O potencial curativo das plantas é bem conhecido desde os primórdios da humanidade. As folhas, raízes e flores são parte do conhecimento popular, e não é incomum nós nos voltarmos a elas como tratamento. Seja um chá de erva-cidreira para dormir melhor ou mesmo um medicamento de extrato de Passiflora incarnata, as plantas fazem parte da nossa rotina terapêutica há tanto tempo, que representam um conhecimento inato da sociedade.
Os óleos essenciais na história
A aromaterapia e o uso de óleos essenciais são uma das formas mais antigas de uso de plantas com fim terapêutico. No Ocidente, registros da aplicação de óleos essenciais para fins terapêuticos datam de milênios atrás. Os egípcios usavam um método de infusão para extrair os óleos de plantas aromáticas e utilizá-los desde embalsamento à produção de perfumes, medicamentos e óleos em massoterapia, sobretudo a mirra Commiphora myrrha, conhecida por suas propriedades antissépticas naturais.
Atualmente, estudos científicos corroboram o conhecimento popular e apontam potenciais anestésico e antitumorais significativos dos óleos essenciais. Na Grécia Antiga, o uso de óleos aromáticos terapêuticos era comum em casas de banho, além de também se beneficiarem de unguentos de Mirra para tratar ferimentos de batalha. Segundo Hipócrates (médico grego do século VI A.C., considerado pai da medicina): “O caminho para a saúde é tomar banho aromático e receber massagem aromática todos os dias”. Estes fundamentos são utilizados em práticas de aromaterapia até os dias de hoje.
A química dos óleos essenciais
A prática tradicional, o conhecimento popular e a pesquisa científica amparada em evidências sustentam que essas propriedades são diretamente atribuíveis aos terpenos presentes nos óleos essenciais. Os terpenos são um grupo de moléculas orgânicas que fazem parte do metabolismo secundário de plantas, Nestas, desempenham função protetora contra agentes externos, predadores ou até injúrias mecânicas. Os terpenos também podem ser sintetizados por outros organismos, porém para uso terapêutico são selecionados os de origem vegetal.
A estrutura química dos terpenos é composta por blocos de cinco carbonos ligados por uma dupla ligação carbono-carbono. Em casos que haja ligação com oxigênio, o mesmo é denominado de terpenoide. Estes compostos podem apresentar diversas funções químicas como: ácidos, álcoois, aldeídos, cetonas, éteres e fenóis de acordo com sua estrutura química. Esta estrutura está diretamente relacionada à qualidade do óleo essencial produzido. Óleos essenciais de frutas cítricas apresentam maior volatilidade, por serem compostos por monoterpenos e sesquiterpenos, que possuem menor massa molecular.
Desta forma, os processos de extração, manipulação, envase e conservação dos óleos essenciais deve ser feita de forma adequada. São necessárias embalagens de vidro, preferencialmente âmbar, e baixa variação de temperatura de forma a não comprometer a qualidade do produto final devido a degradação dos terpenos. Além disso, estes óleos possuem grande aplicação em diversos setores industriais como alimentos, cosméticos, perfumes e até em medicamentos. Alguns são amplamente conhecidos e utilizados no dia a dia como o limoneno, citral, citronelal, eugenol, mentol e safrol.
Potencial antiviral dos óleos essenciais
Cientificamente, os óleos essenciais já foram descritos por seu potencial anti-inflamatório, imunomodulador, broncodilatadoras e antiviral. Esta última propriedade tem gerado um grande interesse na comunidade científica. O uso de óleo essencial para tratamento de Herpesvírus, Influenza e Febre amarela, se mostrou promissor. No caso de infecções pelo herpesvírus, o tratamento utilizando óleo essencial se mostrou bastante eficaz. Por ser uma infecção tópica o uso direto do óleo essencial pode auxiliar no controle da infecção. Um estudo in vitro conduzido por Schnitzler e colaboradores demonstrou que o uso de óleo essencial de limão inibiu a formação de placas, o estudo observou que em maiores concentrações houve completa inibição da infecção.
Esta propriedade se tornou interessante nos últimos anos com o surgimento do Coronavírus, alguns autores têm proposto que alguns óleos essenciais podem atuar no combate à infecção do vírus SARC-CoV-2. Devido à sua natureza lipofílica, os óleos essenciais tendem a penetrar facilmente nas membranas virais, levando à ruptura da membrana. Uma vez que isto ocorra os óleos essenciais são compostos de vários fitoquímicos ativos que podem atuar sinergicamente na replicação viral. Pode também proporcionar lise das placas de muco além de efeito broncodilatador. Vale destacar que estes estudos, ainda estão em estágios iniciais, e sugerem um potencial efeito aditivo no tratamento do coronavírus, e não evitam a transmissão do vírus. Os estudos indicam que estas moléculas podem auxiliar os antivirais, porém mais estudos são necessários.
O uso de óleos essenciais na aromaterapia
Atualmente a aromaterapia é reconhecida como terapia alternativa e comprovada cientificamente por diversos autores, e a sua aplicação na medicina moderna já faz parte da realidade em alguns países, como na Inglaterra e na França. Cabe mencionar que a Inglaterra possui um Conselho de Aromaterapia, o Aromatherepy Registration Council e na França existem faculdades que possuem a disciplina “Aromaterapia” nos seus cursos de medicina. No hospital Européen Georges-Pompidou, na França, o aromaterapeuta Andrea Darco utiliza óleos essenciais em pacientes de cirurgias torácicas no pré e pós operatório de forma a diminuir a ansiedade, estresse e dores dos pacientes.
No Brasil, os óleos essenciais são considerados parte da política nacional de práticas integrativas e complementares em medicina e são oferecidos através do Sistema Único de Saúde (SUS), podendo ser encontrados nas unidades básicas de atendimento. É importante ressaltar que é uma estratégia terapêutica complementar que deve servir como apoio à medicina tradicional. Em casos de patologias clínicas é imperativo que o médico seja consultado.
É de conhecimento popular o uso de algumas ervas para o alívio do estresse e da ansiedade. Afinal, quem nunca ouviu falar do uso de lavanda para estresse? Ao menos, em algum momento, já nos deparamos com algum produto com aroma de lavanda para dormir melhor, acalmar ou mesmo que seja para uma maior sensação de paz. O óleo essencial de lavanda é o mais consumido e tradicional no mundo, no entanto alguns outros óleos apresentam aplicação terapêutica no tratamento complementar de ansiedade. Segundo a Forbes, os óleos Vertiver, Bergamota, Ylang Ylang, Camomila, Olíbano e Rosa também apresentam esse potencial terapêutico. A tabela abaixo apresenta os principais óleos essenciais e suas aplicações.
Tabela: Principais óleos essenciais e suas aplicações. Fonte: Tua saúde
O uso dos óleos essenciais com finalidade terapêutica já é conhecido há milhares de anos. Diversos estudos já demonstraram o potencial calmante, cicatrizante, antimicrobiano, dentre outros. Desde o início da Pandemia em 2020, percebe-se uma crescente na demanda de terapias alternativas e naturais, sobretudo no referente ao uso terapêutico para questões de saúde mental. Segundo a Euromonitor a projeção é de que até 2023 o crescimento global do mercado de óleos essenciais cresça em 12%, sendo o Brasil o quarto maior produtor, o que só demonstra que tanto em níveis nacionais quanto globais os olhos do mundo estão voltados para os óleos essenciais.
Cite este artigo:
LEAL, G. C. A Química dos óleos essenciais e seus poderes terapêuticos. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/quimica-dos-oleos-essenciais-seus-poderes-terapeuticos/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
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