Você provavelmente se atenta à data de validade de um alimento antes de consumi-lo, certo? Mas já se perguntou até que ponto é seguro para sua saúde ingeri-lo? Se é possível confiar na qualidade dele? Está se lembrando de histórias sobre água para “engordar” frango, papelão na carne, pelo de rato na massa de tomate, leite fraudado? Já pagou por um queijo de cabra e questionou se ele poderia ter sido misturado (ou até substituído) por leite de vaca? Quem controla tudo isso? E o que a Ciência tem a ver com esse assunto?

Pegue um quitute e venha saber um pouco mais sobre a segurança dos alimentos que consumimos.

O QUE É SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL?

Quando falamos sobre segurança alimentar e nutricional, devemos pensar em um conjunto de ações estratégicas que visam a garantir que a população tenha acesso a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, promovendo sua saúde e nutrição. Os diversos setores que participam dessa política devem, ainda, respeitar a diversidade cultural e atuar de forma sustentável, tanto ambiental quanto econômica e socialmente. Neste texto vamos focar na questão da qualidade dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.

QUEM CUIDA DA NOSSA SEGURANÇA ALIMENTAR?

Existe uma legislação no Brasil que regulamenta as práticas de segurança alimentar. Como exemplo, citamos um excerto do artigo 4º (inciso IV) da Lei Nº 11.346, de 15 de Setembro de 2006:

No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é o responsável pela fiscalização e controle de bebidas e produtos de origem animal e pela inspeção, classificação e segurança da produção dos gêneros agrícolas. Os produtos de origem animal, por exemplo, são fiscalizados por meio de Serviços de Inspeção Federal (SIF), sejam comestíveis ou não.

Modelo do selo de Serviços de Inspeção Federal, que é vinculado ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA. Já reparou nele em algum alimento de origem animal que você consome? Fonte: Sociedade Nacional de Agricultura.

Em relação aos órgãos públicos, citamos a Rede Lanagro – Laboratório Nacional Agropecuário. As seis unidades no país dão suporte à Secretaria de Defesa Agropecuária do MAPA. Eles monitoram, inspecionam e fiscalizam alimentos, bebidas e insumos agropecuários e pecuários produzidos e comercializados no país. Tanto para acompanhamento quanto em casos de produtos suspeitos, amostras são coletadas, encaminhadas aos laboratórios para avaliação e, conforme os resultados obtidos, são definidas quais medidas precisam ser tomadas.

Muitos dos produtos identificados com o selo SIF, por exemplo, passaram por análises realizadas pelas unidades do Lanagro, o que indica que atendem a requisitos de normas internacionais de segurança. Ou seja, há muita Ciência por trás de um carimbo.

Além dos órgãos e entidades públicas de segurança alimentar e nutricional (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), instituições privadas podem manifestar interesse em aderir ao Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN, desde que respeitem seus critérios, princípios e diretrizes.

ONDE ENTRA A CIÊNCIA?

Ao longo da cadeia produtiva de um alimento, seja ele de origem animal ou vegetal, podem ocorrer diversos tipos de contaminação, fraude ou exposição a substâncias tóxicas. Consumir alimentos de qualidade duvidosa ou prejudicial à saúde é uma dentre as diversas situações que podem gerar insegurança alimentar e nutricional.

A Ciência está fortemente presente na questão alimentar. Aqui no Profissão Biotec já publicamos textos sobre produtos biotecnológicos comestíveis, microbiota e saúde e biotecnologia nos alimentos cotidianos. Em relação à segurança alimentar, as decisões devem levar em conta o que há de mais eficiente na Ciência. Testes em amostras de alimentos, por exemplo, contribuem para detectar problemas e possíveis fraudes, mas é muito importante também prevenir qualquer tipo de problema.

A Biotecnologia de alimentos vai além do desenvolvimento de produtos e de organismos geneticamente modificados. Em relação à segurança alimentar, a Biotecnologia pode ajudar a fiscalizar resíduos de agrotóxicos e contaminantes químicos, físicos e biológicos, reduzir gordura em carnes ou acrescentar valores nutricionais a diversos produtos, além de inspecionar atividades de biossegurança.

A seguir estão alguns exemplos do envolvimento da Ciência na segurança alimentar e nutricional.

  • A tecnologia de código de barras de DNA pode ser utilizada para identificar as espécies de peixes que são comercializadas nas peixarias e supermercados. Essa é uma das técnicas praticadas pela unidade Lanagro de Goiás.
  • Desenvolvimento e controle de qualidade de vacinas, para prevenção de doenças, como a brucelose (ainda que o principal modo de transmissão não seja via alimentação, ela pode ocorrer) e a febre aftosa (não representa risco para os seres humanos, mas os bovinos são parte da cadeia produtiva alimentar).
  • Desenvolvimento e uso de ferramentas biológicas e químicas para controle de pragas, como as de citros (veja um texto que publicamos sobre controle biológico aqui).
  • Cruzamento de diferentes linhagens de um vegetal (milho, soja), para a obtenção de um híbrido com maior produtividade. Lembramos que segurança alimentar não se trata apenas de evitar doenças ou contaminações, mas sim de assegurar que a população tenha acesso à quantidade suficiente de alimentos. E nesse caso, a Biotecnologia também pode ajudar.

