: <https://www.reciclasampa.com.br/artigo/os-caminhos-do-plastico> Acesso em dezembro 2021.
TERA. Compostagem Industrial: Entenda o processo que colabora para a economia circular. Tera ambiental (2019). Disponível em: <https://www.teraambiental.com.br/blog-da-tera-ambiental/compostagem-industrial-entenda-o-processo-que-colabora-para-a-economia-circular> Acesso em outubro de 2021.
UGREEN. Bioplástico é a solução para o problema do plástico? UGREEN (2020). Disponível em: <https://www.ugreen.com.br/bioplastico-e-a-solucao-para-o-problema-do-plastico/> Acesso em outubro de 2021.
ZALASIEWICZ, J. et al. The geological cycle of plastics and their use as a stratigraphic indicator of the Anthropocene. Anthropocene (2016). DOI: https://doi.org/10.1016/j.ancene.2016.01.002.
Fonte da imagem destacada: (ZALASIEWICZ et al., 2016) The geological cycle of plastics and their use as a stratigraphic indicator of the Anthropocene.