Desde a publicação do “Projeto Microbioma Humano”, o entendimento da relação entre as células do corpo humano e os microorganismos que nele habitam tornou-se cada vez mais profundo. Buscando sintonizar ainda mais essa ligação, o projeto “Biota Beats”, desenvolvido na competição iGEM de 2016, se propôs a produzir músicas a partir de microrganismos do corpo. Será que as nossas bactérias têm o mesmo gosto musical que nós?
O Projeto Microbioma Humano
Publicado em 2007 na Nature, o artigo “Projeto do Microbioma Humano” visa estabelecer uma “estratégia para entender os componentes microbianos da paisagem genética e metabólica humana e como eles contribuem para a fisiologia normal e a predisposição à doenças”. Ou seja, entender como os microorganismos que vivem no nosso corpo interagem com as nossas células e podem causar doenças.
Microbiota é o conjunto de microrganismos em um determinado local. A microbiota humana seria o conjunto de microrganismos que habitam o nosso corpo. São as famosas “flora intestinal”, “flora vaginal”… Que de flora não têm nada, pois não temos nenhuma planta crescendo dentro de nós. Já o microbioma humano é o conjunto dos genomas desses microrganismos. Ou seja, a soma do material genético (DNAs ou RNAs) de todos os microrganismos que vivem conosco.
O Projeto Super-Organismos
Desde então, há uma linha científica de entendimento dos seres humanos como um conjunto de células microbianas e humanas. A paisagem genética humana seria um agregado dos genes do genoma humano e do microbioma, e características metabólicas humanas seriam uma mistura de traços humanos e microbianos.
Isso pois esses pequenos seres fazem muitas contribuições funcionais ao nosso organismo, como a digestão de nutrientes inacessíveis, síntese de vitaminas, renovação de células epiteliais do intestino, desenvolvimento e ativação do sistema imunológico, determinação do tamanho do coração e até influências no comportamento.
O Projeto Biota Beats
Ciente das inúmeras possibilidades de atuação da nossa microbiota, o laboratório de biologia de comunidades da EMW Street Bio desenvolveu um projeto inovador no iGEM de 2016: um toca-discos microbiano projetado para converter os microrganismos do seu corpo em som, o Biota Beats. Ele usa um algoritmo próprio para detecção da distribuição dos organismos inoculados e conversão desse padrão em sons.
O iGEM é uma competição internacional de engenharia de sistemas biológicos criada pelo MIT que, anualmente, promove o encontro de equipes de universidades de todo o mundo para apresentarem projetos de biologia sintética. Para participar é necessário montar uma equipe com estudantes de graduação e/ou pós-graduação, e o Brasil já teve alguns bons representantes!
Se quiser descobrir quais sons a sua microbiota faria, é possível acessar o site do Biota Beats e ouvir a música produzida por microrganismos dos pés, genitália, umbigo, axilas, boca e uma combinação de todas essas amostras de doadores do mundo inteiro! E aí, já dá para arriscar uma carreira musical internacional?
Apesar de termos uma ideia da capacidade musical dos nossos microrganismos, ainda não é possível definir se eles têm o mesmo gosto musical que nós. Mas sabendo que o corpo humano possui a mesma proporção de células humanas e bactérias, não vai ser difícil arrumar um par para dançar.
Cite este artigo: CORTÊS, D. A. O som da microbiota humana. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em:<https://profissaobiotec.com.br/o-som-da-microbiota-humana-produzir-musicas-a-partir-de-microrganismos/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências:
BIOTA BEATS. EMW Streetbio. Página inicial. Disponível em: <http://biotabeats.org/intro.html>. Acesso em: 05 de ago. de 2021.
KOSKINEN, Kaisa et al. First insights into the diverse human archaeome: specific detection of archaea in the gastrointestinal tract, lung, and nose and on skin. MBio, v. 8, n. 6, p. e00824-17, 2017.
SENDER, Ron; FUCHS, Shai; MILO, Ron. Revised estimates for the number of human and bacteria cells in the body. PLoS biology, v. 14, n. 8, p. e1002533, 2016.
TURNBAUGH, Peter J. et al. The human microbiome project. Nature, v. 449, n. 7164, p. 804-810, 2007.