Entenda como fungos são parte fundamental do desenvolvimento de várias plantas - e como o biotecnologia traz isso como inovação para agricultura.

Hoje, temos na palma da mão em nossos smartphones uma rede de comunicação eficiente por meio das redes sociais e da internet. Somos capazes de saber o que está acontecendo em praticamente todo o globo no momento que quisermos, nos comunicando com pessoas de todas as nações quase que instantaneamente e, caso necessário, podemos também nos preparar contra possíveis ameaças externas aprendendo com o que outras regiões vivenciaram. Mas, esse tipo de rede de comunicação tecnológica tão efetiva que temos sempre existiu de forma muito similar na natureza: a micorriza.

Ao observar a calmaria de uma floresta, por exemplo, temos a impressão que cada árvore e cada planta cresce e se desenvolve individualmente. Mal dá pra imaginar que por baixo da terra percorre uma rede por toda a extensão das raízes desses seres vivos, composta por longos micélios de fungos. Os micélios são partes da estrutura de alguns tipos de fungos filamentosos (fungos como os cogumelos que, como o nome diz, se desenvolvem em vários filamentos ao longo de superfícies sólidas), que funcionam como “braços” para os fungos, aumentando o alcance que esses organismos têm no ambiente – principalmente na procura de fontes de energia, mas que crescem em simbiose com as raízes das árvores. 

Essa simbiose, ou seja, esse relacionamento benéfico para ambos seres é chamado de micorriza (que se origina do latim pela forma que é feito esse mutualismo: são os fungos, myco, interagindo com as raízes, (riza), e faz com que o alcance dos fungos e seu crescimento ao longo da terra aumente, já que usam as raízes como um suporte para seus micélios. As plantas, por sua vez são beneficiadas pela ampliação na capacidade de absorção de nutrientes proporcionada pelos fungos, e aproveitam parte dos açúcares e do nitrogênio proveniente do solo em áreas que somente suas raízes não seriam capazes de alcançar. 

O que se descobriu nos últimos anos é que os benefícios que essa rede de micélios traz para as plantas é ainda maior do que se imaginava. Em um TED Talk, a pesquisadora Suzanne Simard descreve que os micélios funcionam como uma rede de comunicação entre as plantas, até mesmo aquelas que estão distantes umas da outras por quilômetros, unidas somente pela micorriza presente embaixo da terra.

A pesquisadora e sua equipe identificaram que árvores “mães”, de onde outras mudas se originaram, são capazes de enviar nutrientes, como carbono e nitrogênio, por intermédio dos micélios para favorecer o desenvolvimento das próximas gerações. E se alguma das árvores dessa mesma “família” sofre algum tipo de ameaça (por pragas, contato com alguma toxina, ou mudança climática extrema), são enviados sinais bioquímicos que funcionam como informações para as outras plantas de como se defender contra essa ameaça externa específica. 

Os cogumelos que vemos em florestas são a parte externa de uma grande rede de micélios que percorre as raízes (micorriza) (Fonte da imagem: https://unsplash.com/photos/fdeVkxtyymk)

Mas, da mesma forma que as plantas utilizam dessa rede como um meio de comunicação benéfico, pesquisadores constataram que o contrário também ocorre. Algumas espécies usam dos micélios como uma forma de “roubar” nutrientes de outras plantas, e são capazes de sintetizar substâncias que impedem o desenvolvimento da rede de fungos para outras raízes de plantas concorrentes daqueles mesmo meio, ou toxinas que prejudicam o desenvolvimento dessas outras espécies, podendo até mesmo matá-las .  

Mas como essa informação da interação entre fungos e plantas pode ser utilizada em um produto biotecnológico? 

Com a biotecnologia, é possível desenvolver produtos agrícolas que contenham espécies desses fungos capazes de desenvolver a micorriza junto com o desenvolvimento da plantação, com os chamados inoculantes (ou bioinoculantes, pela presença de um fator biológico). Esses produtos são utilizados ainda nas sementes das plantas, atuando como um revestimento protetor que possui esporos dos fungos desejados, que, ao entrar em contato com o solo e se desenvolver na raiz da planta durante seu crescimento, é capaz de desenvolver seu micélio.

Com sua aplicação, a rede de micélios irá aumentar o rendimento adquirido na agricultura ao auxiliar numa maior absorção de nutrientes, contribuindo grandemente com a sustentabilidade do processo ao diminuir a necessidade de serem adicionados ao solo fertilizantes, que nem sempre possuem origem biológica. 

A rede de comunicação biológica de fungos e plantas possui várias similaridades com a nossa rede tecnológica, assim como nos ensina que nenhum organismo se desenvolve, de fato, sozinho. E, ao fazer uso dessa ferramenta como um fator que agrega sustentabilidade ao processo agrícola, mostramos o potencial da biotecnologia como ciência para alcançar o desenvolvimento sustentável!

E você, sabia desse importante papel dos fungos no equilíbrio da natureza? Conta pra gente nos comentários! E compartilhe em suas redes esse novo conhecimento!

Texto revisado por Letícia Cruz e Luana Lobo

Referências:
BBC EARTH, Plants talk to each other using an internet of fungus. Disponível em (em inglês): <http://www.bbc.com/earth/story/20141111-plants-have-a-hidden-internet>. Acesso em 20/11/2019;

EMPRAPA, Soluções tecnológicas – Inoculantes fúngicos. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/3727/inoculantes-fungicos>. Acesso em 20/11/2019;

NOVOZYMES, Bioblog. A comunicação das plantas: uma internet em baixo da terra!. Disponível em: <http://www.bioblog.com.br/a-comunicacao-das-plantas-uma-internet-em-baixo-da-terra/>. Acesso em 20/11/2019;

YER, Yale Environment Review.  Fungi can improve agricultural efficiency and sustainability. Disponível em (em inglês): <https://environment-review.yale.edu/fungi-can-improve-agricultural-efficiency-and-sustainability-0>. Acesso em 20/11/2019;

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