A tecnologia de sementes sintéticas (Synseeds) é uma ferramenta potente para garantir a viabilidade no desenvolvimento e cultivo de variedades de plantas.

Quando falamos sobre algo sintético, nos vem à cabeça algum produto que foi criado de forma artificial, utilizando determinados componentes, mas que se assemelha muito à sua forma natural, como o caso do couro sintético. Cientificamente, o termo biologia sintética é comumente utilizado para se referir ao uso de técnicas de engenharia genética e bioquímica para modificar células ou organismos inteiros no propósito de produzir substâncias novas ou até mesmo produzir vida a partir de materiais não vivos.

No campo da biotecnologia vegetal, o termo sintético é empregado para se referir a uma tecnologia moderna para a produção de sementes sintéticas (SynSeed), que vem sendo utilizada na agricultura e apresenta vantagens para a produtividade agrícola. Mas como ela funciona? Confira no texto de hoje.

Synseeds

O termo Synseeds, do inglês Synthetic Seeds, se refere a uma tecnologia inovadora para a produção de sementes artificiais ou sintéticas. Uma semente sintética é a junção de um propágulo vegetal (células, tecidos ou órgãos que dão origem à uma nova planta) envolto por uma cápsula artificial, formando uma estrutura capaz de gerar uma nova planta e que apresenta a mesma função de uma semente cultivada de forma convencional. Essa tecnologia não se restringe apenas ao uso de sementes, podendo ser utilizadas quaisquer partes do vegetal que sejam capazes de regenerar uma nova planta, como brotos, agregados celulares, segmentos nodais e foliares. 

A cápsula geralmente é formada pela combinação de alginato de sódio e cloreto de cálcio, envolvendo e protegendo o embrião de forma eficiente. O principal objetivo  desta ferramenta é garantir que, no caso das sementes, o embrião consiga se desenvolver de forma saudável para que a planta seja cultivada em laboratório ou no campo. Para isso, também é recomendado que sejam adicionados hormônios e outras substâncias nutritivas dentro da cápsula.

Estrutura de uma semente sintética produzida pela técnica Synseeds.
Estrutura de uma semente sintética produzida pela técnica Synseeds. #ParaTodosVerem: a semente sintética é ilustrada por uma estrutura circular. No interior, o propágulo da planta (embrião somático, tecido embriogênico ou brotos) está representado em verde. Ao seu redor, na parte intermediária, está representada a matriz em amarelo, na qual podem estar presentes substâncias nutritivas para o desenvolvimento da planta. A cápsula, em marrom, envolve toda a matriz onde a semente está mergulhada, sendo composta principalmente de alginato de sódio e cloreto de cálcio. Fonte: traduzido de Ghosh et al. 2019

Existem dois tipos de sementes sintéticas, descritas abaixo:

Sementes sintéticas dessecadas: múltiplos embriões somáticos são dessecados e  encapsulados em polioxietileno (Polyox), o qual tem a função de impedir o crescimento de microrganismos.

Sementes sintéticas hidratadas: um único embrião é encapsulado em uma cápsula de hidrogel. Esta modalidade é recomendada para sementes sensíveis à dessecação e para plantas que têm sementes pouco viáveis ou com baixas taxas de germinação.

Para produzir sementes sintéticas, os seguintes tipos de tecidos podem ser utilizados:

  1. Embriões somáticos: são embriões obtidos a partir de células somáticas que geram plantas geneticamente idênticas (clones). Nesse caso, podem ser usados embriões somáticos que foram geneticamente modificados e contém características de interesse.
  2. Tecidos embriogênicos: são melhores utilizados para propagação de clones e engenharia genética, no entanto sua manutenção é mais trabalhosa e cara.
  3. Meristemas apicais: nesse caso, esses tecidos precisam ser encapsulados com substâncias que promovem o desenvolvimento de raízes.
  4. Protocormos: estruturas oriundas da germinação de sementes de orquídeas que apresenta uma estrutura vegetativa que dará origem ao primeiro ramo da planta.
Sementes de tomate sintéticas produzidas pela tecnologia Synseeds
Sementes de tomate sintéticas produzidas pela tecnologia Synseeds. #ParaTodosVerem: na imagem estão oito sementes sintéticas de tomate. As sementes, representadas na cor marrom, estão no interior de cápsulas de alginato de sódio na cor translúcida. Fonte: Adaptado de Porter, 2008.

Por que usar sementes sintéticas?

Uma das principais razões de se utilizar a tecnologia Synseeds é que a proteção fornecida pelas cápsulas permite que as sementes possam ser armazenadas por mais tempo sem que a sua viabilidade seja afetada. Além disso, as cápsulas evitam que as sementes sejam infectadas por patógenos ou atacadas por ervas-daninhas e pragas, garantindo um crescimento e desenvolvimento saudáveis. Atualmente, a tecnologia Synseeds é utilizada principalmente para o cultivo do mamão papaia em países tropicais, uma vez que esta planta enfrenta sérios problemas com patógenos que infectam as sementes.

