O estresse hídrico, quando a procura de água por habitante é maior do que a capacidade de oferta, afeta diversas partes do mundo. Segundo o World Resources Institute (WRI), quase um terço da população global – 2,6 bilhões de pessoas – vive em países em situação de estresse hídrico extremamente alto, sendo que 1,7 bilhão de pessoas vivem em 17 nações classificadas como “extremamente carentes de água”.
O que é o ODS 6?
A enorme importância da água e do saneamento básico levou esse tema ao sexto objetivo de desenvolvimento sustentável (ODS 6) da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele tem o propósito de assegurar que o acesso à água e saneamento seja garantido para todas e todos, independentemente de condição social, econômica e cultural.
De acordo com a ONU, no mundo, uma em cada três pessoas ainda não tem acesso a água potável e mais da metade da população não tem acesso ao saneamento. Assim, as Nações Unidas proclamaram uma década de ação pela água, chamada Década Internacional para a Ação: Água para o Desenvolvimento Sustentável (2018-2028). O objetivo é promover novas parcerias, melhorar a cooperação e fortalecer a capacidade de implementar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Quais as metas do ODS 6?
O ODS 6 traz uma série de metas a serem alcançadas até o ano de 2030. A seguir estão as que mais se relacionam com a biotecnologia e suas diversas aplicações :
- ODS 6.3 – Até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo à metade a proporção de águas residuais não tratadas e aumentando substancialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente;
- ODS 6.4 – Até 2030, aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os setores e assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez de água, e reduzir substancialmente o número de pessoas que sofrem com a escassez de água
- ODS 6.6 – Até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos;
- ODS 6.a – Até 2030, ampliar a cooperação internacional e o apoio à capacitação para os países em desenvolvimento em atividades e programas relacionados à água e saneamento, incluindo a coleta de água, a dessalinização, a eficiência no uso da água, o tratamento de efluentes, a reciclagem e as tecnologias de reuso;
A Importância da ODS 6
O estudo do WRI aponta ainda que a maior parte do Brasil não vive nessas mesmas circunstâncias, apresentando um baixo risco de estresse hídrico. Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), o Brasil possui cerca de 12% da disponibilidade de água doce do planeta, mas a distribuição natural desse recurso não é equilibrada.
Anualmente, estima-se que aproximadamente 829 mil pessoas morrem de diarréia como resultado de consumo de água, saneamento e higiene inadequada das mãos. Estas causas representam 60% de todas as mortes relacionadas à diarreia em todo o mundo. Tais más condições causam doenças diarreicas e enteropatias ambientais, que também inibem a absorção de nutrientes pelo organismo, resultando em desnutrição.
Como a Biotecnologia pode contribuir?
Acesso à água potável
Iniciativas biotecnológicas podem contribuir tanto para purificação da água, quanto no tratamento de efluentes. A jovem Anna Luísa Beserra, biotecnologista brasileira ganhadora do prêmio da ONU voltado a jovens com propostas para o meio ambiente, criou um um purificador de água que usa os raios solares para matar bactérias e torná-la potável, o Aqualuz. A tecnologia de baixo custo já foi testada, está em fase de produção e atualmente cerca de 566 famílias já utilizam a solução inovadora.
Ampliação do saneamento
“Gerar energia do lixo” é também uma proposta biotecnológica desenvolvida em parceria pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Methanum Tecnologia Ambiental Ltda. e a Estação de Transbordo da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) no Rio de Janeiro, que busca transformar resíduos orgânicos em fonte de energia renovável, convertendo lixos urbanos e industriais em eletricidade.
A unidade é composta por módulos com o tamanho aproximado de um contêiner, que recebem o lixo e ficam lacrados. Durante um período de duas a três semanas, os resíduos recebem um banho de um líquido repleto de bactérias (processo de decomposição anaeróbica) que aceleram a decomposição da matéria orgânica e produzem um gás.
São dois produtos resultantes deste processo: (1) – um composto orgânico rico em carbono e nutrientes, pronto para ser usado como adubo fertilizante;. (2)- o gás metano (biogás), que pode ser utilizado como fonte de energia elétrica. O biogás também pode ser um substituto do diesel utilizado pelos caminhões de coleta de lixo urbano, barateando o custo do combustível e reduzindo as emissões de gases do efeito estufa.
A LiaMarinha é também uma startup de base tecnológica que trabalha com o desenvolvimento e aplicação de biotecnologias ecológicas e sustentáveis para melhorar a qualidade das águas. Prestando serviços como tratamentos de efluentes; recuperação de ambientes aquáticos; biorremediação; infraestrutura verde; programas de educação ambiental e manejo e reuso de água da chuva.
Uma de suas inovações é a Estação de Tratamento Natural (ETN), um sistema composto por Ilhas Flutuantes (Floating Islands) e Barreira Filtrantes, solução baseada na natureza (SbN) para melhorar a qualidade das águas. Ela reduz contaminantes orgânicos e inorgânicos das águas de rios, lagoas e reservatórios, e aumenta o desempenho de lagoas de estabilização em estações de tratamento de efluentes (ETE).
Investimentos necessários
Guy Hutton e Mili Varughese estimaram que alcançar o acesso universal à água potável, ao saneamento e à higiene em 140 países de renda baixa e média custaria aproximadamente US$ 1,7 trilhão entre 2016 e 2030, ou US$ 114 bilhões de dólares por ano. Por isso, assegurar o acesso universal à água potável e saneamento básico até 2030 requer investimento em infraestrutura adequada, reeducação e consciência.
Proteger e recuperar ecossistemas que vivem e dependem da água, como florestas, montanhas, pântanos e rios, é essencial se quisermos atenuar a escassez da água. Além disso, a ampliação da cooperação internacional e do fomento a pesquisas/desenvolvimento de novas biotecnologias para tratamento e reaproveitamento da água também podem nos auxiliar a alcançar os objetivos das ODS 6.
Cite este artigo:
MELLO, L. P. S. ODS 6 – Água Potável e Saneamento. Revista Blog do Profissão Biotec, v. 8, 2021. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/ods-6-agua-potavel-e-saneamento/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.