A acne é uma condição dermatológica causada pelo bloqueio, inflamação ou infecção dos folículos pilossebáceos, ou das glândulas sebáceas da pele. Sua aparência pode variar desde cravos brancos ou pretos até a formação de pústulas, cistos e nódulos, presentes frequentemente na face, testa, peito, costas e ombros.
Existem 4 tipos de acne, que variam conforme a gravidade da condição. Embora seja mais comum em adolescentes, em função dos hormônios estrógenos e andrógenos incidentes na puberdade, essa doença pode afetar todas as idades, uma vez que é influenciada por hábitos alimentares e de higiene. Atualmente, a acne é um sério agravante sobretudo para distúrbios de imagem, saúde mental e bem-estar psicológico.
Os casos mais graves, classificados como grau III e IV, são tratados com antibióticos, com intuito de matar as bactérias presentes nos folículos inflamados, ou com um derivado da vitamina A (a isotretinoína, conhecida pelo nome comercial Roacutan), que induz a morte dos sebócitos, células da epiderme que produzem o sebo.
O grande problema desses tratamentos consiste nos fortes efeitos colaterais, como o impacto negativo sobre a homeostase da microbiota da pele, ou seja, os antibióticos afetam o equilíbrio da comunidade de microrganismos que naturalmente vivem na nossa pele e são benéficos para nosso corpo. Isso ocorre porque o antibiótico é incapaz de selecionar especificamente sobre qual bactéria ele deve agir. A isotretinoína, por sua vez, pode provocar descamação extrema da pele.
Biotecnologia e o tratamento de acne
Nesse panorama, cientistas do Laboratório de Biologia Sintética Translacional da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona (Espanha) buscam uma solução alternativa para esses tratamentos custosos.
Os resultados publicados na Nature Biotechnology, parecem promissores. A ideia central da pesquisa é editar o genoma da bactéria Cutibacterium acnes para que ela secrete a proteína NGAL, que atua como mediadora da isotretinoína, resultando na redução da produção do sebo sem danificar os sebócitos, explica Nastassia Knödlseder, principal autora do trabalho.
A grande vantagem dessa abordagem é o uso da C. acnes, uma vez que é um microrganismo naturalmente presente na nossa pele, evitando a perturbação na microbiota dérmica. Outras vantagens são sua localização profunda nos folículos capilares – praticamente onde o sebo é liberado – o que potencializa o efeito do tratamento, bem como o contato próximo com alvos terapêuticos. Ademais, sua capacidade comprovada de se enxertar à pele humana é um ponto extremamente positivo, porque também facilita a eficácia do medicamento.
Marco para a engenharia genética
Um aspecto muito interessante da pesquisa é o sucesso na edição gênica desse microrganismo, visto que até então, a C. acnes era considerada uma bactéria de difícil manipulação genética. Isso abre caminho para diversas possibilidades a serem exploradas no futuro, pois esse microrganismo pode ser chave para terapias vivas de diversas condições dermatológicas, em função da sua presença natural nos folículos capilares da pele.
Para a manipulação do genoma, a equipe de pesquisa focou em potencializar a entrega de DNA para a célula, bem como na estabilidade dessa molécula. Os cientistas consideraram medidas regulatórias da expressão gênica da proteína NGAL, através de uma estratégia de “biocontenção”, isto é, evitando o uso de elementos genéticos móveis, plasmídeos ou genes de resistência a antibióticos. Assim, a C. acnes sintética resultante torna-se segura para ser, de fato, aplicada em terapias em humanos, ao possuir um alvo específico.
Por enquanto, o estudo permanece em andamento. Os testes foram realizados em linhagens celulares in vitro e em camundongos. Apesar dos resultados positivos e do potencial terapêutico, as características da pele de camundongo são bem distintas das da pele humana; por isso, é importante prosseguir a pesquisa, visando o teste em modelos ainda mais verossímeis. Enquanto isso, a boa alimentação e alguns cuidados básicos diários com higiene ainda são as melhores soluções para manter a saúde da pele.
O artigo pode ser lido em https://doi.org/10.1038/s41587-023-02072-4
Cite este artigo:
ROCHA, V. S. Biotecnologia, bactérias e um novo tratamento da acne. Revista Blog do Profissão Biotec, v. 11, 2024. Disponível em: <https://profissaobiotec.com.br/biotecnologia-bacterias-novo-tratamento-acne>. Acesso em: dd/mm/aaaa.
Referências Bibliográficas
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Smart skin bacteria are able to secrete and produce molecules to treat acne. Disponível em: <https://www.sciencedaily.com/releases/2024/01/240109121141.htm>. Acesso em: 6 jun. 2024.