Outra vantagem é evitar a dessecação, que ocorre muitas vezes em sementes cultivadas de forma natural. Ainda, o uso de sementes sintéticas é uma alternativa para cultivar muitas espécies ou variedades de plantas de interesse econômico  que apresentam sementes que são mais difíceis de serem propagadas naturalmente, como é o caso da uva.

Para o setor agrícola, a tecnologia de sementes sintéticas permite aumentar a produtividade em larga escala, pois a multiplicação vegetal é mais rápida, e  apresenta um baixo custo estimado. Outro ponto importante é que a uniformidade genética é mantida por mais tempo nas sementes sintéticas, o que não acontece bem nas técnicas de cultura de tecidos vegetais. Isto auxilia nos processos de preservação de sementes de plantas nos bancos de germoplasma vegetal

O setor de  produção de plantas ornamentais também se beneficia da tecnologia de Synseeds, pois é desejável manter as características marcantes de cada variedade comercializada para atender à procura dos amantes e colecionadores de plantas. Um exemplo é o cultivo da Rosa-do-Deserto no Brasil, onde a dispersão natural por sementes acaba gerando uma variabilidade genética muito grande. Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vêm trabalhando com a tecnologia de sementes sintéticas no intuito de controlar melhor a propagação de variedades de interesse sem perda de características desejáveis.

Produção de sementes sintéticas da Rosa-do-Deserto.
Produção de sementes sintéticas da Rosa-do-Deserto. #ParaTodosVerem: da esquerda para a direita: na primeira imagem temos várias sementes da Rosa-do-Deserto, na cor marrom, que foram tratadas por assepsia, e há a identificação “semente pós assepsia”. Na segunda imagem, existem várias sementes pré-germinadas, apresentando um pequeno broto verde. e há a identificação “semente pré germinada”. A terceira imagem demonstra a produção da cápsula de alginato. Nela, está presente um becker transparente contendo as sementes misturadas ao alginato. Ao lado do becker, a mão de um cientista com luva ilustra a manipulação do alginato em outro recipiente e há a identificação “formação de cápsula”. Na última imagem estão representadas as sementes sintéticas (em verde e marrom) encapsuladas em alginato (transparente) dentro de uma placa de petri, e há a identificação “semente sintética”. Fonte: Nietsche et al. 2021.

Ainda que a produção de sementes sintéticas seja promissora, algumas limitações trazem desvantagens para a técnica. Uma delas é a baixa taxa de sobrevivência de embriões somáticos de diversas espécies. Em muitos casos há um desenvolvimento imaturo dos embriões, o que gera plantas deficientes no seu crescimento e desenvolvimento. Outro desafio é que as cápsulas devem ser protegidas do ressecamento em seu estoque e a concentração de seus componentes deve ser cuidadosamente padronizada, pois são fatores limitantes para o desenvolvimento do embrião.

A tecnologia de sementes sintéticas traz uma promessa interessante de auxiliar na produção de alimentos mundialmente, acelerando o crescimento de variedades de plantas de forma mais viável. Além disso, essa ferramenta traz uma excelente alternativa para que sementes sejam transportadas para diversas regiões e países, sem que necessitem passar por processos de quarentena para certificar se estão viáveis ou contaminadas com patógenos. Tudo isso, com a participação dos avanços na área de biotecnologia vegetal.

Perfil Fabiano
Texto revisado por Natália Lopes e Ísis V. Biembengut

Cite este artigo:
ABREU, F. Tecnologia de Sementes Sintéticas: a inovação da biotecnologia vegetal. Revista Blog do Profissão Biotec. V. 10, 2023. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/tecnologia-sementes-sinteticas-inovacao-da-biotecnologia/>. Acesso em: dd/mm/aaaa.

Referências

BHATIA, Nancy. What is synthetic seed technology? Disponível em: <https://labassociates.com/what-is-synthetic-seed-technology>. Acesso em 20 de abril de 2023.
FAISAL, Mohammad; ALATAR, Abdulrahman A. Synthetic seeds. Springer, Cham, https:/doi. org/10.1007/978-3-030-24631-0, 2019.
NIETSCHE, Silvia et al. Cultivo e Manejo da Rosa-do-Deserto. Brazilian Journals Editora, 1ª edição, 187 p, 2021.
SINGH, Anjali. ​Synthetic Seeds: Definition and Applications. Disponível em: <https://www.plantcelltechnology.com/blogsynthetic-seeds-definition-and-applications/>. Acesso em 20 de abril de 2023.
Fonte da imagem destacada:

Sobre Nós

O Profissão Biotec é um coletivo de pessoas com um só propósito: apresentar o profissional de biotecnologia ao mundo. Somos formados por profissionais e estudantes voluntários atuantes nos diferentes ramos da biotecnologia em todos os cantos do Brasil e até mesmo espalhados pelo mundo.

Recentes

Assine nossa newsletter

Ao clicar no botão, você está aceitando receber nossas comunicações.