Desde o início de 2020, vivemos uma situação que muitos nem imaginavam que fosse possível ocorrer nos dias atuais. A pandemia “quebrou as pernas” de muita gente das mais diversas formas possíveis. A única maneira de amenizar a disseminação viral, por muito tempo, foi o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras e luvas. E também por meio do distanciamento social.
No entanto, um ano após o início da pandemia, já era possível observar que a situação havia causado problemas para a saúde humana e para o meio ambiente. O aumento no uso de EPIs contribuiu para a redução da possibilidade de contaminação entre pessoas, porém, também influenciou o aumento do problema ambiental com a presença de poluentes, como o plástico.
Por outro lado, a pandemia não causou apenas impactos negativos ao meio ambiente. Nos meses iniciais, por exemplo, observou-se também a redução na emissão de poluentes, principalmente gasosos.
O impacto positivo da pandemia no meio ambiente
Por mais contraditória que seja, a afirmação que houve impactos positivos para o meio ambiente com a pandemia é verdadeira. Porém, esses impactos ocorreram em curto prazo, somente sendo observados no primeiro semestre da pandemia quando o lockdown foi mais praticado. Mesmo sendo “pequenos”, esses impactos ambientais positivos indicam que a situação ambiental atual ainda é reversível. Só que, para isso, é necessário comprometimento das nações e da população em todo o mundo.
No período de lockdown, de março a outubro de 2020, foram observadas modificações ambientais positivas. Boa parte delas estão relacionadas à diminuição na emissão de gases poluentes (por exemplo, CO2 e NO2), que possibilitou a recuperação da camada de ozônio e a melhora da qualidade da água (especificamente a redução da acidificação, que é causada devido à presença de gases poluentes na atmosfera).
Outro problema ambiental amenizado foi a poluição sonora na terra e nas águas, essa a qual prejudica a vida marinha. A diminuição da poluição sonora ocorreu porque houve redução do barulho na água devido à diminuição do tráfego aquático. Também foi possível observar que a redução da interação entre a vida humana e a vida selvagem levou ao aumento da movimentação de algumas espécies, enquanto outras com risco de extinção pareceram ressurgir. A redução das atividades humanas também contribuiu para a recuperação da vegetação, mesmo que parcial.
Essas modificações positivas no período do lockdown demonstram o quanto nós humanos estamos contribuindo para prejudicar o nosso planeta. E também enfatizam o quanto nossas atitudes e formas de viver devem ser repensadas para contribuir para a recuperação da Terra.
O impacto negativo da pandemia no meio ambiente
As consequências negativas da pandemia sobre o meio ambiente parecem ter sido mais alarmantes e extensas que as positivas. O impacto positivo da pandemia sobre o meio ambiente estava relacionado à redução da circulação de pessoas direta ou indiretamente. Mas, ainda no segundo semestre de 2020, as atividades humanas começaram a voltar a níveis pré-pandêmicos. E, com isso, o lado positivo foi deixando de existir.
Em 2021, a emissão de CO2 (um dos principais gases relacionados ao efeito estufa e um dos mais eliminados em consequência de atividades humanas) havia voltado aos níveis pré-pandêmicos. E, com a volta de seu aumento e o de outros gases, a poluição do ar voltou aos seus níveis “normais”, os quais tentam-se reduzir para o bem da saúde humana, animal e do planeta.
Outro impacto negativo que chamou, e ainda chama, atenção nesse período de pandemia é a poluição da água, que foi usada pelas pessoas e desprezada de volta ao meio ambiente na forma de esgotos. Quando realizada a avaliação dos esgotos, foi observado que houve aumento drástico nos níveis de desinfetantes, sabões e detergentes. De maneira similar, a concentração de medicamentos antivirais e antimicrobianos nas águas também aumentou. A presença desses produtos no ambiente aquático pode ser tóxica para as espécies animais e vegetais.
