Você já deve ter percebido que o SUS (Sistema Único de Saúde) está sendo muito comentado atualmente. A existência dele é de grande orgulho para nós brasileiros. Entre 1980 e 2013 a ONU registrou aumento de 17,3% na expectativa de vida do brasileiro, aumento esse que foi possível graças a muitas ações do SUS.
Algumas dessas ações são o combate à desnutrição, redução da mortalidade materna e infantil, ampliação do acesso a vacinas e medicamentos gratuitos, enfrentamento das doenças crônico-degenerativas e de mortes violentas, entre outras, nas áreas de atenção básica, urgência e emergência, e a Biotecnologia está intimamente ligada a esses ótimos resultados. Antes de falarmos sobre isso, vamos primeiro entender um pouco mais sobre o SUS.
O Sistema Único de Saúde (SUS)
O SUS foi criado em 1988 juntamente com a formulação da Constituição Federal que está em vigor até hoje. Ela determina que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (Constituição Federal, art. 196).
Dessa maneira, é dever do Estado garantir que a população tenha acesso aos serviços de saúde. Mas você se engana se pensa que isso se resume apenas às consultas gratuitas no posto de saúde. O SUS é referência mundial por ser o único sistema de saúde pública no mundo que atende mais de 190 milhões de pessoas. Ele oferece serviços dos mais diversos como:
- Normatização, controle e fiscalização de produtos e serviços pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA);
- Doação de sangue e de leite materno;
- Quimioterapia;
- Profilaxia pré e pós exposição contra AIDS/HIV;
- Transplante de órgãos;
- Serviços de urgência e emergência;
- Atenção hospitalar;
- Ações e serviços das vigilâncias epidemiológica e ambiental;
- Assistência farmacêutica, odontológica, nutricional, etc.
Além disso, o SUS também possui o maior programa de imunização pública do mundo – o Programa Nacional de Imunização (PNI). Mas você sabe identificar quais desses serviços são fruto da biotecnologia?
A biotecnologia dentro do SUS
Talvez o exemplo que venha à sua cabeça quando falamos da contribuição da biotecnologia para o SUS sejam as vacinas, que sem dúvida são muito importantes. O principal instituto responsável por elas é o Instituto Butantan.
Ele é o maior produtor de imunobiológicos do Brasil, fornecendo ao SUS 8 tipos de vacinas que compõe o calendário do PNI, sendo que estão em desenvolvimento outras 5 vacinas, incluindo a vacina da dengue, além da parceria para desenvolver a vacina contra o coronavírus com o laboratório chinês Sinovac. O Butantan também produz soros e biofármacos que são distribuídos de maneira gratuita pelo SUS.
Outro instituto muito importante para o SUS é o Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que presta serviço na vigilância epidemiológica, controle e prevenção de doenças como a malária, febre amarela, hanseníase, hepatites virais, malformações congênitas, leishmaniose, enteroinfecções, entre muitas outras.
O IOC também se destaca no desenvolvimento e aplicação de métodos para diagnóstico de diversas doenças e possui a mais completa coleção entomológica da América Latina, coleções microbiológicas (de fungos, bactérias e protozoários), zoológicas (de helmintos e moluscos, entre outros), além de um acervo na área de patologia.
Além disso, a Fiocruz conta ainda com o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), um dos maiores produtores de medicamentos do SUS, e o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) produtor de imunobiológicos como vacinas e biofármacos. A Fiocruz tem uma parceria de transferência tecnológica para a produção da vacina contra COVID-19 da parceria Oxford/Astrazenca.
Ademais, desde outubro de 2019 o SUS passou a disponibilizar um tratamento bastante específico, para crianças diagnosticadas com atrofia muscular espinhal (AME), doença que leva a perda progressiva da força muscular e, em casos graves, à morte. O medicamento o Zolgensma, comercializado pelo laboratório norte-americano Biogen, modifica o funcionamento de um gene e aumenta a produção da proteína SMN, que garante a sobrevivência das células da medula espinhal e assim consegue melhorar a habilidade motora de 40% das crianças tratadas.
Também em 2019 foi incorporado ao SUS um novo método para diagnóstico de deficiência intelectual, que é considerada uma doença rara e de difícil diagnóstico por ter diversas manifestações diferentes. Ela atinge cerca de 2% da população e prejudica o aprendizado, a socialização e a capacidade de autocuidado. O novo diagnóstico é através do sequenciamento do exoma. Esse diagnóstico é cerca de 2 vezes mais preciso que o método utilizado anteriormente e por isso pode melhorar o prognóstico dos pacientes.
O SUS também é responsável pela compra e distribuição de medicamentos biológicos, a maioria para doenças de grande impacto social, com grande risco de morte. Alguns deles são:
- imiglucerase, para o tratamento da doença de Gaucher;
- imunoglobulina, usada no tratamento de pessoas com imunodeficiência;
- eritropoetina, usada para tratar pessoas que estão recebendo hemodiálise, quimioterapia, ou possuem anemia moderada;
- interferon alfa, medicamento utilizado no tratamento de pessoas com leucemia, hepatite B e C, entre outras doenças.
É importante citar, que estes são medicamentos de alto custo, que representam apenas 2% do volume total de compras pelo Ministério da Saúde, mas 42% do valor total gasto.
O que ainda está por vir
Além dos serviços já oferecidos, o SUS ainda estuda a incorporação de outros tratamentos. Um deles é a utilização de pele de tilápia no tratamento de pessoas com queimaduras graves. Os pacientes que já receberam o curativo biológico relataram diminuição no tempo de cicatrização e da dor. O procedimento também é mais barato do que o tratamento convencional.
Talvez o empreendimento mais promissor seja o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde que está sendo construído na cidade do Rio de Janeiro, pelo Ministério da Saúde. Ele será o maior centro de produtos biotecnológicos da América Latina, e possibilitará quadruplicar a capacidade de processamento de vacinas e biofármacos do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), atendendo as necessidades internas do país e também da Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e Unicef. O custo total do empreendimento está estimado em 3,4 bilhões de reais e tem previsão para ficar pronto em 2023.
O Complexo não vai apenas nos tornar mais autossuficientes na produção de vacinas, garantindo a ampliação do fornecimento de produtos vitais e de alta qualidade ao SUS, mas também aumentará o poder competitivo do setor biotecnológico brasileiro, possibilitando parcerias internacionais e a absorção de novas tecnologias, devido à infra-estrutura de ponta que será implementada.
Você tinha noção do quanto a biotecnologia está inserida no SUS e de como nos beneficiamos de todos esses produtos e serviços no nosso dia-a-dia? Ainda existem muitos outros institutos e serviços biotecnológicos que não foram citados aqui, se quiser saber mais baixe nosso ebook: Institutos de pesquisa brasileiros.