Para investigar se há resíduos de antibióticos no leite podem ser usados métodos diversos, como inibição microbiológica, métodos imunológicos e enzimáticos, técnicas de cromatografia, dentre outros.

Leites e produtos derivados são alimentos comumente alvo de fraudes e com grandes possibilidades de contaminações. Charge: Amarildo Lima.

  • Métodos baseados em Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) são usados em testes para identificação de espécies animais, especialmente em produtos lácteos e queijos; isso pode ser útil, por exemplo, para garantir que um queijo de leite de cabra é feito a partir de leite deste animal mesmo, e não de vaca ou os dois misturados. A empresa de alimentos BRF e a unidade Lanagro de Campinas/SP utilizam PCR também para identificar patógenos, como por exemplo cepas de Salmonella em aves vivas alojadas em granjas, como forma de monitorar doenças em programas de sanidade. A PCR também pode ser usada para identificar outras bactérias, como Mycoplasma e outras, além de alguns vírus importantes como o da gripe aviária.
  • Adulterações em queijo Minas Frescal podem ser detectadas por eletroforese em gel de poliacrilamida, permitindo identificar as proteínas da amostra. Neste caso, a proteína β-lactoglobulina, específica do soro de leite, é utilizada como marcador de adulteração. Esse tipo de queijo deve ser produzido a partir de leite pasteurizado e não do soro do leite. Essa é uma das técnicas praticadas pela unidade Lanagro do Rio Grande do Sul.
  • Técnicas microbiológicas podem ser utilizadas para detecção de patógenos, outra prática realizada pela BRF. Quando a Salmonella é detectada por meio de técnicas rápidas, como o VIDAS® ou o MDS, por exemplo, as amostras investigadas passam por metodologia convencional para confirmar a contaminação: caldo seletivo, incubação, emplacamento em meio de cultura sólido, crescimento da colônia, bioquímica e sorologia para tipificar a cepa.
  • Sequenciamento de marcadores de DNA podem ser utilizados para identificar matéria-prima (por exemplo, para verificar se uma carne é de bovino ou de cachorro) e analisar bactérias e fungos em alimentos. Esses métodos são praticados, por exemplo, pela empresa Neoprospecta.

Da próxima vez que for consumir um alimento, pare e reflita sobre quanta Ciência há por trás dele! Você conhece outras formas de envolvimento da Biotecnologia na segurança alimentar? Conte pra gente nos comentários!

 

Agradecimentos:

Milene Martini Berbel – Lanagro Campinas/SP

Gabriel Da Silva Lemes – BRF

Camylla Medeiros Barroso – BRF

Carolina Salvati – Profissão Biotec

Cassiana de Carli – Profissão Biotec

 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ABRANTES, Maria Rociene; CAMPÊLO, Carla da Silva; SILVA, Jean Berg Alves da. Fraude em leite: Métodos de detecção e implicações para o consumidor. Revista do Instituto Adolfo Lutz, p.244-251, 1941. Disponível em: . Acesso em: 09 fev. 2018.

BRASIL. RENATO LUIZ ABREU MACHADO. Conceitos: Segurança Alimentar e Nutricional e Soberania Alimentar. 2017. Disponível em: . Acesso em: 09 fev. 2018.

______. Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. 2017. Disponível em: <http://www4.planalto.gov.br/consea/acesso-a-informacao/institucional/conceitos/sistema-nacional-de-seguranca-alimentar-e-nutricional>. Acesso em: 09 fev. 2018.

CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL. Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Lei de Segurança Alimentar e Nutricional. Brasília, Disponível em: <http://www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/documentos/pagina/lei_11346-06.pdf>. Acesso em: 09 fev. 2018.

CRAWFORD, Lester M.; CLARKE, Denise L.. Biotechnology and Food Safety. Disponível em: . Acesso em: 09 fev. 2018.

Kelly Ventorim. Lanagro, garantia de segurança alimentar e sanidade animal e vegetal. Disponível em: . Acesso em: 09 fev. 2018.

REVISTA SAGRES. Brasília, DF: Secretaria de Defesa Agropecuária, Ano 1, n. 1, dez. 2016. Semestral. Disponível em: . Acesso em: 09 fev. 2018.

 

 

Revisado por Elaine Latocheski & Mariana Pereira

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