Certamente você já teve vontade de fazer um exame para saber se estava com ou se já pegou a COVID-19. Mas você sabe qual a diferença entre os exames para diagnóstico da COVID-19? Sabe quando ou porque fazer um exame desse? O exame mais caro é sempre a melhor opção? Para responder essas e outras perguntas, o Profissão Biotec elaborou esse guia que esclarece as dúvidas mais comuns nesse momento de pandemia.
Existem 3 tipos de exames que detectam se você está ou se já teve a COVID-19. Vamos conhecer cada um deles a seguir.
1- RT-PCR
O RT-PCR (Reverse Transcription Polymerase Chain Reaction) é um teste molecular que detecta a presença do material genético do vírus (no caso da COVID-19, do coronavírus SARS-COV-2) na amostra (sangue ou secreção) do indivíduo. Ou seja, ele detecta se você está infectado e por isso pode ser feito a partir de 24 horas, após a contaminação, até o 10º dia de sintomas, período em que o vírus ainda está ativo no organismo. Após esse período, conforme a pessoa se recupera, existe a grande possibilidade do coronavírus ter sido eliminado do organismo e o RT-PCR não conseguir mais detectá-lo. O PB já explicou em outro texto como esse exame funciona.
Entenda: contaminação significa a entrada do vírus no organismo. Isso pode ocorrer após o contato próximo com uma pessoa com a COVID-19 (confirmada por exame ou assintomática), ou após o contato com superfícies e materiais contaminados.
Este exame é o teste mais preciso, porém é o que possui maior custo e requer mão de obra especializada para a sua realização. Além disso, necessita de cuidados específicos para o armazenamento da amostra e instalações laboratoriais com níveis restritos de biossegurança e técnica. Por esses motivos, o RT-PCR dificilmente é usado em larga escala, para análises populacionais, sendo mais utilizado para identificação da COVID-19 em pacientes internados/hospitalizados ou que apresentem sintomas.
Recentemente, foi desenvolvido o #PARECOVID um teste de diagnóstico molecular, baseado na técnica de RT-LAMP (mais simples do que o RT-PCR) que identifica a presença do vírus na saliva do indivíduo. Essa técnica poderia ser usada em larga escala, para diagnóstico preciso de até 110 mil indivíduos/dia, e custaria em média 95 reais por exame. Contudo, até o momento, somente a empresa de análises genômicas Mendelics realiza essa análise.
2-Testes sorológicos
Os testes sorológicos são aqueles que detectam a presença de anticorpos (IgM e IgG) para o novo coronavírus (Sars-CoV-2), ou seja, identificam se você já teve contato com o vírus. Esse tipo de teste deve ser feito a partir do 10° dia de sintomas ou de contato com um doente confirmado para COVID-19, quando o indivíduo produz anticorpos contra o vírus, principalmente das classes IgG e IgM. Dependendo do tipo de anticorpos detectado no exame (IgM ou IgG) é possível identificar se a doença ainda está em curso (presença de anticorpos IgM) ou se o contato com o vírus ocorreu há mais tempo (presença de anticorpos IgG), por exemplo.
A tabela abaixo resume o perfil de produção dos anticorpos IgM e IgG em cada caso:
Existem dois tipos de testes sorológicos: o teste rápido (realizado com uma gota de sangue do indivíduo) e a sorologia tradicional (realizado em laboratório, em que é necessário uma amostra maior de sangue do indivíduo). Ambos consistem no mesmo método, mas com técnicas de leitura diferentes. Veja a seguir as principais diferenças entre eles:
2.1- Testes rápidos
Os testes rápidos são testes sorológicos que identificam a presença de anticorpos IgM e IgG em pequenas amostras de sangue coletadas por punção digital (gotinha de sangue a partir de um furo na ponta do dedo), identificando se o indivíduo já teve contato com o coronavírus anteriormente. Os resultados ficam prontos entre 15-30 minutos e são baseados na técnica de imunocromatografia, que é a mesma técnica usada em testes de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e de gravidez.
O resultado pode ser observado após o contato de sangue com o reagente, e como não há mensuração ou referência, podem ocorrer falsos-negativos. Especialistas destacam que a sensibilidade e especificidade dos testes rápidos variam entre os fabricantes dos kits, aumentando as chances de erro. Segundo o Ministério da Saúde, os testes rápidos apresentam taxa de erro de 75% para resultados negativos, o que pode gerar insegurança e incerteza na interpretação dos resultados, pois o paciente pode achar que não tem anticorpos para COVID-19, quando na verdade foi um erro de detecção do teste.
