Os brasileiros, de um modo geral, confiam na ciência e nos cientistas, de acordo com pesquisas de 2015 e de 2019 sobre percepção da sociedade em relação à ciência. Mas são poucos os brasileiros que sabem dizer o nome de um cientista brasileiro e de um instituto de pesquisa tupiniquim. Pensando em ajudar a mudar essa situação, o Profissão Biotec criou o projeto “Perfil de Pesquisadores Brasileiros” para apresentar pesquisadores que fazem ciência de ponta (e em biotecnologia) em nosso país! Conheça no perfil de hoje o pesquisador Dra. Lygia da Veiga Pereira.
Dra. Lygia da Veiga Pereira – Pioneira em modelos de estudos de doença genéticas no Brasil
Dra. Lygia da Veiga Pereira se formou em física, mas sempre se interessou pela engenharia genética. Hoje, Lygia é pesquisadora, professora, chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE) e chefe do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo. É uma das mais renomadas geneticista do Brasil e do mundo, e uma das poucas cientistas brasileiras com reconhecimento nacional, recebendo os prêmios de 100 Brasileiros Mais Influentes pela Revista Isto É (2007, 2008), 100 Personalidades do Ano da Revista Época (2008), Cientista do Ano da Revista Info e Editora Abril (2009) e 100 Personalidades mais influentes no Brasil e no mundo da Revista Isto É (2010).
Lygia fez parte do grupo que criou o primeiro camundongo transgênico do país, produzindo modelos para o estudo de doenças genéticas, como a Síndrome de Marfan. Além disso, sua pesquisa com extração e multiplicação de células-tronco colocou o Brasil no radar internacional. Tem uma forte atuação em divulgação científica, pois é sempre convidada para entrevistas e debates sobre clonagem, engenharia genética e o uso de células-tronco. É autora de diversos livros, como “Sequenciaram o genoma humano, e agora?” e “Células-tronco, promessas e realidades”. Vamos conhecer um pouco mais do trabalho e da trajetória dessa pesquisadora brasileira?
Confira abaixo a entrevista completa com a Dra. Lygia para conhecer a trajetória de sucesso dessa pesquisadora brasileira!
PROFISSÃO BIOTEC: QUAL É A SUA FORMAÇÃO ACADÊMICA (GRADUAÇÃO, PÓS-GRADUAÇÃO E PÓS-DOC) E CARGO ATUAL?
Possuí Bacharelado em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1988), mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1990) e doutorado em Ciências Biomédicas pelo Mount Sinai Graduate School, City University of New York (1994). Atualmente é Professora Titular e Chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE), Chefe do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo, e integrante do CEPID-FAPESP Centro de Terapia Celular. Tem experiência na área de Genética, com ênfase em Genética Humana e Médica, atuando principalmente nos seguintes temas: síndrome de Marfan, modelos animais, células-tronco embrionárias, herança epigenética e inativação do cromossomo X. (Texto informado pela autora no currículo lattes)
PB: EM QUE PROFISSIONAL SE INSPIROU PARA SEGUIR ESSA CARREIRA?
Lygia da Veiga Pereira: não sei… Fui inspirada por um professor de química do ensino médio que me chamou atenção para a engenharia genética, que estava começando naquela época. a partir daí, mesmo tendo feito vestibular para engenharia, fiquei querendo saber mais, e acabei mudando de área.
PB: QUAL É SEU LIVRO DE CABECEIRA OU SÉRIE FAVORITA?
LP: Tenho sempre um livro novo na cabeceira, não costumo repetir o livro. recentemente li o livro da Melinda Gates [O Momento de Voar: Como o Empoderamento Feminino Muda o Mundo] o trabalho dela na fundação gates é maravilhoso. Série: adorei Big Little Lies, House Of Cards (perdeu a graça depois que o Kevin Spacey saiu), mas em geral gosto daquelas que me ensinam algo sobre história. Chernobyl é fantástica.
PB: QUAIS EVENTOS ACONTECERAM NA SUA VIDA (MAS NÃO APARECEM NO LATTES) QUE TE LEVARAM AONDE ESTÁ AGORA?
LP: o primeiro foi o professor de química falar da engenharia genética. depois, já fazendo iniciação científica em lab de genética, fui assistir um seminário de um professor de NY [Nova Iorque] sobre terapia gênica, e minha orientadora me “forçou” a ir lá falar com ele sobre estágio. Acabei fazendo o doutorado inteiro com ele.
PB: QUAL É A SUA PRINCIPAL ÁREA DE PESQUISA ?
LP: Genética humana é a grande área. Nela tenho duas linhas principais: o estudo de uma doença genética chamada Síndrome de Marfan, onde fizemos um camundongo com a mesma doença para poder estudá-la com mais detalhes e testar novas terapias, que eventualmente se funcionarem no animal poderão ser testadas em pacientes.
Outra linha estuda o cromossomo X das mulheres. Apesar de termos dois cromossomos X, em cada célula de nosso corpo somente um funciona, o outro fica desligado [inativação do cromossomo X]. Quero entender como isso acontece (pesquisa bem básica). Para isso, uso células-tronco derivadas de embriões.
PB: POR QUE VOCÊ ESCOLHEU ESSE TEMA DE PESQUISA?
LP: a Síndrome de Marfan veio do meu doutorado. Quando entrei no lab nos EUA, eles tinham acabado de descobrir um pedacinho do gene que causa a doença. Meu projeto foi sequenciar o gene todo, e depois fazer um camundongo com a mesma mutação dos pacientes. Lembrem que isso foi antes do projeto genoma humano, então sequenciar um gene era uma coisa que valia um doutorado!
PB: Onde você vê sua pesquisa nos próximos 5 anos?
LP: Quero focar no estudo do genoma dos brasileiros, montando um grande banco de dados para que a comunidade científica possa estudar a genética da nossa população.
PB: COMO VOCÊ SE SENTE EM RELAÇÃO À CIÊNCIA BRASILEIRA?
LP: Frustrada pela falta de apoio consistente do governo, pela falta de visão que a ciência é fundamental para o desenvolvimento saudável de uma sociedade, para seu desenvolvimento econômico também. Mas sigo trabalhando para que isso um dia mude.
PB: QUAIS DICAS VOCÊ DARIA A BIOTECNOLOGISTAS AINDA NA GRADUAÇÃO?
LP: Assim que possível comecem a estagiar em algum lab para ver se gostam mesmo do trabalho de pesquisa. E tenham uma experiência fora, EUA ou Europa, para ver como ciência é valorizada e deve ser feita.
PB: QUAIS AS DIFICULDADES DE FAZER PESQUISA NO BRASIL?
LP: Falta de verba, de estrutura das universidades, demora na importação de reagentes.
PB: VOCÊ REALIZA ATIVIDADES DE EXTENSÃO OU DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA? QUAIS?
LP: Divulgação científica através de aulas, palestras, entrevistas e as vezes artigos em jornais e revistas.
A Dra. Lygia participou do programa Conversa com o Bial e explicou o que faz uma geneticista.
Para conhecer mais sobre a nossa ciência, continue acompanhando o quadro “Perfil de Pesquisadores Brasileiros” do Profissão Biotec! Confira também os infográficos desse quadro e mande para seus amigos! Ah, acompanhe nossas redes sociais para não perder nenhuma entrevista! Facebook / LinkedIn / Instagram.
Entrevista realizada por:
Projeto “Perfil de Pesquisadores Brasileiros” realizado por Bruna Lopes e Priscila Esteves de Faria e coordenado por Natália Bernardi Videira