O que vem à sua mente quando você pensa em como será a vida daqui a 100 ou 10.000 anos? Talvez apareçam imagens de carros voadores, cidades inteligentes, robôs e até mesmo super-humanos. Mas a realidade é que, com todos os avanços diários que a ciência nos proporciona, já não precisaremos esperar tanto tempo para ver tais façanhas.
Bom, mas agora você deve estar pensando: “Ok… carros voadores, cidades inteligentes e robôs até dá para imaginar, mas super-humanos? Isso acho difícil”. E se eu te contar que não é?! Sim, nós já estamos desenvolvendo tecnologias para isso e é nesta hora que entra uma das áreas da ciência que mais se desenvolveu nos últimos anos, a Biotecnologia. É por avanços nesse campo que, possivelmente, se seus ancestrais pudessem ver nossa população hoje, não nos identificariam como totalmente humanos. Ficou curioso ou ainda não acredita em mim? Continue lendo!
“Aperfeiçoamento Humano”: um conceito controverso, mas fundamental.
Primeiramente, antes de partirmos para a parte mais interessante, é necessário que voltemos um pouco atrás para entender o conceito de “Aperfeiçoamento Humano”.
Sabe-se que desde a Antiguidade, as pessoas almejam melhorar suas capacidades físicas e mentais, às vezes com sucesso – e às vezes com resultados inconclusivos, cômicos e até trágicos. Na mitologia grega, Dédalo, um arquiteto que acreditava ser o melhor da Grécia, construiu asas feitas de cera de abelha e penas de gaivota para que conseguisse voar para longe da ilha de Creta, onde estava preso com seu filho. Obviamente, o plano falhou e os dois morreram sobre o Mar Egeu. Porém, apesar de ser uma alegoria, esta é uma evidente prova de que a humanidade sempre esteve em busca de desenvolver características não naturais.
Atualmente, o conceito de Aperfeiçoamento Humano é definido como qualquer tentativa de se alterar natural, artificial ou tecnologicamente o corpo humano, a fim de elevar suas capacidades físicas ou mentais. Dessa forma, tecnologias que vão desde a produção de um cosmético para a pele, até engenharia genética se enquadram neste conceito. Porém, sua definição não é tão simples quanto parece, já que, nesta última década, estamos passando por uma revolução jamais vista anteriormente.
Devido aos grandes avanços nas áreas da biotecnologia, nanotecnologia e computação, este termo passou a ser tema de grandes debates entre os cientistas, a sociedade civil e os governantes. De um lado se encontram aqueles que são a favor da utilização de técnicas para aprimorar a humanidade, podendo gerar indivíduos muito mais inteligentes, fortes e saudáveis. Do outro se encontram aqueles que são contrários a esse tipo de desenvolvimento, afirmando que avanços dramáticos na engenharia genética e na tecnologia das máquinas podem, em última instância, permitir que as pessoas se tornem máquinas conscientes.
Edição e Engenharia Genética: as ferramentas por trás do avanço.
Em 1953, com a descoberta da estrutura tridimensional da molécula de DNA por Francis Crick, James Watson e Maurice Wilkins, uma revolução foi instaurada no campo da ciência e o conceito de genoma foi finalmente consolidado. Pouco tempo depois, em 1970, o termo “engenharia genética” foi pela primeira vez utilizado para descrever o campo emergente da tecnologia de DNA recombinante e algumas das coisas que estavam acontecendo.
Daí em diante, o campo da Biotecnologia não parou de se desenvolver. Partimos de uma simples técnica de clonar pedaços muito pequenos de DNA e cultivá-los em bactérias, para, sem dúvida, a tecnologia mais potente de edição genética existente, o CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats). Esta ferramenta é muito mais eficiente e precisa do que qualquer outra tecnologia de edição de genes mais antiga, como a utilização de enzimas de restrição e nucleases de dedo de zinco, porque usa o mecanismo de defesa específico das células bacterianas para direcionar e separar partes de seu DNA e substituí-las por um novo código genético.
Basicamente, o CRISPR/Cas9 em sua forma original é um dispositivo de localização (a parte CRISPR) que orienta a tesoura molecular (a enzima Cas9) para uma seção alvo do DNA. Juntos, eles funcionam como um GPS de engenharia genética que desativa ou repara um gene, ou insere algo novo onde a tesoura Cas9 fez alguns cortes.
Esta tecnologia está revolucionando nossa forma de tratar doenças que antes eram tidas como incuráveis. Em 21 de junho de 2016, o governo dos EUA anunciou que havia aprovado os primeiros ensaios em humanos usando CRISPR. Estes ensaios tinham por objetivo fortalecer as propriedades de combate ao câncer do sistema imunológico de pacientes que sofrem de melanoma e outros cânceres mortais.
Além disso, em abril de 2016, cientistas do Battelle Memorial Institute em Columbus, Ohio, revelaram que haviam implantado um chip no cérebro de um homem tetraplégico. Este chip poderia enviar sinais para uma manga em torno do braço do homem, permitindo que ele pegue um copo d’água, passe um cartão de crédito e até mesmo se alimente sozinho.
Parece que a cada semana as manchetes anunciam um novo avanço médico ou científico. Se todo esse progresso continuar a ser feito, possivelmente, nas próximas décadas, as pessoas poderão ter a opção de mudar a si mesmas e a seus filhos de maneiras que, até agora, só existiam amplamente nas mentes de escritores de ficção científica e criadores de super-heróis de quadrinhos.
Cite este artigo:
ENRICI, A. W. “Super-humanos”: Seria isso possível?. Revista Blog do Profissão Biotec, v. 8, 2021. Disponível em: < https://profissaobiotec.com.br/super-humanos-seria-possivel/(abrir em uma nova aba)>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Parabéns pelo texto! mto bom.
O transhumanismo vindo com tudo nesse século, por isso
é tão importante os debates em bioética.