Entenda: O resultado falso-negativo ocorre quando o exame dá negativo, mesmo quando o indivíduo já teve a COVID-19. Fatores como baixa sensibilidade do exame, a resposta imunológica do indivíduo, o uso de medicamentos imunossupressores ou doenças imunossupressoras podem contribuir para a ocorrência de falso-negativos.
Contudo, os especialistas também ressaltam que os testes rápidos servem principalmente para fazer estudos epidemiológicos (com grande número de pessoas), rastreando na população quantas pessoas já desenvolveram anticorpos para o coronavírus. Ao fazermos uma análise estatística (com um grande número de pessoas) é possível corrigir o erro de sensibilidade/especificidade desse tipo de teste, gerando assim um número mais confiável que represente o tamanho da população que já possui anticorpos para o coronavírus.
Os resultados dos estudos epidemiológicos auxiliam as autoridades a definir estratégias e medidas como o fechamento de comércio e serviços, identificação dos grupos de risco, isolamento da população e manutenção da quarentena. Conheça o estudo epidemiológico da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) sobre a COVID-19 na população brasileira clicando aqui.
2.2 Sorologia convencional
A sorologia convencional também identifica a presença de anticorpos IgM e IgG em amostras de sangue dos pacientes. Contudo essas amostras são coletadas por punção venosa (coleta de sangue pela veia) e avaliadas, em laboratório, pela técnica de imunoensaio enzimático (ELISA) e quimioluminescência.
O resultado da sorologia convencional demora em média 48h e apresenta dados com referências laboratoriais para o número de anticorpos encontrados no indivíduo, o que garante resultados mais confiáveis do que os testes rápidos.
Assim como os testes rápidos, a sorologia convencional também deve ser realizada a partir do 10° dia de sintomas, pois antes disso o indivíduo ainda não produziu os anticorpos para coronavírus.
Possíveis interepretações dos resultados dos exames
A seguir apresentamos uma tabela que resume os possíveis resultados dos exames moleculares e sorológicos e suas respectivas interpretações. Não se esqueça de que essa tabela não exclui a necessidade de que seus exames sejam interpretados por um profissional de saúde!
Interpretação dos resultados dos exames moleculares e sorológicos. Essa tabela é apenas informativa e não substitui a avaliação do profissional de saúde. Adaptado do site Dasa.
Sobre os assintomáticos ou com sintomas leves é importante saber que:
De uma forma geral, os anticorpos IgM são mais precoces e podem ser detectados a partir da 2ª semana de infecção. Os anticorpos IgG aparecem mais tarde, após a 2ª semana de infecção, persistindo por mais tempo no organismo. Contudo, é importante ressaltar que:
(1) Alguns indivíduos assintomáticos (que não apresentaram sintomas) ou com sintomas leves podem não apresentar anticorpos detectáveis para COVID-19 gerando um resultado negativo nos testes sorológicos. Isso provavelmente ocorre porque o sistema imunológico desses indivíduos foi capaz de eliminar o coronavírus sem a necessidade de produzir anticorpos, utilizando somente a sua imunidade inata (leia mais sobre isso aqui).
(2) Os estudos sobre a produção de anticorpos após a infecção pelo coronavírus ainda são iniciais, e os cientistas ainda não podem afirmar se uma pessoa assintomática produz anticorpos ou se a imunidade adquirida após a infecção é duradoura ou não.
(3) Como o resultado do exame em uma pessoa assintomática pode ser incerto, os especialistas recomendam que, após o contato com um doente de COVID-19, o isolamento social (por 14 dias) é a melhor estratégia. E em caso de surgimento de sintomas, deve-se procurar assistência médica para confirmação do quadro.
Todas as informações desse texto tem o objetivo de esclarecer as principais dúvidas da população sobre os exames para diagnóstico da COVID-19. Por isso, caso apresente sintomas da COVID-19 procure assistência médica! O médico irá prescrever o melhor exame para o seu caso, interpretar os resultados e definir seu diagnóstico. E você, que acabou de ler o texto do PB, vai entender tudo direitinho!
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