Ao longo dos anos, a ciência trouxe inúmeros progressos para a sociedade. Homens, mulheres, crianças, adultos, idosos, todos nós nos beneficiamos com os diagnósticos, tratamentos, produtos e serviços resultantes dos avanços científicos! Mas, no caso das mulheres, esses avanços possibilitaram também mais liberdade, empoderamento e autonomia. O Profissão Biotec destaca a seguir como a ciência impacta positivamente a vida das mulheres.
1- Pílula anticoncepcional: a escolha de ser mãe
A pílula anticoncepcional, lançada na década de 1960, foi um marco para a liberdade e independência feminina. Por meio da pílula anticoncepcional, as mulheres ganharam a possibilidade de decidir sobre seu futuro reprodutivo, decidindo o melhor momento para engravidar ou simplesmente evitando a maternidade (para aquelas que não desejavam ser mães).
A pílula anticoncepcional, ou anticoncepcional oral, é baseada na utilização de hormônios sintéticos (estrogênio e/ou progesterona), que atuam como reguladores do ciclo menstrual e inibem a ovulação. As primeiras pílulas eram grandes “bombas hormonais”, mas os avanços científicos permitiram que as pílulas atuais diminuíssem a quantidade de hormônio usada, reduzindo também os efeitos colaterais.
Além de atuar como método contraceptivo (eficácia em torno de 98%), a pílula pode auxiliar na redução das cólicas menstruais e da tensão pré-menstrual (TPM), regular o ciclo menstrual, melhorar casos de acne ou disfunções hormonais, e também é utilizada para tratar casos de endometriose ou síndrome do ovário policístico.
Atualmente, existem variações de métodos contraceptivos hormonais, como:
- Pílula do dia seguinte (pílula de emergência): indicada para casos de abuso sexual ou falha dos métodos contraceptivos usados (em todos os casos é necessária a orientação médica para o uso);
- Anticoncepcionais injetáveis: injeções mensais ou trimestrais que apresentam efeito prolongado;
- Anticoncepcionais aderentes: pequenas tiras aderentes que liberam os hormônios gradativamente e podem ser trocadas semanalmente;
- Anticoncepcionais em gel ou spray: ainda estão em fase de estudos.
No entanto, a ciência busca o aperfeiçoamento dessas pílulas, pois elas ainda apresentam efeitos colaterais graves (mesmo que bastante raros), como aumento do risco de embolia pulmonar, trombose e acidente vascular cerebral.
Além disso, as pílulas são contraindicadas para pacientes com doenças hepáticas, tromboembólicas, neoplásicas, metabólicas, neurológicas e cardiovasculares. Contudo, considerando que os anticoncepcionais são os medicamentos mais estudados ao longo da história, os cientistas afirmam que, quando utilizada sob orientação médica, os benefícios superam os riscos e garantem à mulher a autonomia do planejamento familiar.
2- Reprodução assistida: a luta contra o relógio biológico
Os avanços na área da biotecnologia e engenharia genética possibilitaram a gestação de mulheres com problemas de infertilidade, além de ajudar as que desejam adiar a maternidade, os casais homossexuais, as mulheres que desejam uma gestação independente (utilizando gametas masculinos de doador anônimo) e em casos de oncofertilidade (infertilidade causada por tratamento oncológico).
A reprodução assistida consiste em um conjunto de técnicas que permitem a manipulação de gametas e a fecundação humana. Dentre as técnicas mais utilizadas na reprodução assistida, destacam-se:
– Fertilização in vitro (FIV): Técnica na qual a mulher é submetida a tratamentos hormonais que estimulam a liberação de óvulos, que são coletados e posteriormente combinados aos gametas masculinos in vitro. Após a fecundação e formação dos embriões (todas essas etapas ocorrem em laboratório, sob condições controladas), ocorre a implantação no útero da mulher.
– Inseminação artificial intrauterina (IIU): Mais conhecida como inseminação artificial, consiste na introdução artificial de espermatozoides no útero da mulher. Procedimento indicado para mulheres que apresentam anovulação (ausência de ovulação), ovulações pouco frequentes ou infertilidade idiopática (sem causa aparente).
– Congelamento óvulos: A criopreservação de óvulos é uma opção que permite a preservação das células reprodutivas, por tempo indeterminado, sem perdas significativas durante o processo de descongelamento.
– Doação de óvulos: No Brasil, a doação de óvulos é anônima e sem
fins lucrativos, e pode beneficiar mulheres que não possuem óvulos com a qualidade ou quantidade ideal, mulheres em menopausa ou que passaram por tratamentos oncológicos.
3- Tecidos inteligentes: liberdade em qualquer período do mês
Os avanços tecnológicos na indústria têxtil, especialmente os tecidos absorventes, facilitaram a vida das mulheres, principalmente as que praticam atividade física. Dados indicam que uma em cada quatro mulheres abandonam o esporte durante a adolescência devido ao medo de praticarem exercícios durante o período menstrual.