Somado a esse problema, há o agravamento da crise dos antimicrobianos, pois a presença de medicamentos antimicrobianos no ambiente contribui para o aumento de microrganismos resistentes às drogas existentes. Isso intensifica a preocupação acerca das bactérias super-resistentes a antibióticos.
Mesmo com esses diversos problemas ambientais causados pela pandemia, o acúmulo de plástico vem sendo tratado como o maior deles.
O problema do plástico
O plástico é um material excelente para o uso, pois apresenta baixo custo, é conveniente e versátil (pode ser manipulado para as mais diversas finalidades e formas). A durabilidade do produto também já foi vista como um de seus principais pontos positivos, alavancando o seu uso. No entanto, desde o final do século passado, o acúmulo de plástico vem preocupando os cientistas e ambientalistas. Até o momento, os primeiros plásticos consumidos pelos homens ainda permanecem em algum local do planeta, pois não foram degradados.
A preocupação com esse material ocorre porque ele já foi observado até em ambientes não ocupados pelo homem e prejudicando a vida animal. Mas, apesar dessas situações preocupantes, o que mais aflige os cientistas e ambientalistas é que o enorme consumo de plástico não é sustentável. A esse problema, ainda é somado o fato que muitos produtos plásticos são utilizados apenas uma vez e descartados em seguida, como acontece com as luvas e máscaras.
Além disso, os plásticos convencionais, como polipropileno e poliéster, não são eliminados do planeta, sendo apenas reduzidos a pequenas moléculas invisíveis ao olho nu, conhecidas como nanopartículas de plástico.
Mas qual a relação do problema do plástico no meio ambiente com a pandemia da Covid-19? Bom, a relação está diretamente ligada ao uso dos EPIs que contribuíram para amenizar a dissipação viral. O que muita gente não sabe é que as máscaras e luvas usadas para nos proteger do SARS-CoV-2 são feitas de plásticos não recicláveis e não reaproveitáveis. Não devemos parar de usar as máscaras por conta do meio ambiente (pois isso depende de vários fatores), mas é necessário ter consciência do uso.
Para se ter noção, em 2021, foi apontado que, globalmente, são utilizados e descartados 65 bilhões de luvas, 129 bilhões de máscaras e 3,4 bilhões de faceshields por mês. Esse aumento inesperado no uso dos EPIs e por mais tempo do que se previa pode contribuir fortemente para aceleração da poluição global por plástico, caso medidas pré-pandêmicas de contenção do uso desse material não sejam colocadas em prática.
O plástico já era um problema ambiental muito antes de surgir a pandemia e a necessidade de usarmos as máscaras no dia a dia. Nós nos tornamos dependentes desse material, então precisamos desenvolver uma forma de degradar o plástico, por meio da ciência, em um período mais curto de tempo.
Aos que dizem que a pandemia só trouxe consequências negativas, percebemos que não foi bem assim. O conhecimento científico de que é possível reverter ou amenizar problemas ambientais causados pelo ser humano pode dar um novo rumo às formas de administração desses problemas!
Cite este artigo:
LOPES, N. R. Meio ambiente: impactos negativos e positivos da pandemia. Revista Blog do Profissão Biotec, v.9, 2022. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/meio-ambiente-impactos-negativos-positivos-pandemia/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências
PARKER, L. How to stop discarded face masks from polluting the planet. National Geographic (2021). Disponível em: <https://www.nationalgeographic.com/environment/article/how-to-stop-discarded-face-masks-from-polluting-the-planet>. Acesso em: fev. 2022.
SILVA, A. L. P. et al. Implications of COVID-19 pandemic on environmental compartments: Is plastic pollution a major issue? Journal of Hazardous Materials Advances, v. 5, p. 100041, fev. 2022. DOI: https://doi.org/10.1016/j.hazadv.2021.100041. Acesso em: mar. 2022.
Fonte da imagem destacada: Pixabay.