A linha de roupas com tecnologia absorvente, lançada por empresas como a Pantys, utiliza matéria prima biodegradável, forro absorvente, além de serem respiráveis e antibactérias, podendo ser usada durante o período menstrual e, principalmente, durante a prática esportiva.
Tecnologias como essa conferem maior inclusão, pois não limitam as mulheres no seu período menstrual, conferindo liberdade para a prática de qualquer tipo de atividade, sem restrições.
4- “Femtech”: a tecnologia voltada para o bem estar da mulher
As Femtechs são startups que elaboram soluções para as necessidades femininas. Estudos indicam que as Femtechs devem movimentar em torno de US$ 50 bilhões já em 2025. E, considerando que as mulheres representam mais da metade da população brasileira, as Femtechs possuem um grande mercado para ser explorado e receber investimentos.
Dentre os softwares, diagnósticos, produtos e serviços oferecidos pelas Femtechs, os mais comuns são os aplicativos que monitoram o ciclo menstrual, a fertilidade, a menopausa e até mesmo a amamentação. Um dos aplicativos mais famosos, o Clue (para acompanhamento de períodos menstruais), possui mais de 8 milhões de usuárias em todo o mundo.
O Brasil também tem se destacado no mercado das Femtechs. É o caso da Gestar, femtech que conecta profissionais da área de saúde a gestantes e mães, fornecendo informações sobre gestação e parto humanizado. Além da Oya Care, que oferece o exame de hormônio antimülleriano (que indica a fertilidade feminina), facilitando o planejamento familiar e a Ziel Biosciences, uma Femtech que oferece soluções acessíveis e individualizadas para diagnóstico e tratamento do câncer feminino. O Profissão Biotec inclusive já entrevistou a fundadora dessa empresa!
A pílula anticoncepcional, as técnicas de reprodução assistida, os tecidos inteligentes e as Femtechs são apenas alguns exemplos de como a ciência e os avanços biotecnológicos podem ser usados a favor da qualidade de vida das mulheres. Atualmente, existe todo um mercado voltado para o desenvolvimento e produção de produtos e serviços exclusivos para o público feminino. É a ciência ouvindo as necessidades da mulher e priorizando o seu conforto, bem estar e independência.
* Nem o Profissão Biotec nem a autora foram beneficiados de alguma forma para falar sobre as marcas citadas no texto.
Cite este artigo:
LOPES, B. P. Como a ciência impacta positivamente a vida das mulheres. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/como-a-ciencia-impacta-positivamente-vida-das-mulheres/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências:
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– Brandt GP, et al. Anticoncepcionais hormonais na atualidade: um novo paradigma para o planejamento familiar. Revista Gestão & Saúde, 2018. Disponível em < https://www.herrero.com.br/files/revista/fileffb43b6252282b433e193bacf91d43f7.pdf> Acesso em 07 de fevereiro de 2022.
– Centro de Reprodução Humana Bruno Born. Congelamento de óvulos e espermatozoides (congelamento de gametas). Disponível em <https://www.hbb.com.br/crh/> Acesso em 07 de fevereiro de 2022.
– Eretz Bio. Femtech: Conheça 3 tendências que podem transformar a saúde da mulher. Disponível em < https://eretz.bio/conteudos/femtech-saude-da-mulher-inovacao/ > Acesso em 07 de fevereiro de 2022.
-Lage, A. Como a pílula anticoncepcional moldou o mundo em que vivemos hoje. Revista Galileu, 2015. Disponível em <https://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2015/05/55-anos-da-pilula-anticoncepcional-como-ela-moldou-o-mundo-em-que-vivemos-hoje.html > Acesso em 07 de fevereiro de 2022.
-Lopes, MB. Cinquenta anos da pílula anticoncepcional. Universidade Federal Fluminense, 2014. Disponível em < https://app.uff.br/riuff/bitstream/handle/1/4823/Monografia%20final%20corrigida%20catalografada.pdf;jsessionid=BEA3DAD077DD48DAC41669334974D6B6?sequence=1 > Acesso em 07 de fevereiro de 2022.
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– Nayeri, F. Fenômeno ‘femtech’: startups com soluções para mulheres ganham mercado. Revista Exame, 2021. Disponível em < https://exame.com/pme/fenomeno-femtech-startups-com-solucoes-para-mulheres-ganham-mercado/ > Acesso em 07 de fevereiro de 2022.
– Proença, C. 6 femtechs brasileiras que você precisa conhecer. Terra, 2021. Disponível em <https://www.eql.com.br/empreendedorismo/2021/11/6-femtechs-brasileiras-que-voce-precisa-conhecer/ > Acesso em 07 de fevereiro de 2022.
– Scarmanhã, BOSG, et al. Os avanços biotecnológicos e da engenharia genética: sob a perspectiva da reprodução humana assistida e seus reflexos no direito de família. RJLB, 2019. Disponível em < https://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2019/3/2019_03_0259_0279.pdf> Acesso em 07 de fevereiro de 2